Isabel Sena*
Noutro dia fizemos um pique-nique. Quase há 16 anos durava o desejo deste encontro.
De quem? Do meu antigo CLÃ (grupo de Caminheiros dos 18 aos 22 anos), o Clã João Paulo I, hoje já extinto, pertencente ao Agrupamento de Vilar, no Porto, já extinto também. Estivemos presentes cerca de 70 pessoas, contando com os filhos, claro!
Mesmo ao fim destes 16 anos, pareceu que nos havíamos separado há poucas semanas... tal foram as nossas vivências...as nossas cumplicidades...
Quase todos na mesma... a mesma (boa) disposição... a mesma amizade... os mesmos risos ao recordar aqueles momentos... cada um nas suas características... as mesmas caras... os mesmos olhares... claro que alguns quilitos a mais... e alguns cônjuges e filhos que ainda não conhecíamos.
De repente, não sei mesmo explicar porquê, dei comigo a achar engraçado o facto de quase todos nós estarmos (ainda) casados com os namorados dos tempos de Caminheiros. Bem, todos não, pois dos 22 casais existentes apenas um resultou em divórcio, de referir que o "cônjuge" deste elemento do Clã nunca foi escuteiro.
Não poderei dizer que o facto se torna engraçado, mas pelo menos curioso perante os factos da actualidade.
Não sou detentora de estatísticas, mas sei que ultimamente os números de casais divorciados se têm tornado preocupantes, e têm vindo a aumentar. Poderei dizer que um divórcio em 22 casais constituirá uma percentagem de 4,5%, o que me parece muito abaixo das últimas estatísticas. Dirão os "estatísticos" que a minha amostragem não é significativa... que estas minhas contas não servirão a afirmações conclusivas...
...mas eu sou levada a pensar...
... mas eu até talvez queira acreditar... que foi no Escutismo que toda esta gente experimentou inúmeras experiências de partilha de ideias... partilha de projectos, alguns falhados, outros muito a custo conseguidos, outros ainda acarretando ora medos, ora alegrias... mesmo a partilha do empenho na concretização de projectos que, não sendo seus, foram democraticamente aceites pelo grupo ... a partilha de um último cantil de água no cimo da montanha... a partilha de um ombro... de um choro... daquelas lágrimas que tanto poderiam ser de desespero de uma subida mais íngreme, como de um mapa mal interpretado, ou ainda da chegada triunfal ao cimo da montanha, e da comoção ou espanto perante a obra que Ele nos deixou...
Será que tudo isto nos preparou melhor para a vida? Para uma vida a Dois? E depois a três, ou quatro...
Eu quero acreditar que SIM
*Bonfim