Mais de duas dezenas de bispos das dioceses de todo o País, as principais autoridades locais, representantes das Igrejas Lusitana, Anglicana e Metodista, mais de três centenas de padres, religiosos e religiosas, e uma multidão de leigos deram, na tarde de Domingo, um raro tom de festa à Igreja Catedral, no acolhimento que a Diocese promoveu ao seu Bispo D. Armindo.
O Coro da Sé Catedral, a Orquestra do Porto, o conjunto instrumental Sollemnium Concentus, os solistas Sílvia Mateus, João Soares, Mário Alves, Pedro Teles, o organista António Mário e o maestro Eugénio Amorim, que actuaram gratuitamente, deram à celebração uma solenidade invulgar. A música foi do Cón. Ferreira dos Santos e de W. A. Mozart: Missa da Coroação. As pessoas que não tiveram lugar na nave central da Sé, puderam ver o Altar da celebração através de um circuito de televisão orientado para as naves laterais e o claustro.
Expressiva foi a procissão de entrada pelo Terreiro da Sé, a partir do Paço Episcopal, enquanto os sinos da Igreja de S. Lourenço, Seminário Maior, assinalavam tão significativo momento. À entrada da Sé, D. Armindo beijou a Cruz e aspergiu-se a si e aos circunstantes, seguindo até ao Altar. Levava a Mitra da Catedral, que só é utilizada em actos muito solenes, e o Báculo de D. António Barroso, que os Párocos do Porto ofereceram em 1916 depois da Sé se ver sem o que era seu.
Ao lado de D. Armindo encontrava-se o Arcebispo-bispo resignatário do Porto, D. Júlio Rebimbas, e o presidente do Cabido portucalense, Cón. Dr. António Taipa, a quem coube dirigir uma jubilosa saudação ao novo Bispo, depois de lidas as Cartas Apostólicas pelo Chanceler da Cúria Diocesana, Cón. Artur Martins (textos em destaque).
D. Armindo agradeceu a saudação do Presidente do Cabido portucalense, que na Diocese tem ainda a função de Colégio de Consultores, tendo prometido, e disse, esperar «dedicada e leal colaboração» para a fecundidade da sua missão episcopal. Saudou depois o Cardeal D. António Ribeiro, o Núncio Apostólico, os Bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas e fiéis leigos, os representantes das Irmandades, associações e movimentos bem como das outras confissões cristãs, as autoridades civis, judiciais, militares, académicas e diplomáticas. E, em nome da Fé e da Missão em que foi investido, manifestou a sua «disponibilidade para servir, para continuar a servir nesta fase nova da minha (sua) vida e missão». Com firmeza, fez depois a homilia, na linha da Palavra de Deus e do momento que se celebrava (texto na íntegra nas páginas centrais).
No fim, D. Armindo saudou, um a um, os representantes das Igrejas, as autoridades e todo o povo que quis fazê-lo, dirigindo-se depois para a Casa Episcopal, para um tempo de informal convívio. Cada um pôde contar com a simpatia de uma palavra e, em tantos casos, viu-se chamado pelo seu próprio nome.
As fotos do nosso gracioso colaborador José Ruiz dão a conhecer outros aspectos deste grandioso acontecimento. No final, todos apresentavam um ar de júbilo, felizes pelo tom confiante e firme que foi dado na homilia e pela qualidade formal da celebração.
Cumprir o Concílio
Na homilia, D. Armindo lembrou a autenticidade
da sua nomeação, a Missão que, por chamamento
de Deus, assume na linha dos Apóstolos e a graça
e exigência que significa «servir em permanência».
Manifestou depois, com veemência, que não se sente
só a presidir a uma Igreja que «tem nome e identidade»
desde o século VI. E, nessa história de séculos,
lembrou D. Hugo, o Cardeal D. Américo e outros bispos como
D. António Barroso, D. António Barbosa Leão,
D. António Castro Meireles, D. Agostinho Sousa, D. António
Ferreira Gomes e D. Júlio Rebimbas. E também os
educadores e colegas, padres e leigos, que o acompanharam.
