Deficientes reivindicam zelo pelos mais pobres

Ignorados pela sociedade, esquecidos pelos governos, e às vezes marginalizados mesmo pela família e pela Igreja, os deficientes estão por toda a parte. Um longo rol de casos testemunham que há um longo caminho a percorrer na sua integração, respeitando o lugar que lhes pertence na sociedade e na Igreja.

Foi para falar com os deficientes e os seus pais que Jean Vanier, fundador de «Fé e Luz», se deslocou, há dias a Portugal. Os encontros tiveram lugar na Casa Diocesana de Vilar, de 17 a 20, e destinaram-se a membros das comunidades «Fé e Luz» de Portugal, Espanha e Gibraltar.

Para Jean Vanier é necessário apoiar as famílias e também escutar os deficientes, perguntando-lhes o que querem. Não basta ouvir o que os pais querem, porque os deficientes também desejam... É necessário escutar esses «amigos especiais».

É evidente que nem sempre será fácil para os pais, esquecer o sofrimento de ter um filho deficiente, numa sociedade que rejeita essas pessoas. Este é também um problema social, pois as pessoas com deficiências serão muito mais felizes se tiverem casas apetrechadas com ateliers e escolas, em vez de serem escondidos em grandes instituições, o que não quer dizer que não sejam necessárias. A maior parte das vezes, será preferível que vivam nas suas famílias ou em pequenas casas, ligadas por exemplo às paróquias para nelas poderem participar com outros membros da comunidade.

No dia-a-dia será importante dizer-lhes, de várias formas: «Tu és importante, tens valor, gostaria que fosses feliz». Os deficientes não serão muito diferentes de nós: Se nos puserem de parte ficaremos tristes, irritados, abatidos. Mas se nos sentirmos reconhecidos e estimados, se nos incentivarem no nosso trabalho, sentir-nos-emos felizes.

Os deficientes precisam de amigos fiéis, para poderem integrar-se na sociedade, o que não será fácil em sociedades complexas, preocupadas apenas com a eficiência e com a redução dos custos, mais empenhadas na competição do que na solidadariedade. Desenvolveram-se as tecnologias mas nem tanto a capacidade de amar e de partilhar os recursos.

Num tempo assim, as pessoas com deficiências ensinam-nos o caminho do amor. Eles não terão grande capacidade intelectual mas dão exemplo de forte relação afectiva e a sociedade de hoje muito precisa disso. Aparentemente incómodos, eles reivindicam da sociedade um tratamento mais humano para com os mais pobres, doentes e idosos, pois questionam o conceito de pessoa e rejeitam essa perspectiva utilitarista de as pessoas valerem pelo que produzirem e não pelo que são. E nesse sentido representam um bem social.


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