Uma história de 25 anos
Conforme noticiámos no número anterior, tendo como tema A Bíblia e a vida, ontem e hoje, realizou-se no Seminário do Verbo Divino, em Fátima, de 25 a 29 de Agosto, com a colaboração de diversos especialistas no estudo da Bíblia, a XXV Semana Bíblica Nacional. Apresentaram reflexões etemas: Acílio Mendes, Acácio Sanches ("Lugares teológicos da Revelação: a História e a Palavra"), Herculano Alves ("Intermediários da Revelação de Deus. A problemática da linguagem"), Fernando Gustavo ("Paz messiânica, a utopia de Deus"), José Manuel Pureza ("Da paz messiânica aos falsos messias da paz, hoje"), Robson Cruz ("Justiça na Bíblia: dos 70 x 7 de Lamec aos 70 x 7 de Jesus (Gn 4,24; Mt 18,22)", Teresa Nogueira ("Da lei de Talião à retaliação militar"), Armindo Vaz ("Ecologia: da teologia da Terra à utopia do mundo novo"), Luís Oliveira ("Cântico das criaturas. Visão franciscana do mundo").
As Semanas Bíblicas têm, promovidas pelos Franciscanos Capuchinhos, têm uma História de mais de 25 anos, que a propósito é interessante recordar.
O facto de se realizar a XXV Semana não quer dizer que estas Semanas Bíblicas tivessem começado há 25 anos... A primeira, com o título: "Semana Nacional de Estudos Bíblicos em Portugal", realizou-se em Fátima, de 9 a 14 de Abril de 1956, tendo como destinatários Sacerdotes, Religiosos e Seminaristas, tratando as questões bíblicas mais prementes da época, e que ainda hoje são ponto de exigente reflexão: Os primeiros Capítulos do Génesis, Os géneros literários, História e Problemas do moderno Estado de Israel; Meios para um renascimento bíblico entre Sacerdotes e fiéis... A julgar pelos relatos existentes, o entusiasmo foi constante em cada dia da Semana.
Razão tinha logo no primeiro dia, D. João Pereira Venâncio, bispo auxiliar de Leiria, quando afirmava que "entre as múltiplas actividades realizadas em Fátima, faltava esta, tão importante e tão necessária". Tão ousada iniciativa no campo católico só foi possível graças à intuição profética e carismática de um Franciscano Capuchinho da Província de Castela (Espanha): frei Inácio de Vegas. Residia nessa altura em Portugal e durante a Semana soube-se do seu falecimento em Madrid, aos 98 anos de idade!
Passariam 23 longos anos para que se realizasse a Segunda Semana Bíblica Nacional, também em Fátima, de 17 a 22 de Setembro de 1979, com a participação entusiasta de umas 230 pessoas, desta vez representativos do Povo de Deus: Sacerdotes, Religiosos e Religiosos e Leigos. O motivo mais imediato era a celebração dos 25 anos da Revista Bíblica e foi seu grande promotor Frei Acílio Mendes, actualmente Provincial dos Franciscanos Capuchinhos.
A temática desta Semana Bíblica teve em conta toda a revolução realizada pelo Concilio Vaticano II, na década de 60, nos campos bíblico, litúrgico, pastoral... E foi assim que se aprofundou o tema do Evangelista do ano: "São Lucas, o Evangelista para o nosso tempo ". Estavam assim encontrados os temas para os anos seguintes: Os Evangelhos segundo São Mateus (1980), São Marcos (1981), São João (1982), seguindo-se as cartas de São Paulo (1983). Arriscam-se temas do Antigo Testamento: Profetas (1984), Salmos (1985), Génesis (1986). Lendo os sinais dos tempos, vão desfilando outros temas sempre actuais: Apocalipse (1987), Maria na História da Salvação (1988), Os Pobres na Bíblia e na Vida de hoje (1989), Livros Sapienciais (1990), A Bíblia na Nova Evangelização (1991), A Família na Bíblia (1992, ano internacional da Família), Linguagem da Bíblia e Linguagem de Hoje (1993), A Mulher na Bíblia, na Igreja e na Sociedade (1994), A Festa e as festas (1995). Seguiu-se depois a pedagogia proposta a toda a Igreja por João Paulo II, em ordem à preparação do Grande Jubileu do Ano 2000: Jesus Cristo (1996), Espírito Santo (1997), Deus-Pai (1998), A Encarnação de Jesus Cristo, glorificação da Santíssima Trindade (1999), A Eucaristia (2000), a Igreja, Povo Sacerdotal (2001).
O dinamismo próprio das Semanas Bíblicas tem sabido conjugar a reflexão e o estudo com a celebração litúrgica, apontando sempre para exigências de ordem pastoral. Aos biblistas é possibilitada a graça de se encontrarem com uma multidão de participantes, "de Bíblia na mão e com o Deus da Bíblia no coração"; e o Povo de Deus dispõe, assim, da oportunidade de saborear, quase em jeito de "lectio divina", as reflexões e descobertas que os estudiosos da Bíblia, paciente e devotamente, vão apurando. Uma reciprocidade vital que a todos enriquece!
Mas, em época de descentralização, também a Semana Bíblica Nacional apostou nesta vertente. A Madeira foi a primeira a organizar uma Semana Bíblica Diocesana em 1988, com a presença de 458 participantes! A partir daí sucederam-se outras Semanas Bíblicas Regionais: Barcelos, Açores, Porto, Gondomar e, brevemente, Caxinas.
São vários milhares de cristãos que cada ano vivem uma semana de escuta e aprofundamento da Palavra, de formação permanente da Fé, de convivência e celebração. Impelidos pela urgência interna da Boa-Nova: "Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9,16). Profetas da Palavra, com a certeza da
Presença do Ressuscitado no meio daqueles que se reúnem em seu nome, aceitando o seu desafio: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho toda criatura" (Mc 16,15).