II Simpósio dos Diáconos Permanentes de Portugal
Realizou-se em Fátima, na Casa Nossa Senhora do Carmo, o II Simpósio dos Diáconos Permanentes de Portugal. Presidiu D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios. Participaram mais de 150 Diáconos e Candidatos ao Diaconado e também um grande número de esposas. Presentes vários Bispos:
D. António Montes Moreira, Bispo de Bragança-Miranda e Vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, D. José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego, D. António Taipa, Bispo Auxiliar do Porto, D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro e D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo Emérito de Leiria-Fátima. Participaram também a grande maioria dos Delegados Episcopais para o Diaconado Permanente. Os trabalhos foram coordenados pelo Secretário da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, P. Jorge Madureira.
Recorde-se que em Portugal a Diocese pioneira no Diaconado Permanente é Setúbal, sendo seu Bispo D. Manuel Martins. Há dioceses com um bom número de diáconos: Lisboa 70, Aveiro 28. São muito poucas as dioceses que ainda não têm diáconos permanentes: Viana do Castelo, Guarda e Viseu têm o primeiro grupo em fase adiantada de preparação; Leiria-Fátima vai avançar com o processo. Na garnde maioria das Dioceses há candidatos em preparação. A Diocese do Porto ordenou em 1992, pelo Arcebispo D. Júlio Rebimbas, o seu único grupo de 18 diáconos. Destes, dois já faleceram, um está dispensado do exercício do ministério e um, por causa da sua nova residência, passou para o serviço da Diocese de Aveiro. Perspectiva-se um novo grupo que poderá começar brevemente o ano zero ou de discernimento. Com as ordenações previstas, em Portugal o número de diáconos será brevemente superior a 200.
O tema central deste simpósio Diácono testemunha e guia da caridade e da justiça foi tratado por D. António Marcelino com as conferências Num mundo de pobres, uma Igreja serva e Novas fronteiras se abrem à caridade para os Diáconos; por D. Manuel Clemente com a conferência O Diaconado: do passado para o futuro; pela Doutora Isabel Varanda com a comunicação O que pede e espera a Igreja do Diácono, integrada numa mesa redonda em que participaram o P. José Lobato e o Diác. Armando Dilão; pelo Diác. António Poças e esposa Laura Poças com o testemunho O ministério diaconal na perspectiva familiar e pastoral; pelo P. Doutor Georgino Rocha com Síntese conclusiva e perspectivas para o futuro.
Oportunamente serão publicadas as actas deste simpósio com os textos integrais de todas as intervenções.
De tudo quanto foi dito, há aspectos muito importantes a reter. Para o Bispo de Aveiro, o diaconado é dom sempre a descobrir, a desenvolver e a valorizar. Para D. António Marcelino, A Igreja serva e pobre concretiza-se no diácono. Por isso, a urgência da Igreja é aprender a lavar os pés aos irmãos, reconhecendo que o outro é que é importante. O diácono é inquietação permanente no seio da comunidade a favor dos pobres. Para D. Manuel Clemente, citando o Catecismo da Igreja Católica, o diaconado constitui um enriquecimento importante para a missão da Igreja. Isabel Varanda disse que este ministério se concretiza em ser diácono do mundo e para o mundo onde Deus encarnou. Adiantou que a diaconia é inspiração para a Igreja e para a sociedade. Por esta razão espera-se que o Diácono seja testemunha coerente do Evangelho que deve encarnar na vida, actualizando permanentemente as palavras que o Bispo lhe disse na ordenação: Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas. O Diácono, ponte entre pontes, deve prefigurar na Igreja a resistência às lógicas individualistas, contribuindo para desinstalar as conciências. Na sua vida deve ser para o outro/com o outro, pois aquele que dá revê-se no que recebe. Para o Diác. Dilão, o Diácono deve ser imitador de Cristo. Lembrou a frase de Bento XVI aos Diáconos de Roma: Cristo esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de servo. Para o Diác. Poças, no exercício da diaconia, caridade a justiça exigem gestos de humanidade e cumplicidade. O Diácono casado conta na sua missão com o suporte amoroso da esposa, dos filhos e dos amigos. Para a Laura Poças, há ainda muito caminho a percorrer até que o diaconado seja correctamente aceite na Igreja. Adiantou que o Diácono não é um intrometido na Igreja, não é concorrente de ninguém, mas aquele que serve configurado a Cristo-Servo. Afirmou ainda, no seu profundo testemunho, que aqueles que ajudamos, por quem damos a vida, são a nossa ponte entre o céu e a terra.
