Alexandrino Brochado
As palavras que achei por bem escrever não são de forma alguma a expressão dum orgulho familiar ou a vaidade de ostentar na genealogia o nome de alguém que marcou de forma bem acentuada a vida cultural / social e até política do seu tempo. Trata-se do escritor, historiador e jornalista de elevado mérito, Costa Brochado, cuja santa mãe era minha tia. Chamo-lhe santa porque, na verdade, a sua vida foi paradigma duma fidelidade sem limitações no cristianismo que abraçou e praticou como poucos. Era uma senhora de comunhão diária e morreu na igreja de S. Cosme de Gondomar, após ter participado na Eucaristia, a que assistia diariamente. Costa Brochado muitas vezes me falou com a maior admiração e apreço pela sua mãe, a maior riqueza que ele teve em toda a sua vida, paradigma de uma vivência total duma religião pura e densa.
Para além deste aspecto, desejo sobretudo assinalar o valor cultural de Costa Brochado, de cuja vida rica e talentosa acaba de sair um belo livro assinado pelo Dr. João Tiago Sousa e intitulado Costa Brochado, um intelectual orgânico do regime Salazarista.
Acabo de ler o livro com muito interesse como é natural. Presto a minha homenagem ao autor pela seriedade, isenção e imparcialidade com que abordou as traves mestras da vida de Costa Brochado. Historiou. Não emitiu juízos de valor nem fez apreciações ou críticas. Simplesmente narrou a verdade dum período particularmente agitado da nossa história moderna (de 1910 até aos nossos dias). Duma rápida incursão pelos primeiros anos de vida literária e jornalística, Costa Brochado dá-nos a imagem de um jovem preocupado em dar solução aos problemas político-sociais que afectavam a população portuguesa. É preciso ter presente que Costa Brochado vive um conturbado período de instabilidade político-social, consequência em parte da participação nacional no conflito europeu e do efeito desestabilizador que teve sobre o frágil edifício político erigido pela República.
Costa Brochado foi, com toda a certeza, um espectador atento da sua época, primeiro como jornalista incansável e atento, depois privando com o poder, Secretário-Geral da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa.
Pois este membro da Academia de História, jornalista e polemista notável, faleceu em 1989. Apenas se referiram à sua morte o Diário de Notícias, o Boletim Salesiano (ele era um grande amigo dos salesianos), n.º 399 de Março - Abril de 1990 e a Rádio Renascença no programa Despertar (de 28/11/1989). Toda a outra comunicação social ignorou a sua morte. Porquê este silêncio, a forma mais ardilosa e desumana de silenciar um homem com muito valor como Costa Brochado? Penso que a principal razão está no título do livro, agora publicado Costa Brochado, um intelectual orgânico do regime Salazarista.
O esquecimento a que foi votado este jornalista e historiador atingiu o rubro quando certo proprietário do conhecido restaurante lisboeta "Martinho da Arcada" retirou um quadro pintado a óleo que representava o intelectual do Estado Novo, Costa Brochado, com o prestigioso poeta Fernando Pessoa. Sem comentários a esta atitude que num instante pretende reduzir a pó toda a actividade literária dum jornalista e historiador de mérito.
Ao terminar estas considerações em homenagem à verdade devo concluir que a matriz político-ideológica de Costa Brochado é a doutrina social da Igreja Católica. Até ao fim.