Tríduo Sagrado da Páscoa - 10-12 de Abril
MISSA DA CEIA DO SENHOR
Com a Missa vespertina da ceia do Senhor inaugura-se solenemente o primeiro dia do Tríduo porque também a última Ceia assinalou o início da «hora» do mistério pascal de Jesus. A última Ceia de Jesus não tem apenas o carácter de prelúdio em relação aos acontecimentos que se lhe seguiram mas tem com eles uma ligação íntima e estrutural. De facto, as palavras e os gestos de Jesus eram o imediato preanúncio, a interpretação, a antecipação sacramental e a síntese litúrgica da Sexta-Feira da Paixão, do Sábado da sepultura e do Domingo da ressurreição.
«Todas as vezes que realizamos o memorial deste sacrifício realiza-se a obra da nossa redenção» - reza a Igreja na Oração sobre as Oblatas da Missa na Ceia do Senhor. Mas na Quinta-Feira Santa isto é verdade a um título especial: o próprio dia como que entra na constituição do sinal sacramental, é um dia memorial. Por isso as comemorações próprias a inserir na Oração Eucarística insistem neste «hoje»: «hoje, na véspera da Sua paixão por nós e por todos os homens» (I), «hoje, na noite em que Ele ia ser entregue» ou, com mais aproximação ainda, «hoje, na hora em que Ele se entregava» (II). Nesta Eucaristia, portanto, a Igreja celebrante como que ocupa o seu lugar no Cenáculo, com os discípulos, para com eles reviver o «natal» da Eucaristia e, ao mesmo tempo, a instituição do sacerdócio ministerial e o promulgação do mandato da caridade fraterna.
É o Espírito Santo que realiza no sacramento a presença real de Cristo glorioso. Na Oração Eucarística Ele é invocado para que os dons do pão e do vinho se convertam no Corpo e Sangue de Crianças e, após a consagração, para que, enchendo os comungantes com a sua força divina, os transforme num só Corpo e num só Espírito. É assim que a Eucaristia «faz a Igreja». Neste contexto se compreende também o «mandamento novo».
Para a celebração
1.A Missa «na ceia do Senhor» celebre-se pela tarde, na hora mais oportuna para que participe plenamente toda a comunidade local.
2. O Sacrário deve estar completamente vazio ao começar a celebração. Deste modo, pelo menos neste dia cumprir-se-á o desejo da Igreja: que os fiéis comunguem com pão consagrado na própria Missa. Consagre-se pão em quantidade suficiente para a comunhão nesta Eucaristia e na acção litúrgica do dia seguinte.
3. Para a sagrada reserva prepare-se uma capela que convide à oração e à meditação. A ornamentação deve ser festiva, mas sem desdizer da sobriedade e austeridade que é própria destes dias. Se o sacrário já está habitualmente colocado numa capela separada da nave central, dispor-se-á aí o lugar da reserva e da adoração.
4. Na medida do possível, conserve-se o lava-pés e explique-se o seu significado próprio: o serviço e o amor de Cristo.
5. Os donativos para os pobres, especialmente o fruto das privações quaresmais, podem ser incorporados na procissão das oferendas, enquanto o Povo canta «Ubi caritas est vera» («Onde a caridade é verdadeira aí está Deus»).
6. Ofereça-se aos enfermos e outras pessoas impedidas de ir à Igreja a possibilidade de participarem nesta celebração pascal, comungando em suas casas. Para tal, mobilizem-se todos os ministros disponíveis (incluindo os extraordinários) e sejam enviados para este serviço de forma pública, entregando-se-lhes a Eucaristia da mesa do altar, no momento da comunhão.
7. Se na mesma igreja se realizar a celebração da Paixão do Senhor em Sexta-Feira Santa, então, após a oração depois da comunhão, leva-se o Santíssimo Sacramento em procissão pela Igreja até o lugar preparado para a reserva.
8. O Sacramento deve ser conservado num tabernáculo fechado que não deve ter a forma de sepulcro nem ser chamado com esse nome. Com efeito, a capela da reposição não é preparada para representar a «sepultura do Senhor», mas sim para guardar o pão eucarístico necessário para a comunhão do dia seguinte.
