Sexualidade: educar para a castidade
1- Na "Familiaris Consortio", n.º 20, João Paulo II afirma que "dar testemunho do inestimável valor da indissolubilidade e fidelidade matrimonial é um dos deveres mais preciosos e urgentes das famílias cristãs do nosso tempo". Perante a situação de alguns matrimónios, vale a pena insistir nestas verdades basilares que levarão os casais a vencer as graves dificuldades que os perturbam e, muitas vezes, destroem o amor conjugal, baseados em falsos postulados de certas culturas vigentes, destruidores fáceis e irresponsáveis que conduzem ao divórcio, esmagador da paz entre os esposos e da séria educação dos filhos.
Só em circunstâncias em que a convivência se torna impossível, a Igreja prevê a separação temporal ou definitiva dos cônjuges, como diz o n.º 1649 do Catecismo da Igreja Católica. Mas mesmo nesses casos, a Igreja aponta os males que daí advêm para o casal e para os filhos, pelo que todos devem esforçar-se por evitar que tal suceda.
A indissolubilidade é um bem que se enraíza nos desígnios de Deus que deseja que ela seja fruto, sinal e exigência do amor que Ele tem ao ser humano e que o Senhor Jesus vive na Igreja e renova em cada casal e o leva a dar aos filhos um rumo certo. Há que lutar contra a cultura de demasiadas facilidades, fruto de um acerbado individualismo egoísta, que os meios de comunicação social, cinema, novelas, etc., e uma legislação distorcida exaltam e defendem e que origina, frente a dificuldades bem superáveis, desuniões e afastamentos destruidores do amor, se não vier à tona da vida um egoísmo banal. Muitas crises se evitariam se o amor conjugal fosse uma entrega total, em que cada um procura o bem do outro. Dizia alguém que o verdadeiro amor de entrega é morte. Parece uma contradição, mas há nesta afirmação uma verdade bem latente: amar é pôr de lado o egoísmo e dar felicidade ao outro. Isto exige entrega, sacrifício, doação plena e uma vontade forte, aliadas a uma fé viva e esclarecida.
Em casos graves em que reconhecidamente a celebração do Matrimónio não foi válida, desde que este facto seja devidamente comprovado com razões muito sérias e firmes, a Igreja declara a sua nulidade.
2- O ser humano é espírito encarnado e por isso se não dá em abstracto, mas em forma masculina e feminina¸ a sexualidade é pois uma sua característica essencial. Cada pessoa é criada para viver em comunhão com outro de sexo diferente, embora isto não signifique que os solteiros e célibes sejam incompletos como pessoa, mas sim que a plenitude da unidade humana se alcança em dar e receber o amor.
A consumação da sexualidade, por si mesma, abre-se ao filho que não é apenas resultado do acto físico mas sacramento - fruto visível - do dom do amor, como escreveu Lívio Medina, no seu livro "Amor Conjugal e Santidade". Isto exige uma união plena e duradoira: o sexo conjugal não é um jogo, mas uma plenitude de amor, pois o ser humano não é apenas sexo, mas une-se ainda a uma espiritualidade. Por isso, o amor conjugal é o ápice do amor de amizade: é entrega total de corpo e alma em que se coloca de fora o egoísmo: é amor com raízes no amor de Deus, generoso e pleno e criador de mais união. Não admira que toda a história humana tenha dado á família e ao matrimónio um valor sem limites e verificamos, na prática, que o ataque à família é a causa da maioria dos males sociais, tão evidentes, no nosso tempo.
O matrimónio é a instituição onde as relações sexuais são lícitas e honestas, como afirma a "Gaudium et Spes", no n.º 49; nele, as relações íntimas são fonte e manifestação de amor, favorecem as virtudes básicas da vida cristã e impulsionam o amadurecimento humano e espiritual da pessoa. Mas isso exige uma doação plena de cada um e o respeito pela saúde e dignidade um do outro: nem tudo o que se pode fazer se deve fazer; nada de egoísmos. Respeitar o outro, um trato delicado, o lembrar os seus gostos, evitar molestar, eis uma forma para vencer exageradas concupiscências e conseguir uma vida conjugal digna e nobre. Todo o acto sexual do marido e mulher deve enriquecer o amor matrimonial, pelo que se terá em conta as diferenças físicas e psíquicas de cada um e ainda satisfazer o outro e não apenas o próprio. O Catecismo da Igreja Católica, n.º 2346, afirma que a sexualidade conjugal deve ser um testemunho da fidelidade e ternura de Deus.
O matrimónio é caminho certo para a santidade cristã, pelo caminho do sacrifício - unido ao de Cristo - que cada um faz pelo outro e pelos filhos, em todos os aspectos, numa doação plena, como Dom de Deus, e na paternidade responsável. Daí a necessidade da oração humilde para pedir a Deus a virtude da castidade, como recomenda João Paulo II. No amor e suas manifestações rectas, o fruto natural são os filhos, embora nem todo o acto sexual seja para os gerar, mas sempre um hino de amor e de entrega mútua e nobre.
Quanto ao número de filhos urge pensar que eles são um dom de Deus e que cada casal e só ele, com generosidade, o deve planear atendendo às normas morais e da saúde. Curiosamente, as famílias numerosas são as mais alegres e generosas, mesmo vivendo algumas dificuldades económicas, pois nelas o egoísmo é um desconhecido.
O aborto querido e vivido é um assassínio, um crime hediondo e anti-humano. É legítimo o recurso aos períodos de infertilidade.
É preciso que os esposos não se deixem dominar pelo erotismo vulgar no mundo actual e pela propaganda de certas correntes políticas e sejam capazes de viver uma castidade de amor total, sem se deixarem arrastar pelo medo, tendo uma plena confiança em Deus e na actuação da sua graça, numa vivência séria e responsável da vida sacramental e de oração.
Serão famílias assim que, no dizer do actual papa, renovarão o Mundo e a Igreja.
José da Costa Saraiva