As conferências de D. António Marcelino traçaram os verdadeiros caminhos do Diácono. Incarnando Cristo-Diácono, servo dos homens, o Diácono deve um sinal privilegiado do amor de Deus nas tão diferenciadas formas de pobreza nas suas antigas e novas expressões. Toda a imensa riqueza das duas intervenções de D. António Marcelino estará disponível aquando da publicação das actas, podendo então ser meditada pelos diáconos e pelos presbíteros.
D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, fez uma intervenção de grande oportunidade com o título O Diaconado: do passado para o futuro:
Não se poderá talvez fazer uma ligação directa e absoluta entre os sete "diáconos" da comunidade primitiva e os diáconos claramente definidos como grau do sacramento da Ordem, como aparecerão depois. Mas não admira que a alusão seja feita, pois há na passagem bíblica vários tópicos que se aplicam muito bem ao diaconado propriamente dito. Em primeiro lugar, trata-se já de um serviço distinto do dos Doze: os Sete destinavam-se ao serviço das mesas, ou seja, ao atendimento das necessidades mais imediatas. Não exclusivamente: os Actos dos Apóstolos mostram-nos Estêvão e Filipe a pregar e este último a baptizar. Além disso, este serviço é eclesialmente apurado e apostolicamente garantido, através da imposição das mãos dos Doze.
A paz de Constantino (313) desenvolveu a doutrina (concílios ecuménicos), a liturgia e a iniciação cristã e estabilizou os ministérios. O diácono, muito perto do bispo, serve na liturgia, na pregação e na catequese, na caridade e na administração.
À Igreja e ao culto urbanos, sucederam-se depois das invasões bárbaras as cidades empobreci das, as populações dispersas e os pequenos templos levantados por senhores eclesiásticos ou leigos. Apetecia-se mais o sufrágio dos defuntos, ligado à Eucaristia e ao "sacerdote"; e a diaconia passava para a caridade episcopal ou monástica.
Nem Trento (século XVI), nem o Vaticano I (século XIX) fizeram ressurgir o diaconado como grau estável e bem definido do sacramento da Ordem. Foi assim relançado pelo Vaticano 11 0962-1965). E o Catecismo da Igreja Católica, retomando as indicações conciliares, diz o seguinte no seu n.° 1571: Este diaconado permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um enriquecimento importante para a missão da Igreja. Com efeito é apropriado e útil que homens, cumprindo na Igreja um ministério verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas obras sociais e caritativas, sejam fortificados pela imposição das mãos, transmitida desde os Apóstolos, e mais estreitamente ligados ao altar, para que cumpram o seu ministério mais eficazmente por meio da graça sacramental do diaconado.
Aliás, o século XX agudizou necessidades, mesmo em meios materialmente desenvolvidos, levando a Igreja a reconhecer o seu centro ministerial em termos não exclusivamente "sacerdotais". E o Vaticano 11 também redefiniu o presbiterado em termos mais específicos e não absorventes de todo o ministério ordenado. Estes dois graus da Ordem puderam ganhar mais consistência específica e complementar.
E, se o diaconado se exerce na tríplice missão pastoral, da palavra, dos sacramentos e da caridade, é nesta última que ele encontra maior definição para si mesmo e potenciação para a comunidade toda (cf. Normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes, 1998, n.° 9).
A própria condição e apresentação do diácono facilita-lhe uma acção de fronteira e mediação muito oportuna. Constituindo-o como "um ministério do limiar, que tenda a preocupar-se com a Igreja de fronteira: trabalho naqueles meios em que padre não está presente, [ ... ] dos grupos em dificuldade ... As tarefas diaconais serão orientadas para actividades de ordem social, caritativa ou administrativas, sem no entanto negligenciar a imprescindível ligação com as tarefas litúrgicas e de ensino" (Comissão Teológica Internacional - Diaconado. Evolução e perspectivas. Lisboa: Communio - Rei dos Livros, 2003, p. 85). (D. Manuel Clemente, Bispo do Porto)
António Jesus Cunha