Contingência e utopia

O Director da Faculdade de Biotecnologia da Universidade Católica, Prof. Xavier Malcata, amigo muito prezado, acaba de publicar, numa edição da Principia, uma obra intitulada Contingência e Utopia, relatos e reflexões, onde se abordam intervenções várias de inegável interesse, umas sobre temas de biotecnologia e programação de investigação em Portugal, mais distantes da minha sensibilidade, conquanto não alheias, e outras na área da Ética, essas já mais próximas das minhas.
De realçar, à partida, a dose de humanismo e de humanismo cristão, que inspira estes trabalhos, dose sempre de saborear numa época de neutralidade axiológica, onde uns por falta de perspectiva axiológica e outros por falta de perspectiva teórica, não chegam à síntese que é, isso sim, a característica do Humanismo, ficando-se ora pela beatice voluntarista, ora num cientismo que a própria ciência já colocou de parte.
De realçar, para meu gosto, a terceira parte, onde são abordados temas de especial incidência na ética, numa escrita enxuta e leve, segundo aquele conselho de Teilhard que deveria figurar no fronstespício das nossas Academias: "Quanto mais avanço, mais me convenço que a ciência verdadeira - a única que podemos ganhar neste oceano de fraqueza e de ignorância - é a visão que começa a tomar forma debaixo e através da multiplicidade das coisas".
Do avanço da verdade, é disso que se vai tratando quando as diversas ciências não se desenvolvem como meramente autónomas, mas sempre como implicadas nos diversos fazeres do homem e dos cientistas.
Xavier Malcata, Contingência e Utopia, relatos e reflexões, Lisboa, Principia, 2000.

Arnaldo Pinho