[ Liturgia ]



    Comentário Litúrgico

    Por onde pára o Espírito Santo?


    1. Onde pára o Espírito Santo, que pairava sobre as águas da primeira criação, a fim de lhes dar a Vida? Onde pára o Espírito Santo que descera, sobre os profetas, para dar voz à Palavra de Deus? Onde pára o Espírito Santo, que cobriu com a sua sombra a Virgem Maria, para dar Carne humana ao Verbo de Deus? Onde pára o Espírito Santo que ungiu Jesus de Nazaré, para o constituir Messias e Filho de Deus? Onde pára o Espírito Santo que, um dia, descera sobre os Apóstolos, para constituir a Igreja dos discípulos, unificada no amor? Onde pára? Por onde pára, esse «êxtase de Deus», onde paira esse suspiro eterno do Amor entre o Pai e o Filho? Onde pára esse «respiro primeiro» da Vida do Mundo e do coração do Homem? Onde paira afinal o Espírito Santo de Deus? Perguntamos!

    2. Ter-se-á Deus fechado no seu mundo divino? Terá Deus desistido de sair de si mesmo, de se voltar para nós e nessa medida de Amor criar-nos, dar-nos alma e vida? Ter-se-á esgotado aquele Eterno Amor do Pai e do Filho? Terá falecido ou ter-se-á desfalecido o Espírito Santo? Duvidamos... «Uma das tentações mais subtis e pérfidas do Maligno é a de fazer-nos esquecer a presença do Espírito, de fazer-nos cair na tristeza como se Deus nos tivesse abandonado num mundo mau, contra o qual lutamos com armas desiguais. Trata-se de um pecado grave «contra o Espírito Santo» (cf. Mt 12, 31 s), que, na prática, nega a sua força e a sua capacidade penetrante, a sua penetração como vento e como sopro em todos os meandros da história»1

    3. Por isso, a estas dúvidas e a estas perguntas, nós respondemos: Não. Deus continua, pela natureza própria do seu Amor, a amar. E a fazer deste Amor Dom, Amor pessoal, amor dado e recebido, amor comunicado! O Espírito Santo continua a arder como fogo «sem se ver» no coração de Deus e daí a incendiar a terra inteira! «O Espirito existe, também hoje, como no tempo de Jesus e dos Apóstolos: existe e está a actuar, chegando antes de nós, trabalhando mais do que nós e melhor do que nós; não nos compete semeá-lo nem despertá-lo, mas sobretudo reconhecê-lo, acolhê-lo, segui-lo, acompanhá-lo e ir atrás d'Ele. Existe e nunca desanimou a respeito do nosso tempo; pelo contrário, sorri, dança, investe, envolve e chega até onde nunca imaginaríamos que chegasse. Diante da crise fulcral da nossa época que é a perda de sentido do invisível e do Transcendente, da crise do sentido de Deus, o Espirito, mesmo que invisível e na pequenez, faz o seu jogo vitorioso»2. Ele está aí... a oferecer Cristo ao mundo e o mundo a Cristo, onde quer que o mundo caminhe na Verdade, para o Amor. Está aí, a configurar o Homem a Cristo, onde quer que o homem se deixe moldar como Filho por Ele. Está aí. A suscitar novas coisas e vida nova onde quer que haja uma Igreja de portas abertas. Ele afinal está presente na vida de cada um de nós:

    4. 1. «Quando se verifica uma esperança total, que prevalece sobre todas as outras esperanças particulares; 2. Quando a experiência fragmentada do amor, da beleza e da alegria se vivem simplesmente e se captam como promessa do Amor, da Beleza e da Alegria, sem duvidar com um cepticismo cínico; 3. Quando a vida quotidiana, amarga, decepcionante e aniquiladora é vivida até ao fim com serenidade e perseverança, aceite por uma força cuja origem não podemos abarcar nem dominar; 4. Quando se corre o risco de rezar no meio de trevas silenciosas, sabendo que somos sempre ouvidos, mesmo que não captemos uma resposta que se possa discutir ou disputar; 5. Quando uma pessoa se entrega sem condições e essa capitulação é vivida como uma vitória; 6. Quando se experimenta o desespero e a pessoa misteriosamente se sente consolada sem consolo fácil (...) 7. Quando se considera boa a soma de todas as contas da Vida que a própria pessoa não pode calcular, mas que Outro considerou boas, ainda que não se possam provar...

    Aí está Deus e a sua graça libertadora, aí conhecemos Aquele a quem nós, cristãos, chamamos Espírito Santo de Deus»3...