Numa altura em que a informação sobre a moeda única europeia, o euro, dá como certo Portugal no chamado "pelotão da frente" para aderir a essa nova unidade monetária, no sentido de esclarecer os leitores sobre os seus efeitos práticos, transcrevemos uma entrevista ao Presidente da Comissão económica, monetária e da política industrial do Parlamento Europeu, o senhor Karl von Wogau, publicada em Tribune pour l'Europe, Janeiro de 1998.
P. Que modificações surgirão a partir de 1 de Janeiro de 1999 para os cidadãos da União Europeia?
K. von Wogau: - Os cidadãos da União vão ficar muito surpreendidos: nada mudara! Eles continuarão a fazer as compras em Francos, marcos ou outras moedas nacionais, mais o seu extracto de conta indicará já os montantes correspondentes na nova moeda europeia: o euro. Os que são possuidores de acções ou obrigações constatarão que as transacções serão feitas em euros na maior parte das bolsas da União Europeia. Por isso poderão orientar-se melhor nos mercados, comparar o fruto dos investimentos e desenvolver uma melhor estratégia de inversão. Será importante para aqueles que pretendam assegurar um rendimento adicional para as reformas. As mudanças importantes ocorrerão na primeira metade de 2002. Nessa altura serão lançados no mercado as notas e as moedas. Alguns problemas poderão então surgir na vida quotidiana: os distribuidores de notas, os aparelhos automáticos a afixação dos preços, os formulários terão que ser modificados. A comissão a que presido procura pensar em todos os problemas e propor as melhores soluções para os resolver.
P. Será que os parceiros do Euro poderão já declarar os seus rendimentos em euros em 1999?
K. von Wogau - Isso variará de um país para outro, ou mesmo no interior de um mesmo país. Sei que no meu país, a Alemanha, as administrações fiscais de alguns "Lander" irão aceitar a declaração em euros em 1999; outras não.
P. - A introdução do euro trará também inconvenientes para o consumidor? Serão, por exemplo, obrigados e possuir duas contas bancárias diferentes?
K. von Wogau - Não. A partir de 1999, os bancos indicarão nos extractos de cota os montantes em moeda nacional e em euros, a fim de familiarizar os cidadãos com a moeda europeia.
P. - Que encargos terá que suportar o cidadão?
K. von Wogau - AS mudanças conducentes ao euro gerarão no começo alguns custos. Por exemplo, as empresas e os bancos deverão formar o seu pessoal. Os programas de computador terão de ser adaptados. Tais custos vão provavelmente originar repercussões sobre os preços. Em contrapartida, o euro permitira, a seguir, realizar economias. Por exemplo, as empresas não necessitarão de tomar precauções ou fazer seguros contra as flutuações monetárias. Os cidadãos poderão mais facilmente comparar os preços. Não será necessário cambiar dinheiro e a utilização de cartões de crédito nos países do euro não estará de futuro sujeita a comissões de câmbio.
P. Fala-se cada vez mais de problemas sociais na Europa. É certo que o euro obrigará os Estados a maiores economias, o que agravaria a situação?
K. von Wogau - Nós discutimos os princípios para garantir a estabilidade do euro. Há, por um lado, a política monetária, que é da competência do Banco Central e é independente. Há, por outro lado, a política orçamental, que consiste em gerir, da forma mais prudente e eficaz, o dinheiro dos contribuintes. Um estado tem receitas, e não deve gastar demais. Constatamos que mais ou menos todos os países da União Europeia viveram no passado acima dos seus meios. Devem remediar esta situação, mas o euro não é de forma nenhuma responsável por essa transformação política. Se os Estados puserem em ordem as suas finanças, isso é independente do euro. Discutimos os efeitos do euro sobre o mercado do trabalho. Por um lado, ele permitirá uma comparação mais fácil sobre o custo do trabalho e poderá ter como consequência a supressão de empregos. Em contrapartida, a planificação das empresas tornada mais fácil com a moeda única poderá exercer efeitos mais positivos sobre o emprego.
P. - Será que os cidadãos europeus estão bem informados sobre e moeda única?
K. von Wogau´ - Se que nem sempre é fácil informar os cidadãos sobre o euro, mas o interesse das pessoas crescerá è medida que a data da introdução se aproxima. Todos os serviços do Parlamento europeu, da Comissão e dos governos nacionais estão a assegurar a informação necessária. Entretanto, estamos na situação em que as pessoas já não se perguntam se o euro será introduzido, mas como isso vai funcionar. Os esforços de informação dos bancos são igualmente muito importantes. Fiquei agradavelmente surpreendido ao constatar que certos supermercados, em França, praticam já uma dupla afixação de preços, em francos franceses e em euros. (Tribune pour l'Europe, Jan. 98)