Ilissínio Duarte
Hoje, área de grande população e incontáveis casas de negócios, centros comerciais, clínicas e Hospital Militar D. Pedro V e em breve a grandiosa Casa da Música, foi há séculos um ermo. Era-o ainda no século XVI.
Eclesiasticamente tinha a Colegiada dos cónegos da Igreja de S. Martinho com suas residências e a Igreja Românica. Era grande a quinta do priorado residência do D. Prior da Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, os senhores cónegos sentiam-se desterrados pois tinham de percorrer "um terço de légua" para ir à Sé, mas o senhor bispo alegando que era "um sexto de légua" não lhes concedeu ir viver dentro dos muros da cidade, embora eles insistissem que em Cedofeita ficasse apenas um capelão na Igreja de S. Martinho. Se de Tours ou de Dume, tem havido dúvidas ou confusões. S. Martinho de Dume chegou, por mar, ao Porto, no século VI e nesse tempo se converteu o rei dos Suevos. Há quem aponte a construção da igreja por esse tempo, mas há quem afirme que nunca terá sido antes dos séculos XI ou XII. No Século VI Cedofeita era um lugarejo da diocese de Meinedo. Ainda não havia Sé no Porto. Por 1800, o D. Prior de então resolveu fazer o aforamento da quinta e surgiram diversas ruas: Rua da Paz, no local de Asneiros, de que ainda há uns restos; Rua do Priorado, que já no século XX passou a ser de S. Martinho; há ainda o Largo do Priorado, Rua da Saudade, Rua de S. Paulo e a da Torrinha. Esta já era mencionada em 1625. Em 1715 tinha sido aberta a de Burgães que parece significar arrabalde. A Rua Aníbal Cunha abriu em princípios do Séc. XVII com o nome de Carvalhosa. Anibal Cunha foi um revolucionário do 31 de Janeiro que veio a ser Director da Faculdade de Farmácia. A Rua da Igreja de Cedofeita ligava Cedofeita, que inicialmente era Rua da Estrada, aos Passais de Baixo. De Estrada, com o incremento das construções e movimento de trânsito, tornou-se na rua que ainda hoje é. No Século XVIII a travessa de Cedofeita era a Viela do Açougue, porque lá havia um que fazia bons negócios com a população a crescer e os fornecimentos à Ordem do Carmo.
Nasceram também a partir dos terrenos da Colegiada, a Rua da Boa Hora, a do Rosário e em meados do séc. XIX a do Breiner, porque Pedro Melo Breiner foi vítima dos seus ideais liberais. Onde estão a Maternidade, o cemitério inglês e respectiva Igreja, era o Campo Pequeno. O Campo Grande era o que de Mijavelhas passou a Campo 24 de Agosto. Na Rua da Maternidade, 56, nasceu Pedro Homem de Melo, mas a casa original já não existe.
Rua Miguel Bombarda, antes do nome republicano, era Rua do Príncipe, que foi o Rei D. João VI. Hoje rua de galerias de arte e de restauradores de antiguidades.
Na Rua de Cedofeita viveu um ilustre casal: Joaquim de Vasconcelos e Carolina Michaelis de Vasconcelos, primeira catedrática feminina da Universidade de Coimbra. A Rua da Pena que passou a ser da Freguesia de Massarelos foi aberta na quinta de S. Vicente da Pena que teria pertencido a Vicente Pedrossem da Silva.
Em 1343 houve um sínodo em Cedofeita. Foi durante o Reinado de D. Afonso IV que Dom Pedro Afonso, bispo, ameaçou o rei de excomunhão, pois por essa altura, quer os burgueses quer o Rei, tiveram sérias disputas com o bispo.