Alexandrino Brochado
Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado uma evolução na reacção dos portugueses diante da hipótese da ligação de Portugal à Espanha. Recordo os tempos em que, posta esta questão, a resposta era sistemática e negativa. Recordo um artigo que escrevi quando era jovem, com este título: a união ibérica, um absurdo histórico. Nestes últimos dias, feita uma sondagem, o resultado foi, na verdade, curioso. Cerca de 30% dos portugueses aceitavam a união de Portugal à Espanha e, em Espanha, cerca de 50% dos espanhóis viam com satisfação e agrado a ligação de Portugal a Espanha. Ninguém pode negar que há uma mudança e evolução no plano dos sentimentos e das ideias.
A rede de numerosos castelos e fortalezas na fronteira de Portugal com a Espanha explicita bem a tensão que existia entre os dois países ibéricos. Portugal, nessa altura, muito se preocupou com a defesa da sua integridade e independência territorial.
Após muitos anos depois da libertação de Portugal, dá-nos a impressão que a independência do nosso país ainda não foi bem digerida por Espanha. Estarei enganado? Alguém, com responsabilidades no Episcopado espanhol, escreveu, não há muito: é difícil compreender a nossa separação vivendo de costas voltadas.
Pois é. melhoremos, sim, as nossas relações entre portugueses e espanhóis, mas fiquemos como estamos, ambos muito amigos mas independentes. Quando se saboreia o prazer da independência não se quer voltar a ser vassalo. A experiência de 1580 a 1640 não foi nada famosa. Deixou marcas e cicatrizes. O período de Filipe III de Portugal e IV de Espanha, sob a acção antipática e prepotente do conde de Olivares, que tudo fez para integrar plenamente Portugal na Espanha, não deixou saudades no espírito e na alma dos portugueses.
Para os defensores da união ibérica direi com a maior sinceridade: não queremos voltar a ser vassalos. Há que melhorar, como ultimamente se vem fazendo, as relações entre Portugal e Espanha, multiplicando os contactos e troca de informações e de bens, mas continuando os nossos dois países plenamente independentes, com as suas estruturas políticas, sociais e económicas, com a sua história, a sua língua e as suas tradições incluindo as religiosas e tudo aquilo que identifica cada um dos nossos dois povos no concerto das nações. Deixemos as coisas como estão quanto à organização de cada Estado e procuremos melhorar o que há a melhorar.
Pensei seriamente neste assunto nos últimos dias, após o resultado da referida sondagem atrás citada. Creio poder afirmar que há uma tremenda confusão na atitude dos portugueses que perfilham a tese da ligação à Espanha. O desconforto da nossa situação económica negativa, arrastada ano para ano, não pode, a meu ver, justificar a tentação de desejar uma união ibérica e, consequentemente, a perda da identidade e independência do nosso país.