Apelo do Papa na Hungria

Católicos e Ortodoxos apostem na unidade

João Paulo II esteve na Hungria nos dias 6 e 7, sexta e sábado, na sua 73ª viagem apostólica, tendo ali deixado uma mensagem de apreço pelo povo húngaro e um vivo apelo à unidade dos cristãos, como acontecia no primeiro milénio.

O Papa foi acolhido com entusiasmo nas cidades de Budapeste, Pannonhalma e Györ mas não pôde encontrar-se com Alexis II, patriarca ortodoxo russo, como previra, pois este não compareceu. No entanto, em saudação de boas-vindas, o bispo Azstrik Varszegy, abade do mosteiro de Pannonhalma, garantiu ao Papa que o encontro entre as duas Igrejas será inevitável, acrescentando: «Continuarei a trabalhar para a união das Igrejas. Numa cristandade dividida, nós queremos ser irmãos de todos aqueles que procuram o caminho da unidade». E João Paulo II, «o Papa que veio do Leste», tudo tem feito para isso. A sua vontade de ir à Rússia, à República Checa, a Sarajevo, à Polónia e a Jerusalém, inscreve-se na determinação de abrir de par em par as portas da Igreja, seja em direcção ao mundo ortodoxo e anglicano, ou aos muçulmanos e a outros crentes.

_urante horas, o povo esperou o Papa à chuva, junto da Abadia de Pannonhalma que celebrava o seu milenário. A uma gente que se vê agora desiludida depois do passageiro optimismo que se seguiu à queda do comunismo, o Papa lembrou o testemunho de tantos mártires e apelou a que, «neste momento histórico», permaneçam fiéis e saibam zelar o seu rico património religioso.

Recordou depois que este mosteiro sempre actuou como mediador entre a Igreja de Roma e as Igrejas Ortodoxas e pediu aos 100 monges que «trabalhem constantemente em favor da unidade dos cristãos», acrescentando que o movimento ecuménico muito ganhará com isso: «É a primeira vez que o Bispo de Roma vem visitar-vos, a vós que desde as origens permanecestes estreitamente ligados à Fé Apostólica». (...)«O início da vossa história leva-nos à época na qual o Oriente e o Ocidente cristãos ainda não estavam divididos. Portanto comemorar o milénio da fundação de Pannonhalma significa remontar com a memória àquela situação de unidade entre crentes que caracterizou o primeiro milénio. As vossas raízes afundam naquela época abençoada. Um passado vos empenha, dando segurança para o vosso futuro».

Recordou depois a influência beneditina no nascimento da Europa ao assinalar que nada se deve antepor ao amor de Cristo, «um amor crucificado e ressuscitado». E acrescentou: «E tu, comunidade beneditina de Pannonhalma,continua, como cidade situada sobre o monte, a ser fonte de luz para este território e para toda a nação. (...) Empenhai-vos no vosso ministério quotidiano a fim de favorecer a unidade dos cristãos, dialogando com todos. O movimento ecuménico pode beneficiar muito do vosso empenho no diálogo, na escuta e na promoção das convergências».

Fundada em 996, por monges beneditinos vindos de Praga, esta Abadia dedicada a S. Martinho é o mais antigo mosteiro da Hungria e recorda um tempo em que a cristandade ainda não estava dividida. Ali Carlos Magno fez construir uma igreja para lembrar a sua vitória contra os bárbaros e, em 996, o pai do rei Santo Estevão para aqui chamou os beneditinos. A igreja foi dedicada em 1001 e nela o rei Estevão I foi investido com a coroa que lhe havia sido enviada pelo Papa Silvestre II. A biblioteca tem mais de 350 mil volumes, além de valiosos manuscritos e incunábulos.

Esperança

Mais de 150 mil pessoas - húngaros, alemães, eslovenos e croatas - acorreram à celebração em Györ, fundada pelo rei Santo Estevão. João Paulo II recordou a história do cristianismo na Hungria e a identidade cultural deste povo, mas também os sofrimentos deste povo ao longo dos séculos, e especialmente em 1989. A todos exortou, então, para que permaneçam firmes, não se deixando quebrar pelas dificuldades. E apelou aos cristãos para que «combatam pela vida» num tempo em que «a sociedade de consumo ameaça a vida que nasce e a que se aproxima do fim». Na Catedral, o Papa prestou homenagem ao antigo bispo de Pannonhalma, Vilmos Apor, abatido em 1945 pelo Exército Vermelho por ter dado protecção às mulheres que fugiam da avidez dos militares soviéticos.

Aos 27 bispos da Conferência Episcopal, que haviam publicado uma carta pastoral sobre a crise do país em que apelam a «não ceder ao pessimismo nem à resignação», o Papa incentivou-os a apostarem na comunicação social, formando pessoas para neles trabalharem e assim assegurarem à Igreja uma voz que possa ser escutada por todos. Em situações de verdadeira degradação da vida social, económica e moral, como ali acontece, importa proclamar bem altyo: «Cristo chamou-nos à esperança e dá-nos a força para construir o futuro do país».

Na despedida, João Paulo II disse ao Presidente da República e outras autoridades que levava da Hungria a imagem de um povo que deseja ardentemente «construir um futuro de justiça e de paz para todos», um povo generoso e em cuja história «se reflecte a da Europa». E manifestou o desejo de que as outras nações da «grande casa comum» europeia saibam acolher e apoiar este povo no respeito pela riqueza que o caracteriza.


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