Sérgio Carvalho
Na passada sexta-feira, passava eu, como habitualmente, por uma das artérias mais antigas da parte oriental da cidade do Porto - a Rua do Heroísmo, quando me deparei com um factor novo, nesta rua, património da minha memória de infância e adolescência, onde cresci e vivi a fé cristã, pois era membro da comunidade da Capela de Nossa Senhora da Saúde, onde fui catequista. A novidade a que me refiro, não foi nem a inauguração da estação do metropolitano, nem o encerramento da artéria devido a manifestações junto à DREN, mas à presença de um local de oração islâmico, não sei se lhe poderei chamar mesquita.
Está mesmo a meio da rua, em frente à futura estação do metro, tendo como companheiros nessa via, a capela da Senhora da Saúde (no início) e o cemitério do Prado do Repouso (no final).
Ia a passar e vi um grande grupo de pessoas, cerca de uma centena, a calçar os sapatos e a ocupar os passeios e até a rua, num clima de dia de festa (a sexta-feira é o dia santo semanal do Islão), dialogando. Pela tez via-se que eram oriundos da África sub-saariana, do Magrebe, do Médio Oriente e alguns de aspecto europeu. Alguns vestiam as suas roupas tradicionais, uma espécie de túnica e outros traziam um colar de contas, que, segundo parece, serve para fazer uma oração litânica.
Os portugueses, ditos comuns, paravam, olhavam e teciam comentários do género: quem são? O que fazem? Um até disse, em jeito de graça - "um dia ainda põe aqui uma bomba"... talvez aludindo ao mito passado pelos media, do fundamentalismo islâmico.
Portugal em geral, e o Porto em particular começam a aprender a viver com a diferença, seja no âmbito linguístico, cultural e mesmo religioso. O nosso país está a receber uma grande comunidade de povos de muitos países e tradições e contacta pela primeira vez (aqui no norte do país) com a religião muçulmana, aquela de que ouvimos falar, na escola, a propósito da fundação da nacionalidade.
É altura de fomentar o diálogo e o conhecimento mútuo, para que no futuro não hajam equívocos e problemas maiores, fruto de medos e de fanatismos.
Fiquei surpreso, mas não espantado, deixando apenas uma nota - será que os "filhos de Ismael" descendentes do nosso pai na fé, Abraão, não nos dão o exemplo de como dever ser o dia do Senhor, parando os seus trabalhos, para se deslocarem à casa de oração para adorar a Deus...