Porque o imaginário também serve para educar!
Aquele dia amanheceu cedo para os jovens guerreiros. Vieram de toda a parte do reino para derrotar o dragão que tanto mal fazia. E ainda o sol abria os olhos depois do sono da noite, e já os exércitos ganhavam corpo. Eram lanceiros e arqueiros, besteiros e fundeiros. A natureza, nesse dia, vestiu-se de quatro cores - amarelo, verde, azul e vermelho - trazendo aos lábios das populações acolhedoras um sorriso de alegria e esperança.
Estes guerreiros sabiam bem que a missão que os esperava não era fácil. Vencer o dragão, aquele dragão enorme e aterrorizador, exigia não só perícia no manejo das armas, mas também um coração cheio de coragem. É que as batalhas ganham-se com o coração!
E sem perderem mais tempo, lançaram-se ao trabalho. Atravessar pontes, afinar a pontaria, construir estandartes, treinar o manejo das armas, atravessar o fogo, relembrar a lei que os tinha tornado cavaleiros, entre muitas outras coisas, ajudou estes guerreiros a tornarem-se mais capazes de enfrentar esta batalha.
Mas tudo isto não chega, porque depois de derrotar o dragão é preciso construir a cidade. Por isso foram ver o que faz o ferreiro, o sapateiro, o oleiro, o doceiro... e vários mesteres mais. Fizeram a experiência da partilha: do pão e dos bens que possuíam (uma moeda), pois só assim era possível comprar o necessário.
O sol estava já bem desperto e os exércitos começam a dirigir-se para a arena de batalha. Que emoção! Ouvir falar desse dragão que gastava a sua vida a tornar os outros infelizes, e agora poder estar perto dele e derrotá-lo. E como iriam estes guerreiros derrotar um monstro tão feroz, que a sua fama se espalhava por vários reinos? Seriam as armas suficientes?
E os exércitos continuavam a avançar. Na frente os mais jovens guerreiros - os lanceiros. Vinham animados, com os estandartes amarelos bem levantados e as vozes a gritarem bem alto: força, Lanceiros! E, fila após fila, caíram chuvas de lanças sobre o dragão. Mas este não morreu!
Seguiu-se o exército dos arqueiros, o maior exército de todos. Na frente os estandartes de cor verde, e logo atrás os guerreiros mais entusiastas. Quanta esperança em todas aquelas flechas apontadas ao dragão, que continuava de cabeça erguida e a lançar fumo pela boca. Voo após voo, as flechas feriram o monstro. Mas este não morreu!
Nada estava perdido, ainda restavam os besteiros e os fundeiros. E já se ouviam as vozes de comando a gritar: preparar, apontar, disparar! As setas cravaram-se em pleno corpo e as fundas, rodopiando no ar, lançaram os seus projécteis sobre a cabeça e cauda do dragão. Mas este não morreu!
Que mais podiam fazer estes guerreiros e exércitos sem armas, face a tão terrível monstro que destruía a vida? Foi, então, que surgiu S. Jorge, montado no seu cavalo e com um facho de fogo na mão, a incitá-los a levantar bem alto os seus escudos. Aproximando-se do dragão, o mais nobre cavaleiro do bem lançou-lhe o fogo e este desfez-se em fumo. O mal estava vencido. E estes guerreiros compreenderam que para vencer o mal não são necessárias armas de guerra, mas sim possuir um coração puro e aberto aos outros. A batalha estava ganha. O bem dominava o mal. E a vitória conduziu todos estes nobres cavaleiros do bem a celebrar, em festa, esta jornada que irá perdurar por muitos e muitos anos (tantos quantos o coração continuar puro e aberto aos outros).
Nota: Este foi o imaginário e a mística que serviram de base à actividade regional do Corpo Nacional de Escutas da Região do Porto, que levou em 27 de Abril de 2003 mais de 1500 Escuteiros até Monte Córdova em Santo Tirso, para festejar o dia de S. Jorge - patrono mundial do Escutismo.
Mocho Paciente