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    O "Sacramento da Redenção" (V)

    S.D.L.


    A instrução Redemptionis Sacramentum (= "Sacramento da Redenção" = RS) dedica à homilia especial atenção quer no tocante ao seu sujeito próprio, quer em relação ao seu conteúdo. Quanto ao sujeito, reafirma-se a exclusão total da pregação dos leigos durante a celebração da Missa. Não se admitem excepções nem por especial consideração para com eventuais "pregadores" (seminaristas, teólogos, "assistentes pastorais"...), nem por supostos privilégios ou isenções de grupos ou movimentos particulares: "Pela sua importância e natureza, a homilia na Missa está reservada ao Sacerdote ou ao Diácono" (n. 161). Há outras formas de pregação e outras circunstâncias em que é possível - e até pode ser conveniente - o recurso aos leigos (ibid.). Neste âmbito, a concessão mais alargada é a que se lê no n. 74: "Se houver necessidade de um leigo dar instruções ou um testemunho relativo à vida cristã aos fiéis reunidos na igreja, é sempre preferível que isso se faça fora da celebração da Missa. Contudo, por um grave motivo, podem permitir-se essas instruções ou testemunhos depois de o Sacerdote ter pronunciado a oração depois da Comunhão. Todavia, que este uso não se torne um hábito. Além disso, essas instruções e testemunhos não devem ter um sentido que possa confundir-se com a homilia; nem é lícito, por causa deles, suprimir totalmente a homilia". Mas seria inadequado pensar que passa por aí a "autêntica promoção do laicado" (n. 161).
    Passando do sujeito ao objecto, a RS reafirma a doutrina que vem sendo proposta desde o Concílio: A homilia que se faz no decurso da celebração da Santa Missa é parte da mesma Liturgia (n. 64); a homilia deve centrar-se no mistério da salvação; deve ser feita a partir das leituras bíblicas e dos textos litúrgicos, tendo em conta o ano litúrgico; tem uma função doutrinal ("expor os mistérios da fé"), moral ("... e as regras da vida cristã") e mistagógica ("comentário aos textos do Ordinário ou do Próprio da Missa ou de qualquer outro rito da Igreja"); deve centrar-se sempre em Cristo, sem negligenciar os contextos específicos e as circunstâncias de cada celebração mas também sem se desnaturar em intervenção política, discurso profano ou pseudo-religioso... (cf. n. 67). Em suma, estamos perante uma matéria sensível, com directa incidência pastoral, a exigir uma especial atenção dos Bispos e uma constante acção de estudo, promoção e preparação (n. 68).
    A Instrução termina a abordagem da Liturgia da Palavra da Missa recordando que o Credo deve ser recitado segundo os formulários do símbolo da fé inscritos nos livros litúrgicos (n. 69). E passa a considerar alguns momentos da Liturgia Eucarística: a apresentação dos dons, o rito da paz e a fracção do pão.
    Os chamados "ofertórios solenes" tem tido entre nós um exagerado empolamento, perturbador do equilíbrio e dinamismo autêntico da liturgia, com o alegórico e didáctico (por vezes folclórico e cenográfico) a prevalecer sobre o autenticamente simbólico e sacramental. O n. 70 recorda quais devam ser as ofertas apresentadas pelos fiéis: o pão e o vinho para a celebração da Eucaristia e outros "dons que sejam levados pelos fiéis sob a forma de dinheiro ou outros bens úteis para a caridade em favor dos pobres". Tudo o mais está a mais... Importa que os dons externos sejam expressão visível de "um coração contrito e do amor a Deus e ao próximo, por meio do qual nos conformamos ao sacrifício de Cristo que se ofereceu a si mesmo por nós". A dignidade litúrgica deve ser salvaguardada, distinguindo-se o essencial do acessório: no altar apenas têm lugar o pão e o vinho destinados à celebração; o dinheiro e outras dádivas para os pobres serão colocados em lugar adequado, fora da mesa eucarística. "Exceptuando o dinheiro" e "uma parte mínima dos outros dons, é preferível que essas ofertas sejam apresentadas fora da celebração da Missa".
    Quanto ao momento da Paz, reafirma-se o uso do Rito Romano que o situa antes da Sagrada Comunhão. Importa recordar o seu sentido neste contexto: "não tem a conotação de reconciliação nem de remissão dos pecados, mas antes a função de manifestar a paz, comunhão e caridade antes de receber a Santíssima Eucaristia" (n. 71). Quanto à realização do rito, repete-se a recomendação de sobriedade e simplicidade feita na Instrução Geral do Missal Romano.