[ Liturgia ]



    Homilário Patrístico

    Todo o homem é próximo de todo o homem


    "E quem é o meu próximo?" Pensava que o Senhor lhe ia dizer: "O teu pai e a tua mãe, a tua esposa, os teus filhos, irmãos e irmãs". Mas não foi assim que Ele respondeu. Pelo contrário, querendo esclarecer que todo o homem é próximo de todo o homem, respondeu-lhe com um conto. "Certo homem", disse. Quem? Qualquer um, mas homem. Quem é, pois, esse homem? Uma pessoa qualquer, mas pessoa humana. "Descia de Jerusalém para Jericó e caiu na mão de ladrões". Chamam-se aqui ladrões aos mesmos que a nós nos perseguem. Ferido, despojado, abandonado meio morto no caminho, foi desprezado pelos transeuntes, por um sacerdote, por um levita. Mas um samaritano que passava por ali reparou nele. Abeirou-se dele, com todo o cuidado carregou-o no seu jumento, levou-o para a estalagem, mandou que lhe prestassem cuidados e pagou as despesas. Ao que tinha perguntado, pergunta-se-lhe agora quem tinha sido o próximo daquele homem meio morto. Porque dois o tinham desprezado, precisamente os seus próximos, chegou o estranho. Aquele homem, sendo de Jerusalém, tinha como próximos os sacerdotes e os levitas e como estranhos os samaritanos. Mas os próximos passaram ao largo e foi o estranho quem se aproximou. Quem era, então, o próximo deste homem? Diz, tu que interrogavas dizendo "Quem é o meu próximo"? Agora já responde a verdade. Tinha sido a soberba a perguntar, fale agora a natureza. Que disse então? "Penso que foi aquele que usou de misericórdia para com ele". E o Senhor replicou-lhe: "Vai e faz o mesmo tu também".

    (Sto. Agostinho, Sermão 299D, 2)