Alexandrino Brochado
Acaba de chegar ao Porto a querida amiga austríaca Elfriede Janda. Quando era menina veio até nós trazida pela mão benfazeja da Cáritas. Foi uma das 6 mil que eu fui buscar a Viena de Áustria. Hoje é uma senhora esbelta, elegante. Os anos não diluíram nem desbotaram a graciosidade e os traços bem vincados duma enorme bondade natural.
A Elfi veio matar saudades e veio também para visitar Fátima. A vinda da Elfi trouxe-me à mente um mundo de recordações e de saudade. Com as crianças austríacas, órfãos da guerra a quem demos guarida, vivi os momentos mais emocionantes e mais belos da minha vida. Com a vinda da Elfi recordei os momentos passados em Viena de Áustria. O meu desembarque em 13 de Agosto de 1955 na Estação do Oeste, de Viena, ao som da portuguesa, entoada por milhares de crianças e seus familiares, foi um momento inolvidável na minha vida. A Eucaristia celebrada em português, na Catedral de Santo Estevão, cantada também em português, foi uma magnífica afirmação de Fé e de portugalidade. Tinha a sensação de que não estava na Áustria, mas sim em Portugal.
A meu ver não temos valorizado suficientemente este intercâmbio cultural e afectivo entre Portugal e a Áustria, fruto da vinda das crianças Austríacas para Portugal, onde estiveram alguns anos. Criou-se uma ligação afectiva muito forte, que perdura. Não há muito que a esposa do Chanceler Austríaco, que esteve em Leça da Palmeira e depois no Porto, dizia numa entrevista publicada num semanário português, que tinha imensas saudades de Leça, do Porto e dos seus pais adoptivos de Portugal. O prelado castrense que reside em Viena, vem frequentemente ao Porto, onde foi acolhido por um catedrático de medicina e sua esposa. E vem porque sente saudades de Portugal. E como estes, todas as crianças Austríacas que estiveram em Portugal, afirmam, com orgulho, que Portugal é a sua segunda pátria.
Volto a dizer não temos dado, a meu ver, a esta ligação, a importância que ela tem e que eu como ninguém tenho experimentado. Há tempos um grupo de portugueses deslocou-se a Viena de Áustria, precisamente a casa da Elfi Janda, que neste momento está no Porto, e ficaram encantados quando a Elfi os levou a sua casa, nos arredores de Viena. Aquilo era um cantinho de Portugal, a arquitectura, o mobiliário, a decoração, os alimentos utilizados, era tudo português, verdadeiramente um prolongamento de Portugal, encravado em Viena, coração da Áustria. Este intercâmbio entre Portugal e a Áustria foi um precioso serviço que a Cáritas prestou aos dois países. Há que o reconhecer e valorizar.