9. Convidem-se os fiéis a demorarem-se em adoração ao Santíssimo Sacramento durante um conveniente espaço de tempo, após a Missa. Até à meia-noite organizem-se momentos de oração comum com leituras, cantos e preces. Depois da meia-noite, dado que já começou o dia da Paixão do Senhor, a adoração far-se-á sem solenidade externa.
10. Em momento oportuno após a Missa, tiram-se as toalhas do altar da celebração. Se o não estiverem ainda, é conveniente tapar as cruzes da igreja com um véu vermelho ou roxo. Não podem acender-se luzes diante das imagens dos santos.
11. Sugestão de cânticos: Entrada: A nossa glória, F. Santos, B.M.L. 20, 13; Toda a nossa glória, M. Luís, N.C.T. 124; Salmo Resp: O cálice da bênção, F. Santos, B.M.L. 51, 10; M. Luís, N.C.T. 125; Aclam. Ev.: Dou-vos um mandamento, F. Santos, B.M.L. 51, 14 = N.C.T. 126; Lava-pés: Recebemos do Senhor, M. Luís, B.M.L. 30, 11 = N.C.T. 127; Vós sereis meus amigos, M. Luís, B.M.L. 30, 13 = N.C.T. 128; Ofertório: Onde há caridade, M. Luís, N.C.T. 129; Ubi caritas, c. gregoriano, N.C.T. 172; Comunhão: Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, F. Santos, BML 5, 13; Isto é o meu corpo, F. Santos, 95/96, 52; O Filho do Homem, F. Santos, B.M.L. 45, 16; O cálice da bênção, F. Silva, N.C.T. 131; Procissão Eucarística: Celebremos o Mistério, F. Santos, B.M.L. 25, 11-13; 21, 14; N.C.T. 134.
CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
Neste dia de Páscoa, é à luz da ressurreição que a Igreja celebra a «Bem-aventurada Paixão» de Nosso Senhor Jesus Cristo. É a imolação real do «Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo». Somos convidados a contemplar, com participação íntima e crente, «Aquele a quem trespassaram» e que nos arrasta no cortejo do seu triunfo, libertando-nos do Egipto do pecado e do irremediável da morte para vivermos segundo o Espírito que dá a vida. Espírito que, ao morrer, entregou e, Ressuscitado, confiou à Igreja. Desde o hino do ofício divino nas Horas da manhã que a Igreja canta comovida os louvores da «árvore nobre, gloriosa e santa» que é a Cruz, primícias de um novo Paraíso. Na Cruz se consuma e culmina a história da salvação que tem a sua fonte escondida no mistério do amor do Pai.
De pé, junto à Cruz, na figura de Maria, a Mulher - nova Eva - e do discípulo amado, vemos a Igreja, nossa Mãe, simbolizada também na água e no Sangue que jorram do lado aberto do novo Adão adormecido. E com a água e o Sangue - a água que nos faz renascer, e o Sangue que nos vivifica - está em acção o Espírito: os «três que dão testemunho».
A Sexta-Feira Santa é um dia «a-litúrgico», isto é, sem celebração da Eucaristia. Lembrando a sugestão do Mestre, os discípulos jejuam nos dias em que o Esposo lhes foi tirado... Com efeito, para a Igreja antiga, a Eucaristia quebrava o jejum... O altar despojado no início da celebração da Paixão indica isso mesmo. Neste dia, a contemplação do sacrifício de Cristo no seu próprio acontecer histórico - a «Páscoa-acontecimento» - ocupa todo o espaço, não deixando lugar para a «Páscoa-sacramento» que é a Eucaristia.
A disciplina penitencial da Igreja mantém a Sexta-Feira Santa como dia de jejum e abstinência. Importa, porém, que os fiéis se dêem conta de como é diferente este jejum do que, por exemplo, está também prescrito para Quarta-feira de Cinzas. Mais do que uma prática ascética e penitencial, este é um «jejum festivo» com uma dimensão sacramental específica, que faz dele um verdadeiro contraponto e necessário pressuposto do banquete eucarístico com que se encerrará a vigília pascal. É uma autêntica «greve da fome» de solidariedade com a qual os fiéis desde sempre se associaram, de forma corporal e sensível, à paixão, morte e sepultura do Seu Senhor.
