Entrevista a Denis Villepelet
(cont do n.º anterior)
VP - "A catequese é um processo total" que abrange toda a vida humana e não somente o acompanhamento das gerações mais jovens, a quem se pretende transmitir a totalidade das verdades da fé. Que ligação faz entre maturidade da fé e níveis etários? E que implicações têm esta reflexão a nível catequético?
DV - Nós hoje, em França, temos jovens de 26 - 30 anos que começam a viver juntos, sem se casarem, dedicando-se totalmente ao seu trabalho, tanto mulheres como homens, não têm uma vida precária, pois têm muito dinheiro.
Passado algum tempo têm um filho, e automaticamente a sua lembrança e memória religiosa reaparece. Em seguida reaparece a memória do baptismo, e então dirigem-se à paróquia, onde lhe dizem que fazem muito bem em baptizar a criança, perguntando depois se eles são casados. Eles respondem que não. Os responsáveis da paróquia respondem que eles têm de se casar, senão a criança será baptizada muito tarde. Eles, por sua vez, lá se casam e baptizam a criança.
Depois, a mãe vai acompanhar a sua criança à catequese. Por isso, temos que ter uma grande prioridade, actualmente, temos de catequizar os catequistas. Dou outro exemplo: quem é o transmissor da fé, dentro do casal? - é a criança. Temos aqui um papel completamente invertido. Antes mesmo de falar que a criança é adulta na fé, mas ela já a transmite aos seus próprios pais.
VP - Na sua conferência fala de mudança de atitude catequética. Que caminhos de mudança estão a surgir?
DV - Há muitas coisas que são feitas, de forma a fazer uma verdadeira catequese da infância, da adolescência e dos jovens, através de grandes encontros, nas peregrinações, de caminhadas. Estes são verdadeiros tempos de catequização, de acordo com a tradição teológica. As ideias são transmitidas, passam, respondem a questões muito vivas que se põem. Estes jovens até já não vêm à missa ao domingo, não frequentam a igreja, mas estão permanentemente em busca, e prova disso pode ver-se em Lisboa, em Dezembro passado. Então, procuram mais os acontecimentos comunitários que os acontecimentos eclesiais. É menos uma Igreja de Páscoa que uma Igreja de Pentecostes. É a dimensão se Cristo, no Pai, pelo Espírito. E é a dimensão pelo Espírito que cria o tempo catequético por excelência.
Dou um exemplo: uma catequista dos Alpes reuniu, num domingo, 100 mil crianças e seus pais, numa grande festa, e ela integrou naquela actividade, um tempo catequético. Não foi um tempo de ensinamento, mas de reflexão. Muito cheio de histórias, como que em flashes.
Temos de sair do programático, quer dizer, sair do capítulo 1, 2, 3, etc... e entrar fortemente no ciclo litúrgico. Quero dizer que após a separação da catequese e da liturgia, precisamos de nos reencontrar com os nossos contemporâneos que continuam a celebrar o Natal, a Páscoa e o Pentecostes. Temos de fazer destes tempos, tempos catequéticos fortes, intergeracionais e comunitários, na altura do Natal, Páscoa e Pentecostes.