Dar valor ao que temos
O canal estatal de televisão, no notíciário da hora de almoço de 4 de Dezembro, deu notícia de uma actividade de intercâmbio entre alunos do Colégio Inglês do Porto e escolas do Uganda, na África.
Durante 15 dias, os alunos deste colégio foram para aquele país africano «estudar». Certamente, não foram instruir-se ao nível científico mas, sobretudo, ao nível humano. Foram ver como eram as condições daqueles jovens e das escolas que eles frequentavam. Isto sim, poder-se-á chamar formação integral da juventude, pois não se fica, apenas, pela leccionação das diferentes disciplinas e conhecimentos mas educa-os para a cidadania e a humanização.
Achei muito interessantes os testemunhos dos alunos portugueses que afirmavam ter regressado a Portugal com uma visão nova e um ânimo novo para estudar a sério. Diziam eles que aqueles jovens apesar de não terem nada estavam sempre atentos e davam valor a coisas que nós achamos insignificantes. Mas a frase que mais me tocou foi a capacidade dos alunos portugueses terem começado a dar valor ao sorriso que erradiava daqueles estudantes ugandeses.
Na verdade, já tinha ouvido falar deste projecto, pois alguns professores, meus colegas, que residem na área do Colégio Inglês, falavam do entusiasmo que os estudantes que iam para África demonstravam e o empenho colocado em conseguir arranjar computadores para levá-los para as escolas ugandesas. Não sei se conseguiram atingir o objectivo de apetrechar todas as escolas com que contactaram, mas pelo menos algumas foram auxiliadas, porque o que para nós já está ultrapassado e está arrumado lá em casa, para outros é o topo de gama e o máximo, ainda, da tecnologia.
Acho que iniciativas destas são muito importantes e devem ser imitadas pelas nossas instituições de ensino. Os jovens são generosos na oferta do seu tempo livre e muitas vezes seria mais útil promover um intercâmbio de 15 dias ou um mês com outro país ou associação de solidariedade, mesmo em Portugal, do que dezenas de horas de suposta «Formação Cívica» que não passará, em muitos casos, de reuniões entre os directores de turma e os alunos, para tratar de questões burocráticas e comportamentais.
Sérgio Carvalho
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