PONTOS DE VIDA

Consumismo

Princípio de mês num hiper Continente. Centenas de pessoas afadigadas, carrinhos repletos, filas nas caixas, à saída.

Na fila que me tocou em sorte, um precalço.

Lá na frente, junto à caixa registadora, uma mulher jovem passa por um mau bocado: lançadas as compras na máquina, no momento de pagar, o dinheiro não chega. É pessoa de aparência modesta. Paga em dinheiro, não tem cartões.

É então, quando faz deslizar as notas pelos dedos, que surge o drama: não pode sair dali... por excesso de compras e falta de dinheiro.

Passo a passo, com um olhar angustiado, embora lhe baile um sorriso nos lábios, os olhos marejados de lágrimas, artigo atrás de artigo, os sacos já prontos vão sendo esvaziados, num ritual lento e minucioso.

Disfarçando o mal estar evidente que dela se apossou, a mulher acaba por sair, mal tem oportunidade para isso.

Muita gente presenciou a cena.

Fiquei mudo e quedo, intimamente solidário com aquela mulher, reflectindo sobre esta sociedade que consegue convencer-nos que consumir é a palavra de ordem, mesmo quando não há dinheiro.

Ninguém resiste às prateleiras cheias, aos cartazes apelativos. Difícil é fazer compras e contas ao mesmo tempo.

De vez em quando sucede uma situação como esta. Mais frequente é o caso de muitas pessoas que, uma vez paga a conta, se quedam largos minutos a olhar para a longa fita da máquina registadora, perguntando: Como é que, no pouco que levo, gastei tanto?

Todos longe, muito longe, da bem-aventurança evangélica. Felizes os pobres....
B. Chamusca


Primeira Página Página Seguinte