[ Cultura ]



    Lido

    Arnaldo De Pinho


    - Raul Proença, um intelectual político republicano, é estudado pelo Doutor António Reis, professor da Universidade Nova de Lisboa.
    Trata-se dum estudo fundamental sobre uma das figuras mais importantes da Revolução republicana, mas também fundamental para o estudo duma época que virou definitivamente as costas ao antigo regime, fiada nos valores emergentes da liberdade e da autonomia.
    Figura que parte do positivismo de Comte, para se voltar para o espiritualismo vitalista, o seu percurso é fundamental, para ajudar a compreender não apenas os ideais da República, como também a amálgama de doutrinas, querelas e ódios que, desde o começo, minaram a Primeira República.
    Da leitura desta obra se conclui que este doutrinador eminente se quis colocar sempre para lá das rivalidades partidárias de ordem conjuntural, convencido como estava que aquilo que estabilizaria a República seria uma reflexão doutrinal pertinente.

    António dos Reis, Raul Proença, Biografia de um intelectual político republicano, vol. I e II, Lisboa Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 2003, 525+341 p.

    - De novo a revista Estudos que outrora brilhou no CADC de Coimbra, volta a aparecer, esperemos que com promessa de não acabar neste primeiro número da segunda série.
    Segundo o Editorial, Estudos regressa com um "renovado espírito de atenção e abertura a todas as questões candentes da nossa circunstância e a todos os interesses e realizações superiores do homem contemporâneo".
    O número a que nos referimos promete. Trata-se efectivamente dum excelente número, com textos de reflexão doutrinal e reflexão sobre acontecimentos significativos e relevantes para o Humanismo cristão.
    Que esta revista que ocupou um lugar tão importante na reflexão cristã em Portugal e que nunca foi substítuida por nada do mesmo estilo, cresça, dure e se difunda, são os nossos votos.

    Estudos, revista do Centro Académico de Democracia Cristã, Nova série, n.º 1, Coimbra, 2003.

    - O Doutor António do Carmo Reis, conhecido polígrafo e historiador das relações entre a Igreja e o Liberalismo, deu-se à poesia e de seu contacto com as musas saiu agora uma honrada publicação, intiutlada As lembranças de Sião, obra onde na esteira do épico, traduz um verso quase renascentista, o seu peregrinar por África e as lembranças que aí houve das ternuras da família e da Pátria.
    De Isabel de Portugal, escreverá o desconhecido e revelado poeta:
    Foi Deus
    Que te prometeu,

    Rosa Branca
    No jardim de Aragão nascida
    Esposa Santa
    Mãe da Paz.
    Poema de Portugal,
    Nunca o trovador houve igual.

    A. do Carmo Reis, As lembranças de Sião, Vila do Conde, 2004.

    THEOLOGICA, revista da Faculdade de Teologia - Braga publica o seu volume XXXVIII, fas. 2, com a qualidade e variedade habituais.
    O tema é particularmente interessante: "Para onde vai a Religião", contando com textos de João Duque, Carlos Alberto Oliveira, Alfredo Teixeira, Jorge Coutinho, Isabel Varanda, Alzira O. Fernandes e J. P. Abreu, além dos textos habituais de crónica.

    Também a Faculdade de Teologia - Porto, publica o seu número final de 2003 de Humanistica e Teologia (ano 24 - Setembro 2003 - fascículo 3) com a colaboração de W. Pannenberg, António Couto, Arnaldo de Pinho, Etelvina Lopes Pires Nunes, Carlos Mota Cardoso, Jorge Cunha, Francisco Cunha Carvalho, J. Carlos Carvalho, José Magalhães, J. Paulo Antunes, além da secção de Bibliografia.
    Particularmente importantes os dois testos do consagrado teólogo W. Pannenberg que nos visitou recentemente.

    Depois do seu "Desencantamento do Mundo", palavra com a qual Marcel Gauchet estuda a situação da cultura europeia em relação com a secularização e a chamada desmitologização, aparece agora outra obra fundamental que honra a Sociologia francesa em nossa leitura.
    Trata-se do texto La Religion dans la Demócratie. Parcours de la Laicité, Paris, Gallimard, 1998. Obra de leitura indispensável para quem é capaz de ler e de se perguntar pelo lugar da religião na evolução da cultura e não apenas por práticas meramente quantitativas.
    A dada altura escreve o autor: "A laicidade tornou-se, pouco a pouco um facto sem princípios". Na perspectiva do autor, o individualismo e o liberalismo modernos comprometeram radicalmente o projecto laico.
    Depois de afirmar o fracasso da salvação pela República, como pretendia Jules Ferry, afirma que é necessário um sobressalto cultural, passando ou fazendo passar da neutralidade à responsabilidade.