Cónego Joaquim Teixeira Carvalho de Sousa
Faleceu às postas do Natal, no dia 22 de Dezembro de 2003, o Cónego Joaquim Teixeira Carvalho de Sousa, conhecido como o "Abade das Antas". Natural de Telões, Amarante, nascido a 15 de Setembro de 1913, contava 90 anos.
Ordenado sacerdote em 1935, desempenhou funções na Cúria eclesiástica do Porto, como Secretário do Bispo de então, D. António de Castro Meireles. Em 1938 assumiu as funções de capelão do Hospital da Ordem do Terço, no Porto e em 1941 foi nomeado Pároco das Antas, cargo que desempenhou até ao seu falecimento, ao longo de 62 anos, como recordou D. Armindo na homilia do seu funeral. Foi designado depois para as funções de Vigário da Vara da 3.ª Vigararia do Porto, cargo que desempenhou em outro mandato. Vigário Episcopal para o Clero a partir de 1970. Em 1971 é designado Cónego da Sé do Porto e em 1974 assume as funções de Director Diocesano da União Apostólica do Clero. Foi também Director Espiritual da Legião de Maria e Assistente dos organismos de Juventude e Adultos da Acção Católica Diocesana (Juventude Operária e Liga Operária Católica), cargos de que de ocupou ao longo de 30 anos.
O abade das Antas foi uma figura de grande relevo no clero diocesano, tanto na acção pastoral como no apoio ao Bispo da Diocese, particularmente durante o tempo de exílio de D. António Ferreira Gomes.
O funeral foi presidido pelo Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, que na sua alocução salientou o sentido da morte de um ilustre membro da Igreja ("a paróquia está de luto, a diocese está de luto", disse), mas afirmando o sentido providencial da sua acção e a esperança dos frutos do seu exemplo, ao confiar ali mesmo a responsabilidade de pároco da paróquia de Santo António das Antas ao recentemente nomeado vigário paroquial da mesma, o P. António José Rodrigues Bacelar.
Um testemunho
O Padre morreu, mas a obra ficou. O Abade das Antas deixou de pé a sua grande obra, que há-de lembrá-lo durante muito tempo.
Mas, mais do que a obra humana que na paróquia das Antas ergueu a olhos vistos, ele deixou o "Edifício Espiritual", invisível, mas real, no testemunho que deu o no muito que ensinou na Legião de Maria, quando a voz se lhe embargava e os seus olhos de cor azul se enchiam de lágrimas cor do Céu, ao celebrar o mistério de Jesus na Eucaristia e ao falar do mistério para explicar a Sagrada Escritura.
Legionária de Maria, sou testemunha de quanto esta voz embargada e essas lágrimas me penetraram, me puseram a tremer e me fizeram perceber tudo o que ensinava o Abade das Antas.
Também tremi um dia, quando, através do telefone, me pediram que fizesse uns versos ao Senhor Abade para um certo aniversário que se ia realizar daí a oito dias, num gesto de gratidão pelo muito dedicado à Legião de Maria. A minha resposta imediata foi: "Não sei, não sou capaz, não conheço o senhor Abade a não ser de encontros em retiros ou conferências, não sei o que dizer". Em tom de ordem, retorquiram-me que pensasse e fizesse. Sentindo-me comprometida, virei-me para o Espírito Santo, que logo em lembrou o que com ele aprendera nesses encontros, e repentinamente começou a surgir o trabalho que afinal veio a servir de homenagem e que, lido e entregue por mim na festa, provocou no senhor abade , apanhado de surpresa, um choro convulsivo.
As lágrimas do Abade das Antas eram como as das crianças: puras. Em presença de tamanha simplicidade e tão grande humildade, ninguém, diante de tais lágrimas, podia ficar indiferente. Foi certamente por isso que no seu funeral, em celebração presidida pelo Bispo do Porto, na Igreja das Antas, cheia de padres e leigos, não houve corações que não sentissem nem olhos que não chorassem.
Esta foi talvez a primeira homenagem prestada ao Abade das Antas, que lá do Céu, em voz clara e nas lágrimas cor da alegria nos confirma o que ensinou na terra: que a morte é o salto para a vida eterna. (Margarida Rosa Vieira, Legionária de Maria no Porto).