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    Mea sententia – XVII

    Um sacerdócio luminoso


    Largas centenas de pessoas encheram a Igreja de Cristo-Rei no passado dia 31 de Maio, aniversário dos 50 anos de sacerdócio do Frei Bernardo Domingues, OP. A maior parte desse seu tempo foi passado no Porto, um tempo que utilizou para testemunhar e ensinar o Evangelho de Jesus Cristo.
    Todas as pessoas ali presentes representaram a multidão que ao longo dos anos o Frei Bernardo, de alguma forma, ajudou com a sua palavra, com a sua acção, com a sua oração e o seu exemplo.
    Foi uma cerimónia luminosa dentro da simplicidade litúrgica que é peculiar das celebrações eucarísticas.
    Ouvindo-o na homilia, com humor e simplicidade, ouviu-se a palavra dum homem sábio, humilde e bem humorado. Em tão pouca conta se deu de si! Não foi propriamente uma novidade para quem o conhece de perto. Mas é sempre edificante. Quantas vezes, vezes sem conta!, tive ocasião de o ver emarjar os campos dos saberes confusos com os regos da esclarecida filosofia ou as leiras da teologia em fúlgidas intervenções! Quantas vezes os seus cuidados manentes acudiram e salvaram bens amissíveis! Quantas vezes as suas orações tornaram imarcescíveis sentimentos nobres em perigo de ruinosa murchidão! Quantas vezes os seus conselhos fixaram rumos a espíritos bordejantes, perdidos pela bafagem de ciciosas sugestões, interiores ou exteriores! Quantas vezes a sua fixura serena acolheu os folientes e fátuos entusiasmos de corações imaturos e os conduziu para os trilhos da verdade e os refocitou!
    E, no entanto, é uma pessoa que faz sempre um humilde juízo de si mesmo, sinal evidente do seu espírito evangélico! Melhor do que possa eu dizer, di-lo a Imitação de Cristo, de Tomás Kempis, já no Século XV –“um dos mais notáveis livros de meditação até hoje escritos” - assim: “Todos os homens têm, naturalmente, sede de saber. Mas que aproveita a ciência sem o temor de Deus? Melhor, por certo, é o homem rústico mas humilde, que serve a Deus, do que o cientista orgulhoso que, desconhecendo-se a si mesmo, se jacta de conhecer os movimentos dos astros…Grande sabedoria e perfeição é ter em boa conta as virtudes alheias e evitar de si mesmo qualquer presunção. Se vires que alguém pecou publicamente, ou comete faltas graves, não te deves julgar por melhor, pois não sabes quanto poderás perseverar no bem. Todos somos fracos, mas a ninguém tenhas por mais fraco do que tu…”. Assim pensa e procede o Frei Bernardo!
    O Professor Daniel Serrão, em nome de todos, no final da cerimónia, espargiu sábias palavras, justas e precisas, numa apologia laudatória brilhante, no seu estilo claro e vibrante, e que foi uma forma bela e muito nobre de encerramento.
    E todos agradeceram a Deus as benesses pelo Frei Bernardo veiculadas, e, sincera e sentidamente, bendisseram a graça da Sua continuada presença entre nós e para longo tempo ansiada.

     Levi Guerra