VISITA DO PAPA À AUSTRÁLIA POR OCASIÃO DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
Bento XVI deu início à sua visita à Austrália, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, com a cerimónia de boas-vindas por parte das autoridades do país, no palácio do Governo de Sidney. Antes do início das cerimónias oficiais, Bento XVI teve a oportunidade de descansar em Kenthurst, numa instituição ligada ao Opus Dei. Uma das manifestações de carinho pelo Papa foi a iniciativa de jovens que trabalham no Jardim Zoológico Taringa, que lhe apresentaram animais típicos australianos: uma serpente píton, uma cria de crocodilo, um coala, um wallaby (canguru pequeno), um lagarto e uma equidna, espécime raro de mamífero. Da parte de tarde desse dia, Bento XVI encontrou-se no cais Rose Bay, de Sydney, com um grupo de indígenas australianos que dançaram e cantaram cânticos tradicionais.
Papa louva esforço a favor dos aborígenes
Na manhã de quinta-feira, Bento XVI foi recebido no Palácio do Governo pelo Governador Geral e pelo Primeiro-ministro. Horas depois encontrou-se, no Rose Bay, com os chefes anciãos dos aborígenes australianos. Sobre os aborígenes, no discurso às autoridades australianas, Bento XVI afirmou: Graças à corajosa decisão tomada pelo Governo australiano de reconhecer as injustiças cometidas no passado contra os povos indígenas, têm-se dado agora passos concretos para se chegar a uma reconciliação baseada no respeito recíproco. Pediu às autoridades australianas que continuem o seu esforço para que acabe o desnível que existe entre australianos indígenas e não indígenas relativamente a expectativas de vida, metas educativas e oportunidades económicas.
Encontro ecuménico
Na manhã do dia 18, Bento XVI encontrou-se com 50 líderes religiosos de outras confissões. No seu discurso, o Papa afirmou que o movimento ecuménico atingiu um ponto muito importante, até certo ponto crítico, motivo pelo qual se deve resistir à tentação de ver a doutrina como factor de divisão. E sublinhou: Para avançar, devemos pedir continuamente a Deus que renove as nossas mentes com a graça do Espírito Santo, que nos fala através das Escrituras e nos guia para a verdade total. Devemos precaver-nos contra toda a tentação de considerar a doutrina como fonte de divisão e, consequentemente, como impedimento daquilo que parece ser a tarefa mais urgente e imediata: melhorar o mundo onde vivemos. E concluiu: Confio que o Espírito Santo abra os nossos olhos para verem os dons espirituais dos outros, abra os nossos corações para receberem a sua força e abra totalmente as nossas mentes para acolherem a luz da verdade de Cristo.
Primeiro discurso aos jovens
Na cerimónia de boas-vindas que os jovens lhe dispensaram, no cais de Barangaroo, na tarde do dia 17, Bento XVI pediu que nenhum jovem se sentisse fora da Igreja. Acolhido por cerca de 500 mil peregrinos, jovens de todo o mundo e australianos de diferentes idades, que o aclamavam em muitos idiomas, o Papa disse-lhes: Aproximai-vos do abraço amoroso de Cristo; reconhecei a Igreja como vossa casa. Ninguém está obrigado a ficar fora, já que desde o dia de Pentecostes a Igreja é una e universal. Depois saudou todos os que não puderam ir a Sydney, especialmente as enfermos e os deficientes mentais, os jovens na prisão, os que estão marginalizados pela nossa sociedade e os que por qualquer razão se sentem indiferentes à Igreja. E dirigindo-se a cada um dos jovens, Bento XVI afirmou: Jesus está ao teu lado. Deixa-te abraçar por Ele que cura, sente a sua compaixão, a sua misericórdia.
Vigília: 235 mil jovens com o Papa
Um mar de velas encheu o hipódromo de Randwick com mais de 235 mil peregrinos da Jornada Mundial da Juventude em oração com Bento XVI e escutando a sua mensagem sobre a importância da unidade e reconciliação. Os jovens peregrinos, enquanto aguardavam a chegada do Papa, iam recebendo nos telemóveis uma mensagem do próprio Bento XVI: Caro amigo, deves ser santo e missionário: nunca separes a santidade da missão - BXVI.
O Santo Padre chegou ao local um pouco antes da hora prevista.
