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TAILÂNDIA
Falando aos bispos em visita «ad limina», João Paulo II disse que a Igreja, hoje, «dirige o seu olhar para a Ásia», onde os leigos estão a dar grande testemunho do Evangelho, seja nas comunidades tribais, ou junto dos pobres, refugiados, trabalhadores, doentes com SIDA e, sobretudo, em favor das mulheres e crianças gravemente ofendidas na sua dignidade humana, por uma autêntica indústria de exploração sexual».
Fez apelo às novas gerações e às famílias atingidas por «uma mentalidade contraceptiva que não só contradiz a verdade do amor conjugal, como conduz à aceitação do terrível crime que é o aborto».
E concluiu num apelo à Igreja para que saiba
acolher e apoiar as famílias constituídas por pessoas
de diferente educação religiosa.
SRI LANKA
João Paulo II recebeu em Castelgandolfo os bispos do Sri Lanka em visita «ad limina». Reconheceu o que a Igreja ali tem feito pela paz ao longo dos últimos 13 anos de guerra civil e acrescentou que a diversidade étnica, cultural e linguística é um tesouro a preservar, não um obstáculo a remover. Insistiu depois que as negociações são a única via correcta para enfrentar as questões que estão na base dos conflitos.
Louvou depois os bispos por se terem oferecido como
mediadores no conflito e todas as organizações cristãs
que deram apoio aos sem-abrigo, refugiados e vítimas dos
massacres. E que isso é ainda mais importante num país
de minoria católica onde o «pequeno fermento»
deve promover uma «efectiva solidariedade espiritual com
as outras religiões e em particular com a maioria budista».
IRLANDA
No domingo depois de chegar da Hungria, o Papa fez
apelo aos irlandeses que se dêem as mãos tendo a
coragem do diálogo e da compreensão recíproca
«pois é o único caminho para se chegar à
paz justa e estável». E acrescentou que isso é
ainda mais obrigatório quando parece claro que ambas as
partes desejam o fim das violências. Por fim, pediu para
as autoridades e para os que influenciam a opinião pública
a luz de Deus de modo que busquem «uma paz justa e verdadeira».
UGANDA
A Conferência Episcopal do Uganda dirigiu um apelo ao Governo de Kampala e a todos os cidadãos para que se empenhem, por todos os meios ao seu alcance, para encontrarem uma solução pacífica e estável para o conflito que ensanguenta o Norte do país.
O presidente da Conferência Episcopal, Mons. Paul Kalanda, e o cardeal Emmanuel Wamala, arcebispo de Kampala, em nome dos bispos ugandeses, exortam todos a envidar esforços para se chegar ao restabelecimento da paz, da segurança e da estabilidade na região de Acholi, abalada pela insurreição.
E apelam mesmo a uma acção militar
em favor do povo, que defenda todos os civis, proteja a vida dos
soldados e conduza, gradualmente, os rebeldes à aceitação
de um acordo de paz permanente.
BRASIL
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, D. Lucas Neves, e seis representantes de igrejas cristãs encontraram-se com o Chefe de Estado, Fernando Henriques Cardoso, para solicitar maior empenho do Governo na aplicação da reforma agrária.
Salientando que não basta que o Governo ordene a expropriação das terras mas é necessário uma reforma mais ampla, que resolva o problema de cinco milhões de famílias, estes representantes das Igrejas entregaram ao Presidenteo livro «Os pequenos possuirão a terra».
Aludindo às invasões pacíficas
de fazendas, por parte de camponeses sem terras, D. Lucas manifestou
o seu apoio se o objectivo for viabilizar uma expropriação
justa e sem violência.
VENEZUELA
A Igreja venezuelana espera com ansiedade que o Papa
João Paulo II anuncie, antes das comemorações
dos 500 anos de evengelização do país, que
terão lugar em 1998, a beatificação de José
Gregório Hernandez. Em Roma, estão a ser examinados
os três «milagres» atribuídos à
intercessão deste servo de Deus, um professor e médico
que parecia ser «uma liturgia em homenagem a Deus» pois
foi insigne testemunho do «mandamento do amor».
