André Rubim Rangel
No dia 24 de Abril, data em que celebrámos o 25º aniversário da morte do P. Luís Rodrigues, a Voz Portucalense associou-se ao convívio realizado pelos Acólitos da Igreja de N.ª Sr.ª da Lapa, dia em que este grupo assinala como sendo o "Dia do Acólito", em homenagem ao seu fundador. Este encontro, que tomou toda a tarde desse dia, teve lugar no Antigo clube dos caçadores, na Rua Alves Redol, Porto. Estiveram reunidos cerca de 40 acólitos actuais e 10 antigos membros do grupo, sob a orientação do P. Agostinho Pedroso, vice-reitor da Igreja N.ª Sr.ª da Lapa.
Eis algumas notas de âmbito histórico-social referentes a esta Instituição. O grupo dos Acólitos da Igreja de N.ª Sr.ª da Lapa, criado pelo P. Luís de Sousa Rodrigues (1906-1979) e coadjuvado numa pequena fase pelo P. Gabriel Costa Maia, das poucas informações disponíveis, aparece pela primeira vez em 1960 e acorreram logo inúmeros rapazes para o serviço exclusivo do altar.
Existe documentação datada de 1966, donde se retira a existência de "meia centena de rapazes entre os 10 e os 18 anos" e que revela a relação da denominada "Associação dos Acólitos da Igreja da Lapa" que esta tinha com a comunidade, bem como com figuras de relevo na cidade: D. Palmira Marques Gomes; General Pinto de Oliveira, Comandante da Região Militar do Norte; D. Domingos de Pinho Brandão, então Bispo Auxiliar de Leira; D. Florentino de Andrade e Silva, então Administrador Apostólico da nossa Diocese do Porto; Nuno Maria Pinheiro Torres, então Presidente da Câmara do Porto; Clara Teixeira, professora do Conservatório de Música; Adelaide Lago e Cunha e Maria Luciana Barbot, entre outros.
Sabemos do profícuo contacto com pessoas, famílias e empresas, quer no envio de boas festas, cumprimentos pelo falecimento de familiares, quer pelo pedido de contributos para as festas então realizadas.
Pelos mapas existentes, é possível verificar que muitos e muitos foram os que passaram pelo grupo dos Acólitos, revelando-se numa primeira fase, a até aos anos de 1975/77, uma tendência para o afastamento dos jovens em idade adulta (20/22 anos).
A partir de 1977, aparece um grupo, que será o preâmbulo do futuro grupo coordenador, que em sintonia exclusiva com o P. Luís Rodrigues, decide revigorar o grupo, nas diferentes vertentes possíveis: Formação, Biblioteca, Desporto. É nesta fase que os Acólitos asseguram como complemento da sua formação, em pleno um serviço do Altar em todas as missas de Domingo e dias de guarda (Santos e Festivos), de uma forma devota e gratuita.
Após o falecimento do P. Luís Rodrigues em 1979, o novo Reitor, o Cón. Dr. Ângelo Alves, dá continuidade ao trabalho de formação do grupo, até 1983.
Em1983 toma posse a actual Reitoria: Cón. Dr. António Ferreira dos Santos, coadjuvado pelos P. Manuel Amorim e P. Agostinho Pedroso. Numa primeira fase é o P. Amorim que tutela o grupo dos Acólitos, donde podemos destacar um forte impulso na actuação do grupo coordenador na formação dos acólitos, no serviço do altar.
Mais tarde, o P. Pedroso fica como responsável pelos acólitos até à presente data, donde se pode constatar a permanente preocupação na formação, no convívio e no acompanhamento de buscar o que é benéfico para o grupo, pois tantas são as ofertas que cativam os jovens nos dias de hoje, para fins efémeros e menos educativos.
