D. Armindo Lopes Coelho concedeu uma entrevista ao jornalista Norton de Matos, do Diário Económico (Suplemento Portugal Empresarial) dia 20 de Julho de 2000. Depois de recordar o seu percurso até ao actual desempenho do múnus de Bispo do Porto ("a vida pastoral de um Bispo não resulta de uma opção, mas da obediência activa e consentida"), salienta que, apesar das dificuldades, "a vida e actividade pastoral da Diocese se encontra mais organizada e mais viva, a partir do zelo inovador dos sacerdotes e da participação mais activa do laicado diocesano".
Fazendo o balanço da sua vida de Bispo, salienta que está "feliz e sereno" com o desempenho da sua missão. Evidenciando a grandeza e complexidade da Diocese do Porto, em comparação com a anterior (Viana do Castelo), interroga-se: "Onde é mais difícil ser Bispo? Se a dificuldade em causa significa volume de trabalho, intensidade de atenção, necessidade de vigilância ou multiplicidade e variedade de problemas, não há dúvida que é mais difícil ser Bispo do Porto".
Interrogado sobre a formação de sacerdotes, analisando a situação actual e as estruturas diocesanas como "necessárias e suficientes", considera que, não faltando tais condições, "continua a verificar-se a tendência para o decréscimo do número de vocações e de sacerdotes. O futuro aponta para a impossibilidade de "recuperação" de números a que o passado nos habituou".
Sobre a acção do laicado, considera que "o laicado do Porto faz muito, mas tem capacidade para mais e melhor", e refere "a reconstituição do Conselho Pastoral Diocesano, destinado à reorganização concertada e harmónica da pastoral diocesana, hierárquica e laical, única".
Sobre a hipótese da divisão da diocese do Porto, afirma: "a minha posição resume-se na defesa da unidade da Diocese do Porto, na oposição à sua divisão e na recusa de participar nesse processo de criação de novas dioceses". Na questão do relacionamento do Papa com a Igreja portuguesa considera que "quando o Papa se nos dirige por escrito ou oralmente, manifesta sempre a sua estima por nós, pelos Bispos e pelo Povo português em geral".
Confrontado, a propósito das realizações do Jubileu, com certas formas de "merketing" religioso, entende que "a Igreja tem consciência da necessidade de recorrer aos modernos meios de Comunicação. E recomenda-os. Mas há limitações. As expressões e momentos mais significativos funcionam como modelo e como estímulo. E como apelo, voto e esperança". Quanto à forma como os "media" civis tratam a Igreja e as suas acções, entende que "estamos à mercê dos seus critérios, humores e pessoas. Tudo pode acontecer, desde o silêncio e omissão ao meu trato e até à simpatia".
Na questão do ensino nas escolas, contestando a ideia de privilégio, salienta que "há que ter em conta a confissão religiosa da maioria dos pais que mandam os filhos às escolas públicas, e não se pode esquecer que o ensino da religião faz parte da educação global e integral, salvaguardada a liberdade religiosa devidamente entendida e levada á prática. E importa respeitar os direitos das minorias, não apenas em teoria mas com todas as consequências".
Defende o respeito mútuo e a equidistância em relação às forças políticas, no mútuo respeito que afirma manter. No candente problema da despenalização das drogas, salientando o respeito pelo toxicodependente e a necessidade dos apoios que lhe devem ser dados, entende que a lei de despenalização das drogas deveria ter exigido maior consenso e que a lei aprovada necessita de ser "ser aperfeiçoada, por amor da justiça", ao transformar "traficantes" em "comerciantes". E interroga: "Será que o Estado pretende reservar-se o monopólio da distribuição destes produtos de livre circulação, inócuos, fracos, livres ou necessários?". E salienta que "nem todos os caminhos são iguais; há bons caminhos e maus caminhos"...