MÉXICO
O Núncio Apostólico arcebispo Girolano Frigione difundiu, em nome do Papa, uma mensagem referente aos sangrentos acontecimentos em várias localidades do México, com numerosos mortos e feridos, após recontros entre o exército popular revolucionário e as forças regulares mexicanas.
Afirma a mensagem que a Igreja repudia qualquer acto de violência como método para a resolução de conflitos sociais, já que, como disse Pio XII, é com a força da razão e não com as armas que a justiça avança.
Na mensagem divulgada em nome do Papa acrescenta-se
que somente através do caminho direito, do diálogo
e da boa vontade se poderá chegar à solução
dos problemas das populações, no respeito da justiça,
da paz e dos direitos humanos. E faz apelo à prudência
e à reconciliação.
ESTADOS UNIDOS
Joseph Bernardin, arcebispo de Chicago, anunciou que apenas lhe resta cerca de um ano de vida pois sofre de cancro no fígado, o que é incurável, e lhe dá um tempo de vida limitado. Com 68 anos, o cardeal Bernardin fez, no ano passado, uma cirurgia para tirar um cancro do pâncreas e continua com um tratamento de quimioterapia. O arcebispo de Chicago anunciou ainda que pretende continuar à frente da arquidiocese o maior tempo possível.
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ÁFRICA DO SUL - Um projecto afrikaner para a criação de uma República Independente Boer dentro do território da África do Sul até ao ano 2000 foi divulgado pelo porta-voz do Suiderland Aksie (Acção das Terras do Sul). A República Boer cobriria, segundo o projecto, os territórios do antigo Transvaal, Cabo e Estado Livre de Orange, bem como o Norte do Kwazulu-Natal. Na opinião dos partidários da República Independente tais territórios são "áreas historicamente propriedade da Nação Boer."
O presidente Nelson Mandela, depois de rejeitar esta pretensão,
considerada racista e separatista, optou por evitar confrontos
com a extrema direita branca e solicitou que fossem feitas propostas
concretas e a delimitação exacta do território
reclamado pela República Boer.
NAÇÕES UNIDAS - A Assembleia-Geral das Nações Unidas adoptou por esmagadora maioria o Tratado de Interdição dos Ensaios Nucleares (CTBT), possibilitando a sua ratificação pelos diversos Estados membros, apesar da oposição da Índia. As principais potências nucleares saudaram a aprovação do Tratado, considerado como um "passo crucial" para o fim da ameaça nuclear.
Para entrar efectivamente em vigor, o Tratado tem de ser ratificado
por um mínimo de 44 países, entrando em vigor 180
dias após essa ratificação.
BURUNDI - O arcebispo do Burundi, Mons. Joachim Ruhuna, foi assassinado no passado dia 9, quando o veículo em que seguia com mais seis outras pessoas - duas freiras, duas estudantes, a contabilista e o motorista - ter sido objecto de uma emboscada na província de Giteba (centro do país).
Entretanto, o motorista da viatura foi encontrado com vida. As autoridades levantam a hipótese de o corpo do Arcebispo Ruhuna ter sido atirado ao rio e de as duas estudantes terem sido feitas reféns.
O exército atribui o assassínio do Arcebispo do
Burundi, de etnia minoritária Tutsi, aos rebeldes hutus.
No entanto, os rebeldes acusam o exército de ter morto
aquele Prelado.
OSSÉTIA DO SUL - O Soviete Supremo (Parlamento)
da Ossétia do Sul proclamou esta região como República
Independente e convocou eleições presidenciais para
o próximo dia 10 de Novembro, apesar das advertências
em contrário efectuadas pela Geórgia (em cujo território
a Ossétia está integrada) e pela Rússia.
Esta proclamação faz regressar a região a
1990 quando idêntica tentativa conduziu à guerra
com a Geórgia.