Para a celebração
1.Pelas três horas da tarde, ou noutra hora pastoralmente mais propícia (entre o meio-dia e as 21 h), realiza-se a celebração da Paixão. Respeite-se a estrutura desta acção litúrgica, tal como vem descrita no Missal. Não é a uma liturgia exequial que a Igreja nos convida: nada de paramentos pretos ou roxos... Neste primeiro dia do Tríduo - como no Pentecostes - a Páscoa veste-se de vermelho, a cor do sangue, do fogo, do amor e do Espírito.
2. O sacerdote e os ministros entram em silêncio e prostram-se diante do altar.
3. Na Liturgia da Palavra é proclamado o mistério pascal de Cristo na sua vertente de sofrimento e humilhação, mas já iluminada pela perspectiva da glorificação. De destacar a expressiva proclamação do Evangelho da Paixão do Senhor Jesus, segundo São João, tradicional neste dia. Aí se relatam os momentos da Hora de Jesus, imolado na Cruz à mesma hora em que no templo de Jerusalém se imolavam os cordeiros da páscoa antiga. A Cruz, manifestação máxima do Amor do Pai que, por ela, glorifica o Filho, aparece como desígnio amorosamente abraçado pela liberdade soberana do Redentor: ninguém Lhe tira a vida, é Ele que a dá para a retomar e, assim, congregar na unidade os filhos de Deus dispersos.
4. Após a homilia rezam-se as orações solenes que constituem a forma mais perfeita e exemplar de Oração Universal que chegou até nós numa tradição antiquíssima e ininterrupta: neste dia em que celebra a Paixão de Cristo morto pela salvação de todos, a Igreja prolonga ao infinito os braços da Cruz, alargando o seu coração e o seu abraço orante a toda a humanidade e intercedendo pela salvação do mundo inteiro.
5. Segue-se a solene apresentação e comovida e reverente adoração da Cruz. Ao desfilar diante da verdadeira Árvore da vida, os membros da assembleia cristã sabem-se presentes ao Acontecimento do Calvário e desafiados a tomar posição. Reconhecem-se interpelados pelos «impropérios» com que o Verbo de Deus, incarnado e crucificado, lamenta a ingratidão do seu povo eleito. Por isso todos, a começar pelo presidente, genuflectem diante da Santa Cruz e beijam o Crucifixo, ao mesmo tempo que invocam a misericórdia do Deus Santo, Forte, e Imortal.
6. Finalmente, a mesa do altar é preparada com toalhas em ordem à comunhão com os dons «pré-santificados» na Eucaristia da véspera. Originariamente esta comunhão não fazia parte da Liturgia da Paixão. Com o tempo, porém, prevaleceu a piedade dos fiéis e, assim, a recepção do Corpo do Senhor entregue por nós tornou-se uma forma particularmente significativa de entrar em comunhão com Cristo no seu acto de oferenda ao Pai em sacrifício, neste dia da Paixão.
7. Após a oração sobre o povo, a celebração termina sem saudação nem despedidas, com o mesmo e intenso silêncio com que começou. Ao retirar-se, todos genuflectem ao passar diante da Cruz. Posteriormente voltará a desnudar-se o Altar que assim permanecerá até à Vigília Pascal.
8. Sugestão de cânticos: Salmo Resp: Pai, nas vossas mãos, F. Santos, B.M.L. 5, 14; M. Luís, N.C.T. 135; Aclam. Ev.: Cristo obedeceu, F. Santos, B.M.L. 5, 12 = N.C.T. 136; Adoração da Cruz: Ó Cruz fiel, F. Santos, B.M.L. 51, 11; N.C.T. 142; Gloriosa Cruz de Cristo, M. Faria, B.M.L. 30, 15; O estandarte da Cruz, M. Simões, B.M.L. 45, 19; Adoramos, Senhor, M. Luís, N.C.T. 138; Meu povo, que te fiz eu?, M. Luís, N.C.T. 140; Comunhão: Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, F. Santos, B.M.L. 5, 13; Lembrai-vos de nós, M. Luís, BML 44, 19; N.C.T. 146. Ofício de Leituras e Laudes : N.C.T. 501 e ss.; Laudes, F. Santos, B.M.L. 80/81, 58-65.
