[ Especial ]



    À Conversa com... VÍTOR HUGO


    Vítor Hugo Barbosa Carvalho da Silva nasceu a 4/4/1963, em Espinho, onde também reside. É médico dentista desde 1991. Foi o recente seleccionador nacional de hóquei em patins. Foi campeão nacional 9 vezes consecutivas (8 no F. C. Porto e uma em Itália) e 3 vezes campeão mundial, entre muitas outras notáveis conquistas. Deixou de jogar aos 28 anos e retomou este ano, através do Académico de Espinho. Tem como hobbies a arquitectura (gosta de fazer os seus desenhos), o golfe e o cinema.


    VP - Sem uma equipa de estrelas como nos tempos em que o Vítor Hugo jogava, muitos não acreditaram na vitória do último mundial devido à acentuada renovação da equipa. Deste modo, como foi possível a vitória? Donde resultou essa força anímica?
    VH - Resultou de um grande sentido de união, de inter-ajuda, amizade e grande cumplicidade entre os jogadores. Independentemente de tudo isto tivemos uma equipa que jogou um belíssimo hóquei e o facto de termos sido a equipa que melhor defendeu, ou seja, que foi menos batida, levou-nos a pensar que estávamos no caminho certo.

    VP - Está visto que, face às grandes audiências a altas horas da noite, o hóquei é muito apoiado e acompanhado pelo público português. Além do mais, dá mais alegrias que o futebol. Acredita que o hóquei nacional venha ter ainda maior projecção que o futebol e se torne no novo rei desportivo?
    VH - Não, porque acho que o futebol continua bem e há-de continuar. Agora, ficou espelhado que o hóquei é uma modalidade que os portugueses gostam. A seguir ao futebol é, claramente, a modalidade que as pessoas mais apreciam e mais vêem. Disto não tenho dúvidas nenhumas.

    VP - O que significa para ti regressar a jogar hóquei após uns longos anos parados e após ser campeão mundial, como seleccionador nacional? Qual o grande propósito para esta sua nova temporada?
    VH - Não é nada de especial. Desde que interrompi, passados 3 anos ainda ajudei a Académica a subir de divisão nessa altura. Passou por um compromisso que eu tinha de ir ao Brasil e fazer um torneio lá, e para isso preparei-me minimamente. Deu-se sequência numa convocatória para uma selecção ibérica até os 50 anos. Depois, como houve um jogador que se lesionou chamaram-me e eu fui. Para algum espanto meu estava aquela imprensa toda à minha espera. É um bocado desagradável, porque o que eu quero é divertir-me. Eu já tenho 40 anos!

    VP - O que é para ti ser católico nos tempos de hoje, onde vemos muitas guerras e conflitos surgirem com base em fundamentalismos religiosos?
    VH - Nunca concordei com os fundamentalismos. Ser católico no mundo de hoje é complicado. Por um lado é fácil, porque no país em que nós estamos, felizmente para nós, ainda não chegou essa onda de violência. Continuo a dizer que vivemos aqui num paraíso. Por outro lado, para quem viaja e tem possibilidade de entrar em contacto com outras gentes e povos, é preocupante porque isto é uma escalada de violência que se nós não a determos terá a tendência para piorar.

    VP - Sei que por algumas vezes, em altura de grandes momentos, recolheu-se nas igrejas por onde foi passando, proporcionado assim tempo para o silêncio a oração. Como foram ou vão sendo essas experiências de fé?
    VH - De facto, é verdade. Já tive a possibilidade de ir muitas vezes à igreja de Oliveira de Azeméis, aquando deste último mundial. Já quando não éramos campeões há muitos anos, lembro de me ter recolhido na catedral de Oviedo, uma catedral lindíssima, e também em Florença, num campeonato da Europa. Em Florença ficámos campeões a 4 minutos do fim e as pessoas ficaram um pouco revoltadas e não compreendiam. Sinto e senti que estávamos abençoados e, depois, há sempre qualquer coisa que nos chama e que nos diz que quem acredita naquilo que faz acaba por conseguir.

    VP - Entrando agora mais na sua área... a higiene dental é fundamental. Nota-se por vezes um certo descuido no tratamento dos dentes, dado que também o custo dos mesmos fica caro. Além do lavar dos dentes, que mais indicações dá para uma boa preservação dentária?
    VH - É evidente que, sobretudo, na idade entre os 6 e os 10, que é a idade mais problemática, e até mesmo com 5 anos, convém ir uma vez ao dentista, por questão de prevenção. Muitas das vezes detectam-se pequenas coisas que mais tarde pode já ser complicado tratar. Ir todos os anos ao dentista é fundamental, há quem diga de meio em meio ano, mas eu já nem peço isso. De resto, uma boa prevenção é ter uma boa escova de dentes, uma boa técnica de higiene oral e estar alerta, atentos para mínima coisa se ir ao dentista. Não é o facto de se ir uma vez ao dentista que fica caro, o que fica caro é arranjar algo já deteriorado ou uma operação cirúrgica.

