Sugestões pastorais
As almas dos justos estão nas mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos pareceram morrer, a sua saída deste mundo foi tida como uma desgraça, a sua morte, como uma derrota. Mas eles estão em paz.
Sabedoria 3, 1-3
Na nossa cultura, a morte e a santidade são temas tabú, pois implicam a tomada de consciência do fim físico do corpo ou do esquecimento de si próprio em prol do próximo, e a mentalidade hodierna não gosta de nada que lhes lembre que a vida não é eterna e que o bem comum é superior ao bem pessoal.
Mas as festas de Todos-os-Santos e Fiéis Defuntos revestem-se de grande importãncia para a vida dos cristãos. São a altura ideal para fazer uma boa catequese ao Povo de Deus sobre a verdade sobre a sua peregrinação na terra e qual o futuro da nossa existência. No Catecismo chamam-se novíssimos, ou seja, as coisas novas que aparecem após a morte-passagem. Depois do fim da nossa existência física, teremos o encontro com Jesus Cristo (julgamento, em linguagem tradicional) e o mérito: salvação eterna (paraíso), purificação (purgatório) ou condenação (inferno).
Todos sabemos que nestes dias, as igrejas e cemitérios se enchem de milhares de pessoas. Nestes dias todos são religiosos e exibem com fausto as suas posses finaceiras no arranjo exterior dos túmulos e jazigos de família. Mas os pastores das comunidades devem aproveitar esta ocasião para demonstrar a verdadeira noção cristã de morte: momento do fim da peregrinação na terra e encontro com o Salvador, Jesus.
Por isso, deve ser tida em conta a tónica da esperança e da ressurreição, principalmente no que toca às celebrações de Fiéis Defuntos.
Relativamente à solenidade de Todos-os-Santos há que fazer tudo para afastar a sombra fúnebre que paira nas celebrações deste dia. O dia é de alegria, de claridade, mas continua o contraponto entre os paramentos dos sacerdotes (brancos) e as vestes do Povo (escuras, porque vão ou vêm dos cemitérios). Não se misturem as duas celebrações, mas mostre-se à comunidade que os Santos começaram a sê-lo cá nesta vida e só foram expostos à veneração e mostrados como exemplos de vida cristã depois de terem morrido. Seria uma boa ocasião para divulgar as listas dos mártires e dos canonizados ou beatificados do ano anterior. Estas sugestões só serão lidas depois da festa de Todos-os-Santos, mas ficam as ideias para o próximo ano pastoral.
Aproveitemos bem o mês de Novembro, ao nível pastoral, porque nos oferece, sempre, uma oportunidade de reflectir sobre o essencial da vida e do fim dos tempos, desde Todos-os-Santos até ao Cristo Rei, passando pelos Fiéis Defuntos e os exemplos do Beato Nuno de Santa Maria (6 de Novembro) e de S. Martinho (11 de Novembro). Esta última poderá ser uma ocasião de fortalecer os laços, através do convívio, dos vários grupos e agentes pastorais.
Sérgio Carvalho
sergio.carvalho77@gmail.com