SÁBADO SANTO
Importa recuperar este segundo dia do Tríduo sacro na vida e espiritualidade dos fiéis. Dia de jejum, recomendado a quantos o possam guardar, o Sábado Santo é também «dia alitúrgico», sem celebração eucarística. Mas, liturgicamente falando, não é um dia vazio. Recomenda-se vivamente a celebração do Ofício de Leituras e das Laudes matutinas. Onde tal não seja viável, pode organizar-se uma celebração da Palavra que ilustre o mistério deste dia. Esta fornecerá o enquadramento ideal para a celebração dos ritos imediatamente preparatórios dos Baptismos que terão lugar na Vigília, sobretudo de adultos e crianças em idade de catequese, parte integrante do Tríduo Sacro.
Sugestão de cânticos: Ofício de Leituras e Laudes: N.C.T. 515 e ss.; Laudes: F. Santos, B.M.L. 80/81, 65-71.
VIGÍLIA PASCAL1. Com a Vigília Pascal faz-se a passagem do jejum à festa e entra-se no «Dia que o Senhor fez», o «terceiro dia» do Tríduo, o «primeiro dia da semana», o início do grande «Domingo» que durará até ao Pentecostes. Nesta «Vigília em honra do Senhor» a Igreja celebra a Ressurreição do Jesus, «verificando-a» e contemplando a sua eficácia na celebração dos sacramentos da Iniciação cristã.
2. A rubrica do Missal é de interpretação estrita: «toda a celebração da Vigília pascal se realiza de noite, de tal modo que não comece antes do anoitecer nem termine depois do amanhecer do domingo». Os textos e os símbolos falam com toda a eloquência da «noite santa» «inundada de claridade»: bem diferente de mais uma «missa vespertina».
3. Sendo esta a mais alta expressão litúrgica da Igreja e a principal celebração de todo o ano litúrgico, é conveniente imprimir-lhe o máximo da solenidade. Na verdade, estão presentes todos os elementos aptos para fazer vibrar os corações: fogo, luz, água, pão, crisma, incenso, gestos, movimentos, cantos, música instrumental e repicar de sinos, tempo fora do habitual, ornamentações exuberantes... Mas tanta riqueza pode tornar-se um problema e redundar numa celebração confusa e anárquica se não houver a previdência de uma programação cuidada e de um ensaio diligente dos muitos que são chamados a intervir ao serviço da participação plena e consciente de todos.
4. Sugestão de cânticos: Aclamação durante o Precónio: Glória a Ti, Jesus Cristo, F. Santos, BML 16, 8; Salmos Resp: à 1ª leitura: Enviai Senhor, M. Luís, N.C.T. 149; à 2ª leitura: Defendei-me, Senhor, F. Santos, B.M.L. 41, 12; N.C.T. 150; à 3ª leitura: Cantemos ao Senhor, F. Santos, B.M.L. 41, 13; N.C.T. 151; à 4ª leitura: Eu vos glorifico, F. Santos, B.M.L. 41, 14; N.C.T. 152; à 5ª leitura: Das fontes da salvação, F. Santos, B.M.L. 41, 15; N.C.T. 153; à 6ª leitura: Senhor, Vós tendes Palavras, F. Santos, B.M.L. 45, 13; N.C.T. 154; à 7ª leitura: Como suspira o veado, M. Luís, N.C.T. 155; Aleluia: tríplice aleluia, conforme a melodia proposta no Missal, 308, acrescentando-se o Salmo de N.C.T. 156; Ladaínhas: N.C.T. 156, corrigindo as invocações de acordo com o novo Missal, 310-311; Bênção da água: Fontes do Senhor, M. Luís, N.C.T. 158; Durante a procissão e aspersão: Sois a obra das mãos de Deus, F. Santos, B.M.L. 21, 8; N.C.T. 161; Vi a água sair do templo, M. Faria, BML 36, 10; Glória a Ti, F. Santos, B.M.L. 7, 6; Vós que fostes baptizados, F. Santos, B.M.L. 7, 7; Comunhão: O Teu Corpo, F. Santos, BML 24, 16; Cristo, nossa Páscoa, M. Simões, B.M.L. 36, 12; Às bodas do Cordeiro, M. Luís, N.C.T. 166; Final: Louvai o Senhor (= Salmo 150), F. Santos, B.M.L. 16, 13 = N.C.T. 170; Cristo ressuscitou, F. Santos, N.C.T. 169.