A vigília de oração começou com o hipódromo às escuras, gradualmente iluminado por tochas trazidas por dançarinos, representando a abertura ao Espírito Santo. A cruz e a bandeira da Jornada Mundial da Juventude foram colocadas no palco antes da chegada do Papa, que entrou acompanhado por 12 peregrinos enquanto a assembleia cantava o hino Our Lady of the Southern Cross. Uma mulher aborígene acendeu as velas levadas pelos 12 jovens, que, por sua vez, com os Bispos acenderam as velas da assembleia. Sete jovens então invocaram o Espírito Santo pela intercessão dos patronos da JMJ. Bento XVI falou aos jovens sobre ser testemunhas, sublinhando importância de uma missão desta grandeza: Já sabeis que o nosso testemunho cristão é oferecido a um mundo que, sob muitos aspectos, é frágil. Realçou depois a ideia que a unidade é a chave para mudar o mundo. Alertou também para os perigos da ditadura do relativismo. No final da alocução do Papa, foram-lhe apresentados 24 catecúmenos. Depois da saída do Papa do recinto, os peregrinos recitaram um rosário internacional. As tendas de oração e do sacramento da reconciliação estiveram cheias durante a noite.
Pedido de perdão por abusos sexuais
Assumir humildemente os erros e pedir perdão por eles é uma atitude de grande dignidade. Bento XVI, tal como aconteceu a quando da visita aos EUA, pediu perdão e confessou-se envergonhado pelos abusos sexuais praticados por alguns presbíteros. E acrescentou: Enquanto a Igreja na Austrália continua, no espírito do Evangelho, a enfrentar eficazmente este sério desafio pastoral, uno-me a vós na oração pedindo que este tempo de purificação traga consigo cura, reconciliação e uma fidelidade cada vez maior às exigências morais do Evangelho.
Uma experiência esplêndida
Para Bento XVI, a Jornada Mundial da Juventude em Sydney foi uma experiência esplêndida. Já nas despedidas, o Papa confessou: Alegro-me por esta oportunidade de poder despedir-me de todos vós e dizer-vos que a experiência desta semana foi esplêndida. Nestes dias, fomos testemunhas directas da alegria que encontram na própria fé tantos milhares de jovens, e pudemos exprimir o nosso louvor e gratidão a Deus pela sua bondade para connosco.
Curiosa a resposta de Bento XVI a todos os que dizem que os jovens de afastaram da Igreja, ao afirmar que os jovens representaram o catolicismo da Igreja: Nas multidões que se juntaram em Sidney vimos uma expressão concreta da unidade na diversidade da Igreja universal e uma perspectiva daquela família humana unida que tanto desejamos.
Desafios do Papa aos jovens
Bento XVI deixou inúmeros desafios aos jovens peregrinos de que destacamos: 1) Através da acção do Espírito, terem a coragem de se tornarem santos! Mais do que qualquer outra coisa, é disto que o mundo precisa. 2) Aproximem-se do abraço amoroso de Cristo e reconheçam a Igreja como a sua casa. 3) Serem testemunhas da esperança oferecida pelo Evangelho de Jesus Cristo: uma visão da vida onde reine o amor, onde os dons sejam partilhados, onde se construa a unidade, onde a liberdade encontre o seu próprio significado na verdade, e onde a identidade seja encontrada numa comunhão respeitosa. 4) Os jovens com duras experiências marcadas pelo álcool, drogas ou pela tentação do suicídio, devem ser embaixadores de esperança para quantos se encontram em idênticas situações. 5) Estar verdadeiramente vivos é ser transformados a partir de dentro, permanecer abertos à força do amor de Deus. Acolhendo a força do Espírito Santo, podereis também vós transformar as vossas famílias, as comunidades, as nações. Libertai estes dons. Fazei com que a sabedoria, o entendimento, a fortaleza, a ciência e a piedade sejam os sinais da vossa grandeza. 6) Serem profetas deste novo tempo, mensageiros do seu amor, capazes de atrair as pessoas para o Pai e construir um futuro de esperança para toda a humanidade. 7) Não tenhais medo de dizer o vosso sim a Jesus, de encontrar a vossa alegria na realização da sua vontade, entregando-vos completamente para chegardes à santidade e pondo os vossos talentos a render para o serviço dos outros.
Missa de encerramento: a maior da história da Austrália
O director operacional da JMJ confessou que foi explêndido ver cerca de 500 mil jovens a participar na Eucaristia dominical. Foi seguramente a missa católica com a maior número de fiéis da história de nosso país. Bento XVI agradeceu à cidade por ter acolhido este acontecimento e anunciou que a próxima JMJ será em Madrid em 2011.
Nota final: toda a imensa riqueza desta Jornada Mundial da Juventude, nomeadamente os discursos e homilias de Bento XVI, pode ser lida e copiada no site da Agência ZENIT: www.zenit.org.
António Jesus Cunha*
* Com Agência Zenit