Vós abris, Senhor, a vossa mão e saciais a nossa fome
1. Evangelho: Todos comeram e ficaram saciados (Mt 14, 13-21).
O milagre da multiplicação dos pães foi dos que mais impressionou os primeiros cristãos. A tal ponto que o encontramos relatado nos 4 Evangelhos e, em dois deles (Mateus e Marcos), por duas vezes. Estas tradições foram elaboradas a partir do pano de fundo de precedentes do AT: a multiplicação do pão por Eliseu (2 Rs 4, 1-7.42-44), o episódio do maná (Ex 16...) e, ainda, o anúncio profético do banquete escatológico.
As multidões seguem Jesus que se retira para o deserto. E aí se reproduz um dos quadros do êxodo (o maná do deserto): Jesus, compadecido novo Povo de Deus vai saciar a sua fome. É o banquete escatológico anunciado pelos profetas.
O diálogo entre Jesus e os discípulos sublinha, ao mesmo tempo, a falta de fé dos discípulos e a sua incapacidade para resolver o problema. Quanto mais manifesta é a impotência humana, tanto mais resplandece a maravilha da acção de Deus. Por sua vez, a referência às sobras e ao número dos beneficiados realça a abundância do dom de Deus. Na intervenção activa dos discípulos (medianeiros entre Jesus e a multidão), insinua-se o papel dos ministros da Igreja que distribuem aos crentes o Pão da Palavra e da Eucaristia.
S. Mateus descreve com minúcia as acções de Jesus, seguindo a mesma sequência do episódio da última Ceia ("tomou os pães..., ergueu os olhos ao céu, recitou a bênção, partiu-os e deu-os..."). Realça-se, assim, o carácter eucarístico do relato.
2. Profeta: Tratai de escutar-me e comereis o que é bom! (Is 55, 1-3)
Neste texto, um profeta anónimo, identificado pelos exegetas como o "Dêutero (=Segundo) Isaías", reanima a esperança dos hebreus deportados em Babilónia com a perspectiva do regresso à pátria.
Para ilustrar a felicidade dos tempos messiânicos, o profeta recorre à memória das maravilhas do êxodo: a água que brota do deserto, a terra onde corre o leite, o banquete pascal que assinala a libertação do Egipto, o banquete que selou a Aliança no Sinai, o vinho que para os profetas é sinal da abundância dos tempos messiânicos. O NT retomará estas imagens paradigmáticas. Não admira, pois, que a Liturgia faça delas símbolos essenciais.
É frequente na Bíblia, e mesmo em Isaías, a imagem do banquete para descrever a intimidade de Deus com o seu povo. Recordamos aqui como passagem paralela o convite a participar no banquete da Sabedoria, em Pr 9, 1-6. Significativamente, o convite é dirigido primariamente aos "pobres de Iahweh": os sedentos, os indigentes...
3. Apóstolo: Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? (Rm 8, 37-39).
Termina neste Domingo a leitura do cap. 8º da carta aos Romanos. Tendo começado a exposição por afirmar a liberdade dos que vivem em Cristo, Paulo fala agora da nova vida que irrompe no cristão: uma vida em que está presente o próprio Espírito do Ressuscitado, que nos liga intimamente ao Pai e ao seu Filho Jesus. Se este Espírito está presente, nada poderá interromper o amor que Deus tem por nós em Cristo. Por isso Paulo eleva um hino comovido a este infinito amor de Deus para connosco.
"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?" A esta pergunta Paulo responde de forma categórica: Nada nem ninguém. E exemplifica enumerando sete (o número bíblico que simboliza a totalidade) perigos externos e visíveis. Paulo faz apelo, porventura, à sua própria experiência (cf. 2 Cor 11, 23-33...): "Aquele que nos amou" dá-nos a capacidade de vencer todas as dificuldades e oposições.
No final, faz uma enumeração impressionante de forças misteriosas, espirituais e cósmicas, que segundo a opinião corrente influenciavam a vida dos homens, para concluir uma vez mais de forma terminante: nada nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Cristo. O amor de Cristo é, pois, o fundamento da nossa liberdade e da nossa esperança.