Entre os dois doentes está o médico...
Porque viu as manchas da sua torpeza, correu a lavar-se na fonte da misericórdia, e não se envergonhou dos convidados. Já que se envergonhava de si própria no seu íntimo, nem sequer pensou que houvesse mais alguma coisa de que devesse envergonhar-se diante dos outros. Que coisa, então, nos deve espantar? Maria que vai ter com o Senhor ou o Senhor que a acolhe? Que a acolhe ou que a atrai? Direi mais exactamente: que a acolhe e a atrai, porque a atraiu na alma, com a sua misericórdia e a acolheu exteriormente com a sua mansidão.
Ao ver isto, o fariseu despreza não só a pecadora que se apresenta, mas também o Senhor que a acolhe, e diz para consigo: «Se este homem fosse profeta, certamente que saberia que raça de mulher é esta que o toca» (Lc 7, 39). Eis: o fariseu verdadeiramente soberbo e falsamente justo acusa a doente pela sua doença e o médico pelo socorro que lhe presta, ele que estava doente de soberba e não o sabia.
Entre os dois doentes está o médico. Mas um doente conserva, no meio da febre, a sua sensibilidade, ao passo que o outro, com a febre da carne, tinha perdido a força da mente. Com efeito, aquela chorava pelo que tinha feito; o fariseu, pelo contrário, orgulhoso pela sua falsa justiça, agravava a força da sua doença. Na doença tinha perdido até a sensibilidade, este que nem sequer entendia quão longe estava da salvação.
(S. Gregório Magno, Homil. 33, 1-2).