[ Cultura ]



    Cemitério da Lapa e personalidades ilustres

    Ilissínio Duarte


    Em Abril de 2002, falei neste cantinho da Igreja e culto de Nossa Senhora da Lapa. E falei no mausoléu que guarda o coração de D. Pedro IV (1.º do Brasil).
    A igreja, nos primeiros tempos, era também Real Capela de Nossa Senhora da Lapa. A 1.ª pedra da capela fora lançada em 1755 ali junto ao Monte de Germalde, e logo nos primeiros tempos teve um albergue para os necessitados.
    Constituída a Irmandade por Bula de Bento XIV, passou-se da capelinha à Igreja e à construção duns prédios para sustento do culto e da comunidade.
    Em 1780, Nossa Senhora da Lapa foi entronizada em seu altar, antes das obras concluidas.
    D. Pedro III, de quem a história pouco fala, por pouco haver que dizer, tornou-se patrono da Igreja. Era irmão de D. José e casou com a sobrinha, herdeira do trono. Foi rei-consorte, e viveu de 1717 a 1786. Antes de casar com D. Maria, dava-se com o Marquês de Pombal. Subindo D. Maria ao trono tronou-se inimigo do Marquês.
    D. Pedro IV, que durante o Cerco do Porto ia à missa à Lapa, fez testamento do seu coração à Irmandade como gratidão ao Porto. As torres são de 1850 e anualmente celebra-se missa por D. Pedro IV.
    Junto à Igreja foi criado o cemitério da Irmandade, onde foi sepultado Soares de Passos, cujo verso encimam o portão do cemitério. Leiam. De D. Pedro se dizia que lá iria rezar uma jovem louceira de detrás da Sé, com quem se relacionou durante o Cerco. D. Pedro e Soares de Passos depositaram na Lapa parte de si próprios.
    Soares de Passos, como a Dama das Camélias, tinha, por vezes, a sepultura coberta de flores daqueles que viveram romanticamente o "Noivado do Sepulcro". Na morada do poeta se lê: "Aqui cinzas escuras / Sem vida, sem vimor, jazem agora".
    Os reis de Portugal quando vinham ao Porto ajoelhavam diante do sarcófago Real, mas não ofereciam flores. O povo tocado na sua sensibilidade, dava ao Poeta rosas, violetas e raminhos de cipestre.
    Mas não pensem que só estas figuras exornam o cemitério da Lapa.
    Ora vejam esta pequena lista: Camilo Castelo Branco, que todos conhecem; José Ferreira Borges, político do Sinédrio e autor do Código Comercial; João Guedes de Azevedo, capitalista da zona de Fradelos. O monte de Fradelos desapareceu com a urbanização. Mais: António Silva Porto, grande pintor que muito influenciou os artistas desse tempo; Maria Felicidade Brown, que mantinha na sua casa um cenáculo literário frequentado por Camilo; Arquitecto Marques da Silva, com grandes obras assinadas, entre outras a Estação de São Bento, os Liceus Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas, Edifício Palladium em Santa Catarina, Teatro São João, casas na Rua Alexandre Braga, e outras. Coronel Pacheco (José Joaquim Pacheco), morto no Cerco do Porto em 2/12/1833 em combate com os Miguelistas na Areosa; Venceslau de Sousa Pereira de Lima, ministro dos negócios estrangeiros e presidente do Conselho em 1909, grande orador; D. Manuel de Santa Inês, Bispo que não chegou a ser sagrado porque foi nomeado por D. Pedro IV. Foi ele que benzeu o Cemitério do Prado do Repouso mas não ficou lá, pois a maçonaria exigiu que fosse para a Lapa. Ainda, Major José Parada Lietão, combatente liberal, dos "bravos do Mindelo", lente de Física da Academia Politécnica do Porto; Pintor Júlio Ramos; José Manuel Sarmento de Beires, que fez a primeira viagem aérea a Macau em 1924, primeira das grandes viagens aéreas. Álvaro de Castelões (Álvaro de Castro Araújo Cardoso Pereira Ferraz, 3.º Visconde de Castelões); Augusto Manuel Alves da Veiga, revolucionário de 31 de Janeiro. Também Lima Júnior (operoso cooperador da Câmara Municipal do Porto - 1899/1902 - e muito considerado comerciante, de seu nome completo João Baptista Lima Júnior). Muitos ficaram para a história a denominar ruas do Porto.
    Antes de estar concluído este cemitério monumental, em 1833 durante o Cerco, declarou-se uma epidemia de cólera que levou a construir um cemitério atrás do altar-mor da Igreja. Os monumentos fúnebres do cemitério que guarda tantos cidadãos ilustres começaram a aparecer em 1838.