[ Liturgia ]



    Homilário Patrístico

    A Palavra e o Espírito


    Se o cordeiro é Cristo e Cristo é a Páscoa, as carnes das palavras divinas só podem ser as divinas Escrituras. Estas não podem comer-se cruas nem cozidas em água. Portanto, quem se limitar apenas aos simples ditos, come cruas as carnes do Salvador e, participando nas suas carnes cruas, obterá a morte em vez da vida, comendo as suas carnes de modo carnívoro e não humano. «Porque a letra mata, ao passo que o Espírito dá a vida» (2 Cor 3, 6), como nos ensina o Apóstolo.
    E se o Espírito nos é dado por Deus, e Deus é um «fogo devorador» (Dt 4, 24), também o Espírito é fogo. Por isso é que o Apóstolo nos exorta a ser «fervorosos no Espírito» (Rm 12, 11). Portanto está certo dizer que o Espírito Santo é fogo: só depois de o ter recebido nos devemos abeirar das carnes de Cristo, porque assadas neste fogo espiritual, comemo-las assadas ao fogo; com efeito, as palavras serão transformadas por um tal fogo, e nós veremos como são doces e nutritivas.
    (Orígenes, Homil. I sobre a Páscoa)