Ontem fiz uma meditação sobre um livro meu de uma edição totalmente esgotada. Ficou apenas um volume - aquele que tinha diante de mim.
Olhei-o atentamente e vi nele uma certa tristeza: a tristeza de ter ficado, de não ter partido para o mundo: de não ter sido exposto nas livrarias, tocado pelos clientes; a tristeza de não ter chegado às mãos de jovens para esclarecê-los, ou de adultos para reforçá-los, ou de idosos para reconfortá-los.
Aquele livro retido estava triste porque não tinha exercido a sua missão de livro: de distrair, de cultivar, de iluminar, de enriquecer espiritualmente.
Não dera felicidade como os seus companheiros que atravessaram o mundo em todas as direcções e prosseguem ainda a sua missão.
Este livro que ficou na estante a representar os outros sacrificou a sua carreira, a sua própria felicidade.
Quantas vidas humanas representadas naquele livro entristecido!
Todos aqueles que nascem com numerosos talentos, que possuem
inumeráveis capacidades, mas que rumaram para a felicidade, para a sua realização plena, não transmitiram a luz que podiam irradiar, nem a ternura que os enriquece nem o amor que lhes arde silenciosamente no peito.
Gente que não realizou seus sonhos, que não teve possibilidade de tirar um curso, que não teve acesso a um emprego razoável, gente que não pôde sentar-se à mesa da felicidade, prisioneira de preconceitos ou limitações : gente que não pôde dar deu felicidade e não foi feliz como merecia ser.
De todas essas pessoas nos lembraremos nesta manhã quente lembrando o livro que ficou silenciosa e humildemente na estante representando todos os outros que partiram para servir com alegria.