BÓSNIA - Decorreram dentro do que auguravam as melhores previsões as eleições gerais na Bósnia efectuadas no passado dia 14, as primeiras depois da guerra. Pequenos incidentes assinalados um pouco por todo o território não fizeram diminuir o optimismo dos observadores internacionais e da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação Europeia), estado agora prevista a realização de uma nova cimeira (semelhante à de Dayton) a fim de solidificar o processo eleitoral e a paz na região.
Dos 150 mil refugiados com direito a voto nos locais de sua naturalidade, apenas 20 mil puderam exercer o seu direito, apesar dos esforços das tropas da Nato para assegurar a liberdade de circulação nas estradas. A afluência às urnas situou-se entre 60 e 70 por cento, atingindo os 85 por cento nas República Sérvia.
A contagem dos votos depositados em 144 locais começou
a ser feita logo após o fecho das urnas, sob vigilância
dos soldados da Ifor.
ITÁLIA - O líder regionalista Umberto Bossi, presidente da Liga do Norte, proclamou em Veneza a "independência da Padânia", uma região do Norte de Itália, banhada pelo rio Pó.
O acto, meramente simbólico, decorreu próximo da
Praça de São Marcos e dele constou, para além
da leitura solene da declaração de independência
e soberania da região, o desfile da "guarda nacional"
e a substituição da bandeira tricolor italiana pela
da Padânia.
HONDURAS - As Honduras comemoraram 170 anos de independência (na mesma data igual comemoração foi feita pela Guatemala, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica), apesar de a sua dependência do estrangeiro, nomeadamente económica, ser cada vez maior.
As Honduras, não obstante possuírem um solo rico em recursos naturais são um país mergulhado na pobreza; de facto, 70 por cento da sua população vive na miséria. A sua dívida externa atinge 3714 milhões de dólares e o Estado destina 35 por cento do orçamento ao pagamento dos juros de tal dívida.
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A Congregação Beneditina do Brasil está a celebrar o VI Centenário da constituição da Província Brasileira da Congregação Beneditina de Portugal e da elevação dos Mosteiros de São Bento do Rio de Janeiro e de Olinda, a Abadias.
Os Beneditinos estão entre as primeiras ordens a irem para o Brasil. O Mosteiro da Bahía foi fundado em 1581, tornando-se Abadia em 1584; o do Rio de Janeiro foi fundado em 1590 e o de Olinda entre 1586 e 1592; o de São Paulo em 1598, tornando-se Abadia em 1635. Com a formação da Província, os monges passaram a ter maior independência em relação a Portugal.
Em 1827, foi constituída a Congregação
Beneditina do Brasil. Hoje compreende, além das quatro
Abadias iniciais, outros cinco Mosteiros masculinos: Garanhuns,
Ponta Grossa, Brasília, Serra Clara e Fortaleza e quinze
Mosteiros femininos. São cerca de 200 monges e 280 monjas.
O Mosteiro do Rio de Janeiro foi elevado pela Santa Sé
à categoria de Abadia em 1907, confirmado em 1948, equiparando-se
a uma Diocese.
As Igrejas da Malásia, Singapura e Bruney decidiram preparar-se, conjuntamente, para o Jubileu do Ano Dois Mil. A Comissão, nomeada pela Igreja para coordenar as actividades nos três países, elaborou já um programa comum.
Singapura já iniciou o programa de preparação,
cabendo agora às comissões, a nível diocesano
e paroquial, prosseguir. A arquidiocese de Kuching, Malásia,
procurará envolver, de modo particular, as escolas católicas.
A diocese de Miri-Brunei decidiu consagrar a diocese a Nossa Senhora,
no ano de 1997, escolher a «Eucaristia» como tema para
1998 e a «Palavra de Deus» para 1999.