«Não trago programa pastoral, nem sequer em partículas de exemplificação» foi a expressão com que convocou a sua Igreja para tomar em mãos as «Orientações de Pastoral» e os documentos do Concílio e pós-Concílio. Bispos auxiliares, estruturas diocesanas, Movimentos e Obras, religiosos, religiosas e leigos deverão agora, «à distância de 37 anos», reler o Concílio e «levá-lo à prática», pois, das orientações do Papa ressaltam claros apelos de «nova evangelização», particularmente em «Os Fiéis Leigos» e «Às Portas do Terceiro Milénio».
O Bispo do Porto apresentou depois o seu lema «Tendo-me libertado de tudo, fiz-me servo para todos», tirado de S. Paulo, e sublinhou a independência e a liberdade necessárias para atender «ao contexto que é nosso, no nosso tempo». É esse que lhe dita o esforço de «não-exclusão: nem de pessoas, nem de ideias, nem de temas ou problemas, nem de ideologias, credos ou partidos políticos», para poder ser «servo de todos, para todos, solícito para com todos», à maneira do Mestre que ensina que «o Espírito de Deus está na Igreja mas não é prisioneiro, dá-se mas não se esgota em limites dos nossos cálculos e dimensões».
Com palavras de Santo Agostinho, o Bispo do Porto concluiu pedindo que Deus o ajude para, «fiel como vós, ser para vós o Bispo que mereceis». E confessou que sente esse apelo e apoio na comunhão eclesial que tem experimentado, no Espírito Santo «que vem em auxílio da nossa fraqueza» e na luz do «sinal de Esperança» que, como «imagem e início da Igreja», aqui brilha sob a designação de Nossa Senhora de Vandoma, invocada no dom e privilégio da sua Assunção», a padroeira da Diocese.
O Presidente do Cabido lembrou que a
Diocese acolhe o Bispo como «um enviado do Pai»
que prolonga a missão de Seu
Filho que continua a dizer: «Como o Pai Me enviou, eu
vos
envio... Ide por todo o mundo e fazei
discípulos...». E
acrescentou que ele vem confirmar a nossa Fé, fortalecer
a nossa comunhão, dar uma dimensão nova à
nossa vida: é «dom de Deus que chega até nós
por mão da Igreja». E maior é a gratidão
porque o Papa João Paulo II escolheu o Bispo «de entre
esta nossa Igreja do Porto», onde Deus o viera buscar como
fruto da vida, da oração, da Fé desta gente,
transformado em «dom da comunidade a Deus». Ele, agora,
é-nos enviado para ser, em Deus, oferecido aos homens,
a todos aqueles por quem o Pai entregou o seu mesmo Filho. Por
tudo isso, «estamos muito felizes» e muito gratos.
Frequentou a Universidade Gregoriana, em Roma, até 1959, tendo-se licenciado em Filosofia e em Teologia.
Em 1959, foi nomeado Professor e Prefeito no Seminário Maior do Porto, onde leccionou até 1974. A 10 de Julho de 1970 é nomeado Vice-Reitor do Seminário Maior do Porto com exercício pleno da Reitoria.
Foi também durante alguns anos professor de Religião e Moral no Liceu Rodrigues de Freitas, professor de Moral no Instituto de Serviço Social do Porto e Professor de Teologia Dogmática no Centro de Cultura Católica.
A 21 de Julho de 1962 foi nomeado Assistente Diocesano da JUC, tendo exercido o cargo até 1965. Dedicou-se também à Pastoral Familiar, às Equipas de Casais de Nossa Senhora e à Escola de Pais Nacional, de que foi co-fundador em Portugal.
Aos 11 de Abril de 1971 é nomeado Cónego Capitular da Sé Catedral do Porto. Em 19 de Fevereiro de 1975 é nomeado Reitor do Seminário de Nossa Senhora da Conceição (Seminário Maior) do Porto. Em 19 de Abril de 1975 é nomeado Vigário Episcopal para o Clero e Renovação do Ministério Eclesiástico e em Março de 1976 torna-se Pró-Vigário Geral da Diocese.
A 5 de Janeiro de 1979 é nomeado Bispo Titular de Elvas e Auxiliar do Porto, sendo a Ordenação Episcopal realizada na Sé Catedral do Porto a 25 de Março de 1979 e presidida por D. António Ferreira Gomes.
Desde 27 de Outubro de 1982 até 13 de Julho de 1997 foi Bispo de Viana do Castelo, de que permanecerá como Administrador Apostólico até à nomeação de Bispo para essa diocese.
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