[ Liturgia ]



    Homilário Patrístico


    DOMINGO II DA PÁSCOA - ANO B - 30 DE ABRIL DE 2000

    A fé e a visão

    Não teria podido o Senhor ressuscitar sem cicatrizes? Mas sabia que no coração dos discípulos havia feridas que as cicatrizes conservadas no seu corpo haveriam de curar. E que é que diz àquele que tinha exclamado: «Meu Senhor e meu Deus!»? «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que acreditam sem terem visto».
    De quem falava, a não ser de nós? E não só de nós, mas também daqueles que acreditarão depois de nós. Com efeito, pouco tempo depois, quando o Senhor se subtraiu aos olhos dos mortais para que nos seus corações fosse confirmada a fé, todos aqueles que acreditaram n'Ele não acreditaram porque o viram, por isso a fé deles teve um mérito superior. Querendo fazer uma comparação, diremos que aderiram à fé com a devoção do coração e não por tê-lo tocado com a mão.

    (S. Agostinho, Sermão 88, 2)



    DOMINGO III DA PÁSCOA - ANO B - 7 DE MAIO DE 2000

    A Cruz de Cristo é a chave da Escritura

    Antes do seu cumprimento, qualquer profecia está cheia de enigmas e ambiguidades para os homens; mas, chegando o momento do seu cumprimento, ela adquire o seu sentido exacto. Eis a razão pela qual, lida hoje pelos Judeus, a Lei assemelha-se a uma fábula: falta-lhes, com efeito, a chave interpretativa de tudo, isto é, a vinda do Filho de Deus como homem.
    Pelo contrário, lida pelos cristãos, ela é como aquele tesouro outrora escondido no campo, mas que a cruz de Cristo revela e explica: ela enriquece a inteligência dos homens; mostra a sabedoria de Deus, tornando manifestos os próprios desígnios de salvação para com o homem; prefigura o reino de Cristo e anuncia a herança da santa Jerusalém; prediz que o homem que ama a Deus progredirá até ao ponto de ver a Deus e ouvir a Sua Palavra e que, pela escuta de tal Palavra será glorificado de tal modo que os outros homens não poderão fixar os seus olhos no seu rosto de glória (cf. 2 Cor 3, 7).

    (S. Ireneu, Adv. Haer. IV 26, 1)