Esta palavra está perto de ti para que a possas pôr em prática
1.ª Leitura (Dt 30, 10-14): Converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração
O fragmento data da época do exílio ou pós-exílio. Assim, a referência à conversão é própria de um tempo em que se "relê" o exílio como o resultado de não se ter sido fiel à Lei do Senhor. Só voltando ao Senhor com todo o coração e com toda a alma, isto é, com verdade, se cumprirão as promessas de Deus. A Lei não se apresenta nem como uma imposição nem como umas prescrições estranhas à vida dos homens. O cumprimento da Lei comporta a felicidade que vem de Deus. É uma Lei que não se encontra somente nos lábios, para se ir repetindo, mas está inscrita no coração. Fica claro o contexto de "nova aliança", no qual o que conta não é um cumprimento externo, mas a vida que nasce de um coração cheio do amor do Senhor.
Evangelho (Lc 10, 25-37): Que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?
Lucas nesta perícope evangélica apresenta-nos um "teólogo" a interrogar um "leigo" pela via para a vida eterna. Esta actuação era naquele tempo tão incomum como o seria hoje, e deve explicar-se pelo facto de este homem, ter ficado, pela pregação de Jesus, com sobressaltos de consciência (v.25). O facto de Jesus surpreendentemente o remeter ao agir como sendo a via para a vida, deve entender-se igualmente a partir desta situação concreta: todo o conhecimento teológico de nada serve, se o amor para com Deus e para com o próximo não determinar a direcção da vida (v. 29). A contra-pergunta, sobre o que a Sagrada Escritura entende por próximo era justificada porque a resposta era discutida. De facto reinava acordo em que se aplicava ao membro do povo de Israel, incluindo o prosélito pleno, mas havia discordância sobre as excepções: os fariseus inclinavam-se a excluir os não fariseus; os essénios exigiam que se odiasse "todos os filhos das trevas". Portanto Jesus não terá apenas dado uma definição do conceito de próximo, mas também indicado por onde, dentro da comunidade do povo, passa a fronteira limitante do dever do amor. Até onde vai a minha obrigação? É este o sentido da pergunta. A parábola com que Jesus responde, ter-se-á ligado a um acontecimento concreto.
Para os ouvintes da parábola seria motivo de melindre o facto de o terceiro, o que o cumpre o mandamento do amor, ser um samaritano. Entre judeus e samaritanos reinava, de parte a parte, ódio irreconciliável. Vê-se então claramente que Jesus escolhe exemplos extremos; pela falha dos servos de Deus e pelo desinteresse do mestiço odiado os ouvintes devem medir o carácter incondicionado e ilimitado do mandamento do amor.
A pergunta "Qual destes três pensas que foi o próximo daquele que fora assaltado?" envolve um problema muito discutido. Enquanto que o escriba no v.29 perguntara pelo objecto do amor (a quem devo eu tratar como próximo?), Jesus no v.36 pergunta pelo sujeito do amor (quem agiu como próximo?). O escriba pensa a partir de si, quando pergunta: Onde está o limite do meu dever (v. 29)? Jesus diz-lhe: Pensa a partir daquele que sofre a necessidade, coloca-te na sua situação, reflecte contigo mesmo: quem espera ajuda de mim (v.36)? Então verás que não há nenhum limite para o mandamento do amor!
2.ª Leitura (Cl 1, 15-20): Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo
Este trecho da carta de S. Paulo aos Colossenses é um hino cristológico dividido em três estrofes. A primeira estrofe (15-16b) fala de Cristo criador do universo. Se Ele é a "imagem do Deus invisível", então, Ele é a visibilidade de Deus. Sendo imagem infinitamente perfeita de Deus, Cristo não pode ser criatura. É eterno como o próprio Pai. E "n'Ele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra", isto é, n'Ele foram projectadas todas as coisas criadas.
A centralidade de Cristo em relação ao universo criado é expressa pela seguinte afirmação: "Cristo é o primogénito de toda a criação". Primogénito, neste hino, deve, pois, estar conexo com a ideia de qualidade, de autoridade, de supremacia "sobre toda a criação" e não, propriamente, com a ideia de filiação, em relação ao Pai. A insistência de Paulo em entidades estranhas ("Tronos, Dominações, Principados e Potestades") é para afirmar que não são esses poderes intermédios que unem e reconciliam os homens com Deus, mas unicamente Cristo. Não pretendendo explicar a natureza e o agir destes seres invisíveis, Paulo afirma fortemente que o único ser com poder sobre a totalidade do cosmos é Cristo. A segunda estrofe (16d-18a) termina a falar de Cristo redentor do universo, mas toda ela se refere ainda ao Cristo Criador. Este poder criador é o fundamento do Seu poder redentor, sobre o seu corpo "que é a Igreja" (v.18a). Da Sua primazia na criação vem-lhe a primazia no corpo da Igreja. Na 3.ª estrofe (v.18b-20), Paulo parte também de Cristo-Criador para Cristo-Redentor. Esta redenção tem três momentos principais, por parte de Cristo: Cruz, Ressurreição ("Primogénito dos mortos") e Glorificação (Plenitude).