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    O Movimento ecuménico nos caminhos da Unidade


    No dia 11 de Outubro, às 20h, terá lugar a inauguração do Centro Paroquial da Igreja Evangélica Alemã do Porto, sito na rua do Mirante, em Canidelo, Vila Nova de Gaia. No Domingo, dia 12, realiza-se naquele Centro um Culto Solene, e uma celebraçlão ecuménica com a presença do Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho.
    Corresponde esse Centro à concretização de um anseio acalentado há muito tempo por aquela Igreja irmã. Decidimos, por isso, fazer uma pequena entrevista ao principal responsável da Igreja Evangélica Alemã no Porto, e grande impulsionador da construção daquele Centro, o senhor Peter Eisele, que amavelmente acedeu responder às nossas questões.


    Comissão Ecuménica Diocesana para o Ecumenismo - Senhor Peter Eisel, pelos contactos que temos tido em encontros ecuménicos, apercebemo-nos de que o Novo Centro Paroquial da Igreja Alemã do Porto era um anseio e um sonho longamente acalentado . Poderia falar-nos um pouco do seu significado para a vossa comunidade?

    Peter Eisele - Há dezenas de anos que a nossa Igreja Evangélica Alemã do Porto tem realizado os seus cultos dominicais no Colégio Alemão do Porto. Isso acarretou que de vez em quando tem havido sobreposições de data entre um culto nosso e uma determinada actividade do próprio Colégio, embora prèviamente tenha sido acordado que, quem primeiro fixar uma data para um evento, tem direito a que essa data seja respeitada pela outra parte, portanto pela nossa Comunidade ou pelo Colégio Alemão. Por esta razão já tem acontecido, embora raras vezes, um culto nosso ter de ser efectuado com condições geográficas precárias, por exemplo numa sala de ensino, em vez de se utilizar a aula magna do Colégio.
    Além disso, encontros e reuniões da nossa Comunidade têm sido realizadas em casas particulares, o que por um lado origina trabalho para as donas de casa, por outro lado sobretudo jovens preferem encontros em lugares "neutros". Daí a ansiedade nossa de possuirmos instalações próprias. Tal sonho tornou-se realidade a partir deste ano de 2003.
    Para além dos nossos encontros internos, prevemos os seguintes programas no nosso Centro Paroquial: Encontros ecuménicos com Igrejas portuguesas; encontros com grupos de jovens ou outras visitas da Alemanha, interessados em conhecer a nossa Comunidade; alugar as nossas instalações para festas, baptizados e casamentos, pois é importante angariarmos fundos para fazer face às despesas de manutenção correntes do Centro.

    C.E. - Gostaríamos de conhecer melhor a Igreja Evangélica Alemã do Porto, na sua identidade e nas suas relações com as outras Igrejas cristãs. Poderá o Senhor Peter Eisele apresentar-nos esta Igreja Irmã?

    P.E. - A Igreja Alemã do Porto é uma Igreja Luterana, ligada desde 1956 juridicamente e estatutariamente à Igreja Evangélica da Alemanha, a qual representa a central de todas as Comunidades evangélicas alemãs sediadas fora da Alemanha. A nossa Igreja do Porto foi fundada pelo Pastor Martin Richter no ano de 1901, tendo ele fundado igualmente o Colégio Alemão do Porto como instituição pública, tornando-se também seu director.
    Após a primeira guerra mundial, a nossa Comunidade nunca mais teve um Pastor próprio. O Pastor da Igreja Evangélica Alemã de Lisboa, muito maior que a nossa, vem uma vez por mês, no 2º fim de semana do mês, ao Porto efectuar um culto dominical.
    A nossa Comunidade conta com cerca de 140 famílias membras, das quais cerca de 60 pagam uma anuidade. Desde o início dos anos 70, na altura da constituição da antiga Comissão Ecuménica, a nossa Comunidade tem procurado intensificar as suas relações com igrejas portuguesas, especialmente com a Igreja católica-romana, a Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, a Igreja Metodista e a Igreja Batista, participando em cultos de ecuménicos. Estes efectuam-se mormente durante a semana de oração pela unidade dos Cristãos, entre 18 e 25 de Janeiro.

