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    Páscoa: renovação, novidade, ressurreição

    D. Armindo Lopes Coleho


    Com o início em Domingo de Ramos, e após o tempo da Quaresma, celebramos na chamada Semana Santa ou Semana Maior os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
    Conjunto de acontecimentos que tecem o drama - drama que transmite a verdade profunda de um Deus que se fez Homem e morreu pela humanidade. A verdade de uma morte por onde passou a vida, do Homem que é Deus e dos homens que Ele liberta da morte eterna, reconduzindo-os ao caminho e ao processo da ressurreição e da vida por Ele e com Ele.
    A vasta comunidade cristã celebra na Páscoa de Jesus a sua própria Páscoa com Jesus ressuscitado. Na Liturgia da Igreja, no calendário e tradição de culturas e tradições várias, no ritmo civil, aceite e assumido por multidões, celebra-se a Páscoa da fé, do consenso, da rotina, da consciência ou da passividade. Mas a Páscoa de Cristo ressuscitado e dos fiéis renovados em Cristo é também vida e renovação da natureza em geral, de tudo o que aspira, natural ou espiritualmente, à renovação, à novidade, à mudança, à recuperação, à ressurreição... É certo e todos podemos verificar que o véu do esquecimento que ás vezes se estende para cobrir ou esquecer não resulta e teima em não produzir os resultados imaginados e desejados. Por isso, a Páscoa continua a alimentar a Fé, a despertar a curiosidade, a estimular uma inquietação salutar e a permanecer como problema.

    Os sentidos da celebração pascal
    Celebramos a Páscoa da Ressurreição à luz da Palavra de Deus que em cada ano nos é proclamada como proposta de reflexão. No relato que o Evangelista S. João nos deixou sublinhamos a singularidade dos vários protagonistas: Maria Madalena foi de manhã cedo ao sepulcro, e viu que a pedra da entrada tinha sido retirada. Foi comunicá-lo a Pedro e ao discípulo predilecto de Jesus (segundo a tradição cristã, era João). Os dois discípulos correram para o sepulcro. Pedro entrou, viu as ligaduras e o sudário. O outro, quando entrou no sepulcro, viu e acreditou. "Ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos".
    Depois do Pentecostes, Pedro, em casa de um militar de alta patente que se abrira à Palavra de Deus e ao Espírito Santo, falando em nome dos Apóstolos, dizia: "Vós sabeis o que aconteceu...depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem... e eles mataram-no, suspendendo-o na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia... Jesus mandou-nos pregar ao povo... quem acredita n'Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados" (Act, 10).

    Exigência e guia de vocação baptismal

    Reflectindo sobre a Ressurreição de Cristo e a nossa participação e associação a Cristo através do Baptismo, que simboliza e opera este mistério e facto da nossa fé - morte para o pecado e restauração para a vida nova, outro Apóstolo, S. Paulo, intima-nos a modo de consequência lógica e de conselho pastoral: "Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto... afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra" (Col. 3, 1-3).
    Celebrar a Páscoa é celebrar a fé nos mistérios salvíficos de Cristo. Celebramos por isso a Páscoa da Ressurreição de Cristo como o acontecimento histórico do Povo de Deus, liberto pela passagem de Deus em ordem à passagem do povo para uma situação de liberdade, e a passagem de Cristo, da morte à vida e à nossa vitória, com Ele, sobre a morte.
    Celebramos a Páscoa que é sinal e concretização do amor de Deus por nós.
    Celebramos a Páscoa, de morte e ressurreição , como critério, exigência e guia da nossa vocação cristã baptismal.
    Celebramos a Páscoa como quem sabe donde vem e como deve encontrar o sentido e a decisão, livremente aceite, de caminho para a plenitude - para as coisas do alto.
    Celebrando a Páscoa, saibamos interpretar os sinais da morte, como Pedro no túmulo de Cristo, mas também e sobretudo os sinais da Redenção pela Ressurreição do Senhor, como aconteceu com o discípulo que Jesus amava.
    Celebrar a Páscoa é encontrar ou reencontrar a alegria interior, dar testemunho desta alegria e ser construtor da alegria, proclamar alto a felicidade da alegria pascal. A nossa mensagem é esta, e não poderia ser outra. Há no nosso mundo divisões e antagonismos, linhas de resumo e oposições à paz e às liberdades dos outros. Há riquezas exageradas, silenciosas ou ostensivas, e pobrezas escandalosas e gritantes, e até envergonhadas e escondidas. Há ódios e guerras, vinganças e medos, opressões e humilhações, lutos e desesperos, sem futuro e sem perspectiva.
    Porque a história da humanidade continua a ser história de exílio, de privações, de sofrimentos, de paixões, de condenações, de calvários, de cruz. A história da humanidade reflecte-se na história de Deus feito Homem: E este Homem - Deus registou de facto a dor e a cruz , mas também a Ressurreição gloriosa, a esperança nova num mundo novo.
    Por isso, na solidariedade e comunhão com os que sofrem vai o nosso voto de esperança maior, assente e inspirada no acontecimento para todos, que é a Ressurreição do Senhor.

    Feliz e Santa Páscoa.