    VP - De A a Z... Arafat...
    VH - É um líder polémico, com duas faces e que de certeza absoluta não é por ele que o processo de paz irá continuar, antes pelo contrário.

    VP - Bombeiros...
    VH - São uns verdadeiros heróis que só nos lembramos deles, de facto, quando as desgraças acontecem.

    VP - Coma...
    VH - É um estado de saúde precário, mas que tem sempre um sinal de esperança de vida.

    VP - Divindade...
    VH - Divino é algo que nós acreditamos que existe, eu acredito que existe, e sinto-me bem quando me sinto nesse estado.

    VP - Escândalo...
    VH - Infelizmente tem havido muitos ultimamente pelos piores motivos e que estão quase sempre ligados a situações fora da normalidade... são inadmissíveis.

    VP - Fecundidade...
    VH - Não falo em termos de um gesto da vida, mas é um acto divino.

    VP - Gótico...
    VH - Para mim é o melhor estilo.

    VP - Hipocrisia...
    VH - Acho que as pessoas deveriam ser sinceras, independentemente de tudo. As pessoas podem não ser sinceras a não ser hipócritas. Acho que é bastante desagradável.

    VP - Internet...
    VH - É um elemento de modernidade, de aproximação das pessoas. Só espero que não a levem até ao extremo, que a comunicação apesar de importante não se esgote aí, que não seja um elemento de desunião.

    VP - Júbilo...
    VH - Júbilo é o máximo; é um momento de grande alegria.

    VP - Kremlim...
    VH - Boa... está sempre associado a uma política não só de esquerda, que eu não me revejo, mas que é um sinal, um ponto de referência para um país extremamente importante como foi a União Soviética.

    VP - Leucemia...
    VH - É uma doença; felizmente para nós, dependendo do tipo de leucemia, começa a haver alguns antídotos para a curar.

    VP - Marketing...
    VH - É o que há mais. É importante para promover um produto, é preciso estar atento e ter um sentido crítico, porque muitas vezes está-se a "vender gato por lebre".

    VP - Negócio(s)...
    VH - Fazem parte da nossa existência, desde os antípodas até agora; é um bem necessário, é uma actividade, que muitas vezes está ligada à produção e à riqueza do país.

    VP - Oração...
    VH - É um momento divino de grande utilidade, independentemente de ser feita em conjunto, acho que é um momento útil e de reflexão.

    VP - Prevenção...
    VH - É das coisas mais importantes na nossa vida, não só na saúde, mas em termos gerais. As pessoas devem prevenir-se e precaver-se para evitarem assim males maiores.

    VP - Quadrilha(s)...
    VH - Normalmente associamos a malfeitores. É uma palavra que, se nós podermos evitar, evitamos.

    VP - Rectidão...
    VH - É um comportamento que as pessoas deveriam seguir. Independentemente de tudo devem seguir um rumo sendo rectas, sem fugir dessa linha.

    VP - Segurança...
    VH - Há vários tipos de segurança: a polícia de segurança, a segurança pública, os cintos de segurança... Estão ligados à prevenção.

    VP - Tauromaquia...
    VH - É uma actividade nova que eu gosto imenso, independentemente de haver touros de morte ou não. Tem que ser respeitada. Faz parte da nossa tradição, por isso devemos fortalecer e incentivar. Não devemos ter vergonha daquilo que nós temos, antes pelo contrário.

    VP - Utopia(s)...
    VH - Eu ligo sempre utopia a algo inimagináveis e inatingíveis. Eu acho que quando as pessoas acreditam e têm fé a utopia desaparece. A fé e a crença são muito importantes. É antagónica a utopia.

    VP - Vítima(s)...
    VH - É sempre a "coitidinha". Faz também lembrar a palavra "vitimização", as pessoas considerarem-se vítimas. É algo de qualquer coisa que fez mal.

    VP - Xadrez...
    VH - É um bom jogo para um bom desenvolvimento intelectual. Sinceramente, é um bom jogo. Eu gosto de jogar xadrez

    VP - Zaragata(s)...
    VH - Já eu tive muitas. Tem um bocadinho a ver com a nossa maneira de ser. Acho que os portugueses gostam de uma boa zaragata, desde que não haja consequências negativas. Acho que é agradável, foge também à normalidade, desde que aconteça sob determinados limites.

    Gostos
    VP - Um vinho...
    Vítor Hugo - bom vinho; um tinto, "barca velha", e um verde branco, "alvarinho".

    VP - Uma fruta...
    VH - ananás.

    VP - Um espectáculo...
    VH - um desportivo ou o dos "Rolling Stones".

    VP - Um acessório...
    VH - importante... o cinto.


    Entrevista realizada por
    ANDRÉ RUBIM RANGEL
    rangel@aeiou.pt