Credibilidade da Igreja - índice 70
A VP de 4 de Abril passado, em notícia de primeira página,escrevia: "A Igreja é a Instituição mais credível da sociedade".
Referoia-se então que a Igreja é a instituição que merece maior confiança dos portugueses, segundo uma análise pelo Instituo de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Primeiro que tudo, era importante saber-se que perguntas foram feitas, que respostas foram dadas e que cultura tinham as pessoas inquiridas. E a pergunta base teria que ver com o conceito de Igreja: o que é, quem é, qual a sua missão. Como se sabe, ainda está muito arreigada a noção de que a Igreja é o Papa, os Bispos e os Padres, o que reduz e anula a definição correcta de Igreja.
Numa época de alguma contestação à Igreja, o resultado desta sondagem é ao mesmo tempo algo surpreendente a agradável. Mas sobretudo interpelante. É que a Igreja não pdoerá desmerecer desta confiança e perder credibilidade, pelo que é, pela sua missão e por Quem é a sua razão de ser. Para tanto, é necessário que os cristãos padres e os cristãos leigos tenham uma atenção e um cuidado constantes na forma correcta de viverem em Igreja e como Igreja.
A Igreja Católica, como comunidade de crentes, vive em comunidade. É a Paróquia. É aí que a Igreja se mostra credível ou não-. Para manter e merecer esta credibilidade, é preciso dar maior atenção a alguns pontos importantes e corrigir outros. Por exemplo:
1. Uniformidade na aplicação das normas do Direito Canónico no que se refere aos Sacramentos, especialmente do Baptismo, Penitência, Eucaristia e Matrimónio. A falta de uniformidade de procedimentos causa perplexidade nos fiéis que se interrogam: "Na paróquia A são precisas reuniões de preparação de pais e padrinhos e aqui não?"; "o pároco B faz sem mais o Baptismo de crianças cujos pais vivem noutras paróquias e aceitam como padrinhos pessoas que não têm as condições requeridas"; "na paróquia C dá-se uma absolvição colectiva nas confissões e aqui não?"; " na paróquia D há um limite de intenções colectivas e aqui não?"; "na paróquia E a 'esmola' da missa é uma e aqui outra?"; "na paróquia F os noivos não têm que fazer o CPM e aqui têm?"; "como é possível irem padres a Espanha casar pela Igreja pessoas viúvas que, se casassem no país, perdiam a pensão de vuivez?", etc.
2. Mais uniformidade na observância das normas litúrgicas. É certo que após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II foi dada alguma liberdade, em função, sobretudo, do interesse pastoral dos fiéis. Mas há exageros. E os fiéis dão conta disso. E comentam, com estranheza: "Na paróquia G a Missa é diferente"; "na paróquia H o padre quase não segue o missal: é de improviso!"; "na paróquia I há violas na missa; porque não aqui?"; "na paróquia J os cânticos são tão lindos (não litúrgicos, é claro) e aqui não têm piada nenhuma!". Etc. Diga-se, entretanto, que por exemplo a VP oferece cada semana um precioso contributo para as celebrações litúrgicas nas paróquias. Mas em certos casos não há nada que resista à capacidade de invenção, improvisação, criação e inspiração de momento.
3. A credibilidadade da Igreja passa ainda por um outro ponto muito sensível para os fiéis, que é a apresentação de contas à comunidade aproquial. O povo gosta e tem direito de saber da administração dos bens da comunidade para a qual contribui. E, se numa paróquia vizinha se apresentam contas e nesta não, o povo estranha, e com razão.
4. Finalmente, a credibilidade da Igreja pode estar em causa quando ocorrem conflitos nas paróquias, os quais quase sempre são empolados e explorados pela imprensa e pela TV, através de jornalistas em começo de carreira que querem projectar-se. Na origem desses conflitos estão muitas vezes atitudes de contestação ao Pároco ou ao Bispo por não se aceitar facilmente a sua autoridade moral no que respeita à observância de orientações pastorais que regulam a vida corrente das paróruias, por exemplo no que toca à realização de festas, comissões de culto das capelas, etc.
A credibilidade da Igreja Católica não passa apenas pelos católicos-padres. Bispos e padres. Passa também pelos católicos-leigos que também são Igreja. Da forma como uns e outros viverem e actuarem, segundo o seu Sacerdócio específico, resulta a tão necessária credibilidade, não só para os que se sentem Igreja, mas também para todos os outros.
Esta análise do ICS da Universidade de Lisboa é muito gratificante. Mas interpela-nos.
António De Pinho Nunes