O Espírito Santo, Mestre interior
O Espírito Santo que o Senhor prometeu enviar aos seus discípulos para que lhes ensinasse toda a verdade que eles então, enquanto Ele falava, ainda não estavam em condições de suportar (...), ensina desde agora aos fiéis, na medida em que cada qual for capaz de entender as coisas espirituais, e acende no coração deles um desejo de conhecer tanto mais vivo quanto mais progride na caridade, graças à qual ama as coisas que conhece e deseja conhecer as que ignora; aquilo, porém, que de algum modo conhece, sabe que não o conhece ainda como só poderão ser conhecidas naquela vida que jamais os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem o coração do homem pode imaginar (1 Cor 2, 9).
E se desde agora, nesta vida, o Mestre interior no-las quisesse dizer, isto é, revelá-las e manifestá-las ao nosso espírito naquele modo com que só então poderão ser conhecidas, a debilidade humana não conseguiria suportar tanto peso. [...]
Mas como se pode não falar de Deus? Quem é que o não nomeia, lendo ou discutindo, interrogando ou respondendo, louvando-o e exaltando-o, seja qual for o modo como dele se fale e até, mesmo, blasfemando-o? E todavia, se bem que todos falem de Deus, quem é que o compreende como deve ser compreendido, ainda que o seu nome esteja sempre na boca de todos e todos oiçam falar dele? Quem poderá alcançá-lo com a penetração da sua mente? Quem jamais viria a saber que Ele é Trindade, se Ele próprio no-lo não tivesse revelado?
(S. Agostinho, In Io. tr. 97, 1