    C.E. - Por aquilo que sabemos, tem estado a Vossa Comunidade Cristã muito ligada ao Colégio Alemão do Porto. Podemos considerar que esse Colégio pertence à Vossa Igreja? Como se faz a transmissão dos valores cristãos e a educação nesses valores na Vossa Igreja e no Colégio Alemão?

    P.E. - Na medida em que a nossa Igreja fundou o Colégio Alemão do Porto, conforme referi acima, assiste à nossa Comunidade um certo direito "moral" de utilizar esse Colégio para as nossas acitividades. Desde a construção do actual Colégio Alemão no ano 1960, a direcção do Colégio tem duma forma geral respeitado este direito, colaborando connosco no sentido de, sempre que possível, concordar com a realização de cultos e outros programas nossos em determinadas datas. Temos na nossa Comunidade alguns membros interessados em manter os valores cristãos e a praticar a fé cristã, reunindo-se em grupos particulares, como sendo o grupo bíblico, o grupo de senhoras, o grupo de pessoas de terceira idade. Até há 10 anos atrás, o ensino catecuménico era administrado pela minha mulher, a qual foi também professora de religião evengélica (catequese) durante 27 anos no Colégio Alemão.

    C.E. Uma questão importante para o entendimento entre as Igrejas Cristãs é a dos Ministérios como "representação" do Senhor Jesus e como serviços em ordem à construção e orientação da Comunidade. Gostaríamos que o Senhor Peter nos falasse do Ministério que exerce na sua Igreja e de outros Ministérios que a servem.

    P.E. O meu Ministério dentro da nossa Igreja consiste em realizar um culto no 4º domingo do mês e em representar o nosso Pastor de Lisboa em celebrações de baptismo, de casamentos e de funerais. Efectuo também visitas pastorais sobretudo a membros da Comunidade mais idosos. Desde 1993, ano em que a nossa Comunidade comprou o terreno no qual foi edificado o nosso Centro Paroquial, tenho-me esforçado no sentido de obter donativos financeiros tanto no seio da Comunidade como em Comunidades sediadas na Alemanha e ainda em instituições eclesiásticas da Alemanha, em especial no Gustav-Adolf-Werk.
    Quanto à preparação de catecúmenos para a confirmação, esta tarefa está adstrita ao nosso Pastor de Lisboa, o qual lecciona os jovens nos fins de semana em que ele se desloca ao Porto.

    C.E. - Outra questão, ultimamente muito debatida tem sido a das raízes cristãs da Europa e se hão-de ou não ser consignadas na futura Constituição Europeia. Poderá dar-nos o parecer pessoal sobre este debate e eventualmente o parecer da Igreja Evangélica Alemã?

    P.E. - Quanto à eventual consignação das raízes cristãs da Europa na futura Constituição Europeia, entendo pessoalmente que isso seria um passo absolutamente importante. Entendo que é imprescindível para a essência espiritual do ser humano, vencer a crise levantada pelo racionalismo do séculio XVIII e pelo liberalismo do século XIX. Consiste essa crise no facto de que a vida pública nos povos europeus (e não só) nas suas vertentes políticas, económicas e culturais, se ter emancipado cada vez mais dos valores religiosos cristãos, isto é de Deus e da palavra de Deus, da Sagrada Escritura.

    C.E. - Uma das dificuldade que enfrentam hoje as Igrejas é a descristianização e a secularização da sociedade. Como sente a Igreja Evangélica Alemã esta dificuldade.

    P.E. - Quanto à nossa Igreja Evangélica Alemã, este tema, concretamente a descristianização e a secularização da sociedade, não tem sido debatidos entre nós. No entanto isso não significa que a nossa Comunidade não sinta o problema. Existe nela uma constante flutuação de uns ou outros alemãs, os quais vêm da Alemanha, tornam-se membros activos, mas passados poucos anos regressam à Alemanha, normalmente por razões profissionais. Daí que certamente actividades na nossa Comunidade carecem por vezes da necessária continuidade para o seu crescimento espiritual.