Omnia per manus Mariae
Dedico hoje um olhar especial para a Mulher gloriosa e admirável: Maria - Mãe de Deus (Theotókos), Mãe da Igreja e Mãe dos Homens ("Eis aí a tua Mãe", "prenda inefável" que Jesus nos deu na Cruz). A razão é simples: em qualquer ocasião tal figura excelsa e modelar merece honrosa menção. Faço-o agora pelo sublime significado deste ano (150 anos da definição do dogma da Imaculada Conceição, motivo pelo qual Sua Santidade João Paulo II se deslocou a Lourdes, em 15 de Agosto) e pelo que se celebra, particularmente, nestes últimos meses (várias festas e romarias em honra a Maria, de norte a sul do País, invocada por inúmeros títulos... sublinhe-se que a Senhora não deixa de ser sempre a mesma, a mesma Pessoa de Maria). É neste sentido que me apraz aqui registar algumas reflexões feitas na pregação do Tríduo Solene da Festa da Sr.ª da Saúde, na Capela do Campo Lindo, também culminadas a 15 de Agosto. Reflectiu-se Maria numa eloquente trilogia: no seu aspecto gozoso, doloroso e glorioso. E mais do que reflectir Maria, conhecemo-La pelas suas palavras e atitudes narradas no Evangelho. "Por de trás do seu olhar está sempre Deus", bem afirmou João XXIII. Eis a forma soberana de (re)conhecer Jesus: no interior imaculado do coração de Maria. Deste modo é providente estar-se vigilante, firme e perseverante junto de Maria, no regaço do Senhor. Caso contrário, explode brutamente o afastamento néscio d'Aquele e d'Aquela que são o fundamento do nosso ser cristão. Pois, já um protestante dizia: "Temos a Palavra de Deus, temos uma liturgia viva... mas, no entanto, as nossas Igrejas estão vazias... Não será porque nos falta Maria...?". Referia o pregador: "Um povo cristão, sem a presença e protecção de Maria, é um povo órfão. Viver Maria é pôr em prática o ditado popular: "Quem te veja, te imite"". É nesta certeza que alegremente rezamos cantando e vibramos jubilando com o Magnificat. Note-se sumariamente que há 3 ideias subjacentes neste Hino: 1ª, o gozo (irradia imenso entusiasmo e felicidade em Maria, que brota da bondade de Deus em querer confiar nela); 2ª, a graça da salvação (a salvação não se apoia nas qualidades humanas, mas na misericórdia divina); 3ª, o cântico dos pobres (é em atitude indispensável de pobreza que se pode seguir dignamente os caminhos direitos e rectos). E o Magnificat não perde dimensão nem vigor quando Maria está junto à Cruz, despedaçada e respirando dor. Maria ensina-nos a importância do estar, estar presente (mais do que ter e fazer importa, incomensuravelmente, o ser e o estar; e estar no espaço e tempo certos), mesmo no meio do fracasso e da solidão: não há lugar para palavras (a última palavra está em Deus, porque é Amor) nem gestos, porque o silêncio diz tudo! Maria disse Sim, acarretou até às últimas consequências, não imaginava o tormento de ser Mãe. Mas mesmo assim, abeirada no suplício da Cruz, continuou a sua missão e reafirmou o seu Sim ao aceitar ser Mãe da humanidade. "Toda a vida de Maria tem sabor a Calvário, porque no Calvário está sempre Maria. Ela não necessitava nem de ver Jesus Ressuscitado para acreditar no amor nem das aparições, porque ela é a primeira crente, acreditou sempre. Maria é o calor do fogo e o silêncio da chama viva." Maria só estará no nosso programa de vida se a acolhermos em nossa casa e na nossa espiritualidade. "E se multiplicará na nossa família e na nossa comunidade o vinho do amor, da fé e da alegria. Que Maria, agora e sempre, interceda por nós e nos receba com o seu sorriso maternal". Obrigado Rev. P.e Augusto.
ANDRÉ RUBIM RANGEL