Na primeira parte desta actividade, o P. Pedroso dirigiu ao grupo algumas palavras de confiança e esperança, referindo com ânimo que: "Hoje, 24 de Abril de 2004, é uma alegria muito grande podermos ter entre nós, miúdos de então, os que perfazem este ano: 35 anos de Acólito (José João), 34 anos (Miguel Lopes), 32 anos (José Carlos), 31 anos (Fernando Jorge) e 30 anos (Vítor Santos). Temos ainda 13 Acólitos com mais de 20 anos e outra dezena com mais de 10 anos na Instituição". Destacou também alguns testemunhos do Sr. Manuel e do Sr. Cândido (ambos já falecidos), fiéis empregados da Igreja da Lapa na altura do P. Luís Rodrigues. Relembrou ainda as diversas acções deste Reitor, assim como o soalho ser desde então totalmente limpo e picado, havendo zonas onde as pessoas não podiam pisar; o som ser de óptima qualidade e o órgão ser do melhor que havia na altura. "Quando os acólitos e as pessoas entram na Igreja, nem supõem o que era a Igreja", concluiu o P. Pedroso.
De seguida, o José António Pereira, um dos acólitos mais antigos do grupo (desde 1975), leu extractos do poema "A Rua do Paraíso", de Zilda Cardoso, que retrata bem a figura do P. Luís Rodrigues.
Houve depois um espaço mais recreativo, culminando no momento mais espiritual, auge de todo o programa: a Eucaristia Vespertina, às 19h30, solenizada em acção de graças e homenagem ao P. Luís Rodrigues. A Igreja contava com a presença do Provedor, Mesários, Acólitos antigos e actuais, A. O., Catequese, Coros, Conferência Vicentina, Amigos da Lapa e Instituições da Igreja. A Eucaristia foi presidida pelo Reitor, Cón. Ferreira dos Santos, que introduziu a celebração com um discurso profundo e sentido. Referiu que conheceu o P. Luís Rodrigues em Outubro de 1950, no Seminário de Vilar, onde o teve como professor de música até 1959, data em que concluiu a Teologia. "Foi uma honra tê-lo como professor, pois era como um "monstro sagrado" da música, imagem esta que perdurou pela vida fora", continuou o Cón. Ferreira dos Santos. Sublinhou ainda que o Rev. P.e Luís Rodrigues era discreto e reservado, rigoroso na pontualidade. Era alguém com o sentido e preocupação do essencial, do que vale a pena, dos valores. Esta disciplina dava-lhe um ar de austeridade serena. Preocupava-se pelo fomento da dignidade das qualidades humanas. Era um homem comedido na comida e na bebida, era uma personalidade profundamente autêntica; era culto, acompanhava a vida da sociedade e da Igreja. "Alguns membros do clero, por umas razões, figuras da irmandade, por outras, figuras políticas, ainda por outras, davam à língua contra ele. E ele do altar respondia: "Os cães ladram e a caravana passa". O P. Luís Rodrigues também dizia: "Só de um homem às direitas se pode fazer um santo". Foi realmente um homem às direitas e um santo", salientou, por fim, o Cón. Ferreira dos Santos.
De facto, a Igreja da Lapa ficou bem conhecida pelas homilias do P. Luís Rodrigues e pelo exercício do seu ministério e disponibilidade no confessionário. Acorriam muitas pessoas, de vários sítios, para ouvirem a sua palavra. A Eucaristia prosseguiu naturalmente, com a devida solenidade.
Na parte final da celebração, o Cón. Ferreira dos Santos, além de referir o programa da Festa em honra à excelsa padroeira da Igreja, N.ª Sr.ª da Lapa, no próximo domingo, dia 2 de Maio, anunciou que a Eucaristia celebrada serviu e serve de preparação, de rampa de lançamento, para o 1º Centenário de nascimento do P. Luís Rodrigues, a 6/7/2006, coincidindo com os 250 anos da edificação da Igreja da Lapa (17/7/1756).
O programa deste dia terminou com a apresentação do livro "Evangelho para a vida", após a Eucaristia, feita na Sala dos Quadros da Igreja da Lapa. Este livro tem como autor António Casimiro, antigo acólito na altura do P. Luís Rodrigues e, actualmente professor catedrático na Universidade do Algarve, e como co-autor José António Pereira. Editado pelas Paulinas, o livro aborda as reflexões sobre algumas homilias do Rev. P.e Luís Rodrigues, a vida que ele dava e transmitia.