[ Especial ]



    Dar-se ao trabalho... (2)

    José Rafael Espírito Santo*


    Santificar o trabalho

    Deus pretende "que os seus filhos manifestemos a visão optimista original da criação, o "amor ao mundo" que palpita no cristianismo. Portanto, não deve faltar nunca entusiasmo no teu trabalho profissional nem no teu empenho por construir a cidade temporal" (Forja, 703). É a conclusão que S. Josemaría tira para o cristão corrente: tem de santificar o trabalho, santificar-se com o trabalho e santificar com o trabalho.
    Dizendo "santificar o trabalho" dizemos "santificar toda a existência": todas as acções do filho de Deus. Efectivamente, o trabalho profissional resume a vida corrente na sua totalidade, sendo valorizado assim como realidade constitutiva da condição humana, tanto na sua dimensão pessoal como social. Aí estão os amores, a arte, as nostalgias, as festas e canções, a cidadania e os progressos, as lutas e os fracassos, que se engastam e brotam nas ramificações de uma vida e configuram a história. É esta vida de trabalho que vemos Cristo assumir em Nazaré, e que quer ver assumida na vida do fiel cristão no meio do mundo.
    Cada cristão é Cristo pelo baptismo; identificação com Cristo, chamada a crescer na procura quotidiana de união com Ele, também no actuar: as nossas acções devem ser também Suas. Acções de Cristo, trabalho de Deus. Essa é a grandeza da vida corrente de um cristão: por isso, se faz entregas ao domicílio, já não é só ele. Se estuda para um exame, já não é só ele. Se conduz camiões TIR, já não é só ele... Se põe a mesa, se define os objectivos de uma empresa, se discursa no parlamento, já não é só ele... Se vai à pesca ou a um concerto, se filma uma telenovela, se faz uma intervenção cirúrgica, se escreve uma notícia... É, somos, "Cristo que passa" pelos caminhos divinos da terra.

    Trabalhar como Cristo

    O melhor que formos capazes: primeiro princípio do trabalhar - do viver - cristão. Para bem dos outros e para alegrar a Deus: segundo princípio do trabalhar - do viver - cristão. Respeitando a verdade que Deus inscreveu em cada actividade: terceiro princípio do trabalhar - do viver - cristão.
    A intenção não basta, pois, para viver cristãmente. A verdade materializa-se em gestos: competência pessoal; não se conformar com o que sabemos; querer servir melhor os outros; viver em honestidade os aspectos, grandes e pequenos, do agir; resolver dúvidas morais antes de actuar (deontologia e conhecimento da Doutrina Social da Igreja); rectificar quando se erra (e erramos frequentemente); pedir perdão quando ficamos aquém, ou muito aquém, do devido. Só assim, dentro das nossas limitações, tornaremos Cristo presente.
    Esta santidade é acessível a todos porque toda a energia transformadora do cristão lhe vem dada pelo próprio Deus. E é um desafio iniludível porque Deus conta com cada um de nós para tornar este nosso mundo mais humano, mais à medida do Seu amor.
    Dar-se ao trabalho, aceitar o desafio da vida. A vida e o trabalho que fazem e são o mundo, ao qual "Deus amou de tal modo, que lhe deu o seu Filho Unigénito".

    * Vigário Regional do Opus Dei