Dai-lhes vós de comer
"Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: O lugar é deserto e a hora avançada; manda, pois, as multidões embora, para que vão às aldeias comprar alimento". [...] Mas vós considerai a sabedoria do Mestre, admirai como os convida e os conduz discretamente à fé. Não diz logo - "Vou dar-lhes Eu de comer" - porque isso não lhes pareceria admissível, mas sim: "Não é preciso que partam; dai-lhes vós de comer". E nem sequer diz "Eu dou-lhes", mas sim "dai-lhes vós".
Os discípulos, todavia, ainda só o consideram como homem, e nem sequer se elevam mais alto perante estas palavras, mas continuam a falar com Jesus como se Ele fosse só isso, respondendo: "Não temos senão cinco pães e dois peixes". [...] Uma vez, pois, que continuavam a arrastar-se por terra com os seus pensamentos humanos, então Jesus intervém pessoalmente e ordena: "Trazei-mos cá". O lugar é deserto, mas Quem está presente alimenta a terra inteira; a hora já passou, mas agora fala-vos Aquele que não está dependente nem da hora nem do tempo.
O Evangelista João, por sua parte, esclarece que os pães eram de cevada, pormenor que não é insignificante, mas que nos ensina a desprezar o fausto dos banquetes sumptuosos. Assim era também o alimento dos profetas.
(S. João Crisóstomo, Homil. in Mt, 49, 1)