Em lista de espera
No rescaldo das eleições, a inflação das análises. Não é propriamente um país que amanhece para uma nova caminhada, mas sim que, por vontade dos eleitores, se aprestará para uma vontade de decidir, de se purificar do acessório e do video televisivo e dessa preocupação "coquete" de fascinar simpatias, atrair sondagens e... "está tudo bem".
Já não dependemos apenas de nós. Vigia-nos uma entidade até aqui generosa, mas rigorosa e que exige resultados e não espera pelas urnas de voto para castigar derrapagens e dá pelo nome quase maternal de União Europeia. Temos de prestar contas cá dentro e lá fora, a nós e a ela. Quisemos ser do chamado pelotão da frente e emparceirar - o que esteve certo - com os países economicamente mais adiantados do continente europeu, e figurar na montra dos evoluídos e importantes. Agora que nos encontramos no lugar cimeiro que esforçadamente alcançámos parece que tudo está em risco porque nos descuidámos e fomos em facilidades. Já se fala em "puxão de orelhas" a ser aplicado diante dos outros parceiros europeus, o que não deixa de ser vexatório porque revela incapacidade. Vem aí novo governo que promete pôr as coisas nos devidos carris. Todo os que chegam para governar prometem o mesmo. Mas não é só a União Europeia que espera que mudemos. O eleitorado que no passado dia 17 votou também quer rigor e segurança. A verdade é que mesmo num sector que tem de se manter sempre incólume a todas as oscilações políticas e sociais e que é o da Justiça, também aí há que encontrar um novo rosto de soluções. Os crimes de colarinho branco frequentemente prescrevem. Porque o dinheiro tem a força de arregimentar uma advocacia hábil e capaz de juridicamente protelar processos até que estes prescrevam. Resulta daí, muitas vezes, a impunidade para os crimes de gola alta. Afinal, é sobretudo o pequeno assaltante a garantir que quem delinqui é castigado.
Vai começar um novo governo. Para já, a grande preocupação que domina os analistas políticos, e não só eles, é que os dois líderes da nova AD se comportem como pessoas sensatas e abdiquem dos seus ressentimentos pessoais e ponham à frente de tudo os interesses da comunidade nacional. O que não é muito, por ser o normal. Santo e risonho país, este...
Pacheco de Andrade