Flores, velas, cânticos e prece pelos mortos da causa de Timor....
Três dezenas de estudantes timorenses do Norte de Portugal assinalaram, na tarde de Domingo, na igreja matriz de Santa Maria de Campanhã, um ano de independência de Timor Lorosa'e. Houve Eucaristia, presidida pelo pároco, Cón. Fernando Milheiro, cânticos em tétum e em português, e romagem ao Cemitério, onde foram depositadas flores e velas em memória daqueles que, com o próprio sangue, conquistaram o coração do mundo, abrindo caminho ao referendo e à independência. No fim, um breve momento de convívio entre todos os que quiseram estar presentes.
Tratou-se de uma celebração simples mas bem significativa, sem artificialismo nem mediatização. A presença de Isaías Vidal, da Junta de Freguesia de Campanhã, abriu a simplicidade deste acto à sociedade civil, lembrando que a celebração deste 1º aniversário em Campanhã deve chegar bem mais longe num abraço solidário ao presidente Xanana Gusmão.
Todo o relevo foi dado aos timorenses que assim justificaram esta celebração: "Todos sabemos que a independência de Timor-Leste foi comprada pelo próprio corpo e sangue do povo... e também pela ajuda do povo português até ao referendo de 30 de Agosto de 1999". E que a resistência à ocupação indonésia de quase 25 anos nas montanhas de Matebian e Ramelau consagrou o comandante Kai-Rala Xanana Gusmão, actual presidente da República, e o povo Maubere ou Falintil. De 1975 a 1991, a morte fez multiplicar os órfãos, viúvas e muitos pais ficaram sem filhos. Em 12 de Novembro de 1991, os jovens explodiram em revolta contra os ocupantes, em Dili, e foram mais de 250 os vitimados nesse massacre de Santa Cruz! O horror desse dia quebrou a indiferença internacional e permitiu que o povo fosse ouvido em referendo, o que fez despoletar uma nova onda de violência generalizada que obrigou metade da população a refugiar-se na parte ocidental da ilha.
Depois de tudo isso e agora em tempo de paz, "nós, os sobreviventes" queremos agradecer e rezar por aqueles heróis que morreram sem poderem aproveitar aquilo que defenderam durante os anos da ocupação indonésia".
Exemplar a postura destes jovens... "como é possível que se faça guerra a um povo assim!"... ao rezarem até "pelos inimigos, pelos que traíram a sua Pátria", por aqueles a quem a guerra tornou vítimas da fome, pelos que se deixaram entrar nos caminhos da violência para que tenham "novos pensamentos e desejos de santidade"!
Entre os frutos deste encontro na Matriz de Campanhã poderá apontar-se a constituição da associação dos estudantes timorenses no Porto, com sede em Campanhã.