O semanário Voz Portucalense, de forma a assinalar a celebração da Semana Nacional da disciplina da Educação Moral e Religiosa Católica, foi entrevistar os responsáveis do Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas.
Respondeu às nossas questões, António Madureira, professor de EMRC destacado para para o Secretariado Nacional da Educação Cristã, e que trabalha naquele secretariado, na dinamização da formação e acompanhamento de professores de EMRC.
Voz Portucalense - De 13 a 17 de Março celebra-se a Semana Nacional de EMRC. Como vê o SDEIE esta iniciativa?
Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas - Vê-a como um momento privilegiado de afirmação da especificidade da Disciplina e um estímulo à sua valorização, no contexto educativo. Talvez um desafio a sair do seu escondimento e a mostrar a sua face.
Há múltiplos valores e iniciativas que a Disciplina desenvolve e que nem sempre são apreciados ou reconhecidos no ambiente escolar. Sem proselitismo, trata-se, nesta Semana, de afirmar a mais-valia que a disciplina oferece, na perspectiva de uma educação integral. É interessante verificar que o próprio Papa, na sua Mensagem para a Quaresma, alude à necessidade de afirmar os verdadeiros conteúdos daquele humanismo total, que consiste no desenvolvimento integral do Homem e de todos os Homens. Todas as comunidades educativas são, por isso, convidadas a lançar um olhar especial sobre a disciplina de EMRC e a reflectir sobre o seu contributo na promoção de uma cultura que se ambiciona cada vez mais humanista.
Trata-se, todavia, de uma iniciativa, entre muitas outras, que o SDEIE e o SNEC têm proposto, no sentido de formar professores e estimulares alunos, para creditar a Disciplina no contexto da Escola.
VP - O tema deste ano é "EMRC - uma marca na Tua Vida", qual a razão que fundamenta a escolha desta temática?
SDEIE - Entendemos que a Escola tem como finalidade primordial concorrer para a felicidade dos seus alunos. A disciplina de EMRC também concorre para esse fim. A riqueza dos seus conteúdos e a variedade de acções que propõe marcam profundamente e possibilitam um olhar próprio e sempre renovado da Vida e do Mundo que nos cercam.
A disciplina de EMRC desperta, em cada aluno, a procura do sentido profundo da Vida. Deste modo, ela torna-se um acontecimento significativo e um espaço marcante em cada comunidade escolar. Na diversidade de ofertas que o Mundo tem para dar, podemos e devemos deixar um contributo específico, uma marca inconfundível, que gere caminhos de felicidade.
Do professor de EMRC esperamos o dinamismo que não esbarra perante as dificuldades, a humildade que tudo pondera sem nada impor, a alegria que predispõe e contagia
mas, sobretudo, o Amor que cria laços e tudo edifica. Que esta semana produza os seus frutos e marque decisivamente de forma positiva! cada professor, cada auxiliar da acção educativa, cada encarregado de educação
cada aluno que aceite este desafio!
VP - Olhando para a realidade da disciplina de EMRC na área da diocese do Porto, qual o balanço e a realidade constatadas?
SDEIE - Como sabe, a responsabilidade pela disciplina de EMRC na Diocese do Porto é partilhada com o Vigário Episcopal, para a Educação Cristã. E há aspectos cuja responsabilidade não nos é incumbida. Na parte que nos toca, a avaliação do trabalho, obviamente não nos diz respeito. No que concerne à formação de professores, temos procurado responder às solicitações e propostas que nos chegam. Começamos a editar o «Mural», uma espécie de Folha de Ligação, no sentido de criar um espírito de grupo, entre os docentes da Disciplina, e de lhes oferecer pistas, materiais e subsídios de trabalho. Temos um site próprio da disciplina (www.emrcporto.com), que é muito procurado. Propusemos e realizámos um dia de retiro. Temos um professor da nossa Diocese destacado para o Secretariado Nacional da Educação Cristã, e que trabalha connosco, na dinamização da formação e acompanhamento de professores.
Todas estas iniciativas tendem a favorecer o sentido de unidade e de missão eclesial, na leccionação de EMRC. Mas há muito caminho a fazer, desde logo, por parte dos professores: o de o maior consciência apostólica, num serviço que é de natureza eclesial. E é preciso reforçar a consciência da necessidade e do dever moral da formação permanente, nas suas várias áreas (teológica, pedagógica, espiritual). Julgamos que há um trabalho de campo, na Diocese, com professores muito empenhados nas Escolas, cujo mérito tem sido reconhecido por muitas direcções de Escola. Mas a identidade cristã, a vida espiritual, a consciência apostólica e o compromisso eclesial do professor de EMRC precisa de ser mais escrutinado, no sentido, de ser mais acompanhado e mais comprovado. Talvez se devesse entender a missão do professor de EMRC como uma espécie de ministério eclesial, e, por isso mesmo, sujeito a uma avaliação periódica, para uma recondução futura.
VP - Nos 2.º e 3.º ciclos de escolaridade o número de alunos matriculados é muito superior ao do secundário. Qual a razão? E a situação do 1.º ciclo?
SDEIE - Na nossa Diocese, não temos dados estatísticos rigorosos, pela alergia que a maior parte das pessoas da área das ciências humanas tem a tudo o que são «números» e «gráficos». Mas os dados que temos em mão, revelam uma implantação muito forte e positiva da Disciplina nas diferentes Escolas da Diocese. Não precisamos, mas também não nos envergonharmos, de nos compararmos a outras Dioceses. Há Escolas onde se percebe um trabalho árduo dos professores, e onde a Disciplina é muito procurada e bem aceite. Outras, ou pelos contextos ambientais, ou por alguma negligência nossa, apresentam dificuldades e desafios maiores, até se chegar a uma implantação significativa. Quanto ao decréscimo entre o Básico e o Secundário, obviamente que ele se pode explicar a partir de vários factores: desde logo, a possibilidade da escolha pelo próprio aluno, a instabilidade da idade, a sedução do tempo livre e a concorrência de propostas mais aliciantes. Podemos verificar o mesmo decréscimo, na frequência da Catequese. Veja-se o que se passa entre a Catequese da Infância e a Catequese da Adolescência
com a diminuição crescente e até o abandono da prática religiosa depois do compromisso do Crisma.
Quanto ao 1º Ciclo, a manter-se esta situação da já famosa 26.ª hora, o futuro não se revela promissor. Talvez a implementação dos reforços possa abrir espaço para a afirmação da Disciplina, que continua a ser pedida pelos pais.
VP - Que mensagem deixa aos educadores e às famílias e comunidades cristãs sobre a importância da Educação Moral e Religiosa Católica na vida das novas gerações?
Num tempo marcado pelo relativismo ético e pela desesperança, é de salutar importância que as nossas crianças e jovens possam encontrar um fundamento para a sua conduta e claras razões da esperança para o seu viver. A disciplina de EMRC pode ajudar a reinventar o sentido da vida e a formar os alunos para valores estruturantes de uma personalidade cristã. Os pais sabem muito bem que nenhuma outra disciplina, como esta, pode oferecer aos seus filhos uma visão crítica do tempo presente e do mundo actual. É uma referência de sentido para a vida. E isso é crucial para a felicidade de cada pessoa.