A Liberdade religiosa e os políticos
Nestes últimos tempos continuámos a assistir a uma autêntica telenovela protagonizada pelo mundo muçulmano, vulgarizada em tristes episódios, e que se resumem a actos de violência dirigidos a embaixadas e interesses ocidentais. Os programas televisivos, de debate, aparentemente esquecidos dos nossos próprios valores, dispensam maior atenção à razão dos supostos ofendidos, que não param de exigir respeito e desculpas pelos seus símbolos e suas crenças religiosas. O Presidente do governo espanhol, José Luís Rodriguez Zapatero, defensor da utópica aliança de civilizações e pouco conhecedor da história do Islamismo e do seu modo de entender a realidade, reuniu-se na semana passada com os líderes religiosos islâmicos. Desde que o Governo chegou ao poder adoptou, pura e simplesmente, uma política laical caracterizada por um agressivo anti-catolicismo. O Presidente do Governo defende e diz entender que os muçulmanos se devem sentir, com toda a razão, ofendidos com as caricaturas de Maomé. Assim sendo, poderíamos perguntar-lhe: Porque não se manifestou defensor do mesmo respeito quando, sem qualquer manifestação de pesar, assistiu passivamente, ainda durante este ano, a que determinados actores e meios de comunicação social atentassem grave e continuadamente contra a Espanha, na pessoa dos seus muitos milhões de cristãos? Para o caso de apelar a alguma amnésia, vejam-se alguns exemplos:
1.- Carot Rovira, de Esquerra Republicana e Maragall, President da Generalitat da Cataluña, que se deixaram intencionalmente fotografar em Jerusalém, na Via Dolorosa, com uma coroa de espinhos;
2.- A receita televisiva, sobre culinária, de como cozinhar um Cristo;
3.- A peça de teatro me cago en Dios, levada à cena;
4.- As ofensas públicas aos bispos, sacerdotes e religiosas na manifestação do dia do Orgulho Gay;
5.- Os programas da Tele 5, durante os dias da morte da Irmã Lúcia, apresentando a mensagem de Fátima como o maior negócio da Igreja portuguesa;
6.- O espectáculo que está em cena, na cidade de Madrid, no qual o excêntrico Leo Bassi, vestido de Papa, consagra preservativos diante de uma selecta assistência...
Mas dá gosto ouvir a sempre eterna hipocrisia dos políticos que se burlam a si mesmos, se desprezam e se amordaçam, e fazem ouvidos surdos àqueles que não lhes respondem com violência, os tais mansos de espírito que, por convicção e não por debilidade, preferem recorrer aos meios legais para denunciar os ultrajes e blasfémias, enquanto que, por outro lado, adulam, condescendem e se acobardam perante os poderosos e os, irracionalmente, violentos. Expressões como há que respeitar as crenças religiosas (islâmicas, serão) na boca dos políticos, são reveladores de uma visão míope.
A liberdade religiosa é defendida pela mesma Igreja que não a reclama somente para si mas para todos, incluídos os muçulmanos. Basta ler a declaração Dignitatis humanae. E perguntemo-nos: Como entende o Islão a liberdade religiosa nos Países árabes e nas suas sociedades teocráticas? Como são tratados os cristãos nesses países? Quantas igrejas podem os cristãos aí construir? Entre os cristãos a lei do Talião está superada pela lei do amor: orar pelos inimigos e pelos que nos perseguem.
Nuno Vieira *
* Sacerdote natural do Porto, da Diocese de Segorbe Castellón, em Espanha