Correrias de Natal
Há muitas lendas sobre a árvore de Natal, qual delas a mais bela e singular. No entanto, uma surpreende-me sempre que a leio. Conta-se em poucas palavras e pode ler-se em vários sítios da Internet. Contam os antigos que nas proximidades de Belém, num pequeno bosque nasceu uma planta diferente das outras, o pinheiro: crescia muito lentamente, tinha as folhas diferentes e na Primavera não dava flores. Certa noite, os habitantes de Belém foram surpreendidos com uma enorme agitação. As pessoas corriam e diziam:
- Aqui próximo, num presépio, nasceu Jesus!
Também no bosque, onde vivia o pinheiro, a agitação foi muito grande. Os pastores que ali pernoitavam, os rebanhos, os pássaros e as próprias árvores, todos resolveram ir ao presépio ver o Menino que acabara de nascer. A lenda diz todos, mas esqueceu-se do pinheiro. Este, por mais esforços que fizesse, não conseguia libertar-se das raízes. Muito tempo depois, já muito cansado, é que conseguiu pôr-se a caminho. Alguns anjos, que iam a caminho do presépio, viram este pinheiro, esquecido de todos, que tentava chegar junto de Jesus. Recolheram muitas pequenas estrelas e colocaram-nas sobre o pinheiro. Este ficou muito lindo, cheio de luz. Os anjos levaram-no para junto do presépio, onde chegou primeiro que todos os outros. Ali ficou resplandecente a indicar o caminho a todos os que queriam encontrar Jesus.
Esta lenda faz-nos pensar nos apressados deste mundo e também naqueles que estão condicionados pelas circunstâncias da vida. A correria vertiginosa do nosso tempo é, antes de mais, má conselheira, na medida em que não permite que se contemple a beleza da vida. Quanta gente que corre atrás dos grandes pregões deste mundo, com tanta pressa que não tem tempo para viver.
Não importa correr assim
atrás de nada. A lição do pinheiro leva-nos a concluir que tudo tem o seu tempo. Nem sequer vale a pena deixarmo-nos influenciar pela pressa dos outros, quantas vezes um pouco louca. Há o perigo de nos cansarmos ingloriamente.
Os habitantes do bosque, que até se esqueceram do pinheiro, são bem o retrato das pessoas que correm apressados atrás dum Natal que não existe, onde não encontrarão Jesus. São atraídos pela agitação comercial da quadra natalícia, gastam dinheiro em prendas inúteis, desperdiçam comida e bebida. Há, os que, como o pinheiro, estão presos às suas dificuldades, e ficam longe, muito longe, desta correria de Natal. Os primeiros encontrarão não o Jesus do presépio, mas a ilusão duma história de Natal. Os segundos encontrarão a luz do Menino que nasce nos seus corações.
António Jesus Cunha