O Papa não irá a Sarajevo este ano, como era seu desejo, disse aos jornalistas o porta-voz da Santa Sé, Joaquim Navarro-Valls, no passado dia 6 de Setembro. A viagem efectuada à Hungria e a próxima viagem a França, ainda este mês, serão as últimas visitas pastorais deste ano para o Pontífice. «É cada vez mais improvável uma visita de João Paulo II a Sarajevo, em Outubro». No entanto, Sarajevo, Jerusalém e a Terra Santa continuam na agenda do Santo Padre, mas ainda não têm qualquer data fixada. Em 1997, o Santo Padre tem já agendadas deslocações à república Checa, Polónia, França, (por ocasião da XII Jornada Mundial da Juventude) e Brasil.
Segundo dados apresentados pelo Vaticano, o Brasil, México, Estados Unidos e Filipinas são os países mais católicos do mundo, tendo em conta o número de baptizados. A Itália, que há trinta anos ocupava o primeiro lugar encontra-se agora na quinta posição, continuando, no entanto, a ser o país mais «católico» da Europa. Em África, o Zaire ocupa a primeira posição, com os seus 21 milhões de baptizados. Entretanto, prevê-se que, depois do ano 2000, os fiéis muçulmanos tenham ultrapassado o número de católicos, que são cerca de um bilião, por motivo da explosão demográfica nos países islâmicos.
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Serve isto para justificar o título genérico que demos a este novo espaço da nossa «VP». Não se pretende - nem haveria lugar para isso - dar aqui explicações exaustivas das notícias do mundo que fazem os grandes títulos dos jornais ou abrem os espaços informativos da rádio e da televisão. O propósito é mais modesto: trata-se apenas de procurar um melhor entendimento das notícias, através de um enquadramento histórico que torne mais visível a causa das coisas. É o que vamos tentar fazer neste texto, a propósito de mais uma crise no Golfo Pérsico - agora chamado simplesmente Golfo-crise em que o problema curso teve, aparentemente, um papel predominante. E o mínimo que se pode dizer a respeito da situação do povo curdo é que se trata - ou deveria tratar-se de um espinho cravado na consciência da comunidade internacional.
Os cerca de sete milhões de curdos constituem há muito uma nação, no sentido de que partilham uma história comum, têm uma cultura própria, vivem há séculos no mesmo território e sempre lutaram pela constituição de um estado independente. A justeza desta reivindicação foi aliás plenamente reconhecida pelas potências vencedoras da primeira guerra mundial, que no Tratado de Sèvres, acordaram na criação de um Curdistão independente. Só que havia demasiados países interessados em impedir a realização deste acto de justiça, o qual significaria para eles a perda de parcelas de territórios que consideram seus, embora essas parcelas façam historicamente parte de uma unidade geográfica e cultural que é a pátria dos curdos. Esta pátria, o Curdistão, é ainda hoje, uma pátria repartida por vários estados onde, apesar der fórmulas estatutárias mais ou menos autonómicas, eles não conseguem sentir-se na casa a que têm direito. A Turquia, o Irão e o Iraque encarregaram-se, cada um a seu tempo, ao longo deste século, das maiores e mais dramáticas repressões dos movimentos independentistas curdos, mas ingleses, franceses, russos e americanos não podem alijar as suas responsabilidades morais e políticas neste drama que envergonha o mundo. E o mais grave de tudo é que, no decurso deste tempo, o povo do Curdistão se viu transformado em moeda de troca nos negócios políticos que os países da região se viam obrigados a realizar entre si.
É certo que, pelo menos nas circunstâncias presentes, os líderes políticos deste povo têm de assumir a sua parte de responsabilidade em mais um drama que atinge a comunidade que vive no Iraque. As suas divisões internas são um convite à ingerência e à manipulação por parte dos governantes de Bagdad e Teerão e a própria intervenção norte-americana, mais do que fundamentada no princípio da solidariedade, assumiu contornos de uma jogada eleitoral. Foi, mais uma vez, o povo curdo a pagar a factura das ambições de uns e dos interesses estratégicos de outros.
Esta não é, por certo, uma situação diferente das que vivem outras comunidades nacionais no mundo. Dá no entanto que pensar o facto de este drama, com quase um século de existência, não agitar as boas consciências morais e políticas cuja voz tanto se faz ouvir noutros casos e noutras circunstância.
